Junho 2021














Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Junho de 2021











Cancro, a promessa de vacinas

     Será possível vacinar contra o cancro? Sim. Já é possível no caso do papiloma vírus ou da hepatite B. Mas os investigadores querem ir mais longe: atacar tumores em estado avançado ou ainda prevenir o surgimento de um cancro, graças a vacinas que estimulam o sistema imunitário. Os ensaios clínicos já começaram.
     É um sonho que talvez permita um dia acabar com o cancro: uma vacina que será capaz de ensinar o nosso sistema imunitário a reconhecer um processo cancerígeno que se está a formar, para o «matar no início». Durante muito tempo considerado algo impossível, esta estratégia que consiste em impedir o aparecimento de um cancro, da mesma forma que se bloqueia uma infeção, conheceu desenvolvimentos promissores nestes últimos anos. De tal maneira, que atualmente o testes clínicos começaram a fornecer os meios ao sistema imunitário para se defender, em pacientes considerados de alto risco de desenvolverem um tumor cancerígeno. Por agora, apenas estão relacionados com um número limitado de pessoas portadoras de cancro do pulmão, da próstata ou da mama, mas teoricamente, nada impede de aplicar esta mesma estratégia a outros cancros. Enquanto esperamos, a vacina já é uma realidade para os casos em que os cancros são provocados por um agente patogénico infecioso. É o caso das infeções do papiloma vírus ou do vírus da hepatite B, que podem provocar lesões que se degeneram, anos mais tarde, em cancro do útero, da garganta, da boca, etc. O exemplo australiano prova-o: a generalização da vacinação entre os jovens adultos, levou a um quase desaparecimento destes cancros. Outras vacinas, desta vez chamadas de terapêuticas, estão a ser desenvolvidas não para impedir o cancro, mas para o combater. Têm sido feitas aproximações de imunoterapia, desenvolvidas para tratar tumores já avançados. Estas são as vias que estão a levar o sonho a tornar-se realidade!                        
                    
Fonte: Sciences et Avenir/La Recherche - junho 2021, n.º 892, p. 26
Hugo Jalinière
(adaptado)



Viver na Terra... ou em Marte


Viver noutros planetas: um cenário para salvar os humanos - ou apenas uma parte deles. 

     A organização não governamental Global Footprint Network avalia o «dia da superação», para saber a data a partir da qual a pegada ecológica da humanidade ultrapassa a cota de recursos naturais existentes anualmente na Terra. Assim, segundo esses cálculos, em 2020, a humanidade começou a viver para lá dos recursos do planeta desde 22 de agosto.
     Estando os recursos sobre-explorados, para continuarmos a habitar a Terra não existem uma infinidade de soluções. Os estudos prospetivos oferecem dois cenários principais, que os acontecimentos atuais nos ajudam a ilustrar.
     O primeiro recai sobre a constante busca do crescimento económico baseado nas tecnologias. Os seus atores não fazem parte dos negacionistas das alterações climáticas ou do caráter limitado dos recursos; eles estão, pelo contrário, conscientes que a humanidade se vai arruinar na Terra. Preferem uma fuga para a frente e colonizar outros planetas (seria necessário o equivalente de 2,5 Terras para manter um modo vida europeu!).
     Se ainda se tratam apenas de promessas, esta ideia já não é uma utopia. No passado dia 18 de fevereiro, pudemos assistir com emoção à aterragem em Marte do robot Perseverance, da NASA, cuja missão é procurar traços de vida nesse planeta. E sabendo que Marte tem fontes de água em forma de gelo fóssil, a vida aí seria possível. O próprio robot enviou-nos uma selfie através da sua conta no Twitter com a seguinte mensagem: Perseverence will get you anywhere («O Perseverence levar-vos-á a qualquer lugar»). Com certeza...
     Mas a beleza das imagens e a proeza científico-tecnológica não podem ocultar que também se trata de uma prefiguração da conquista de mercado no espaço, e no qual Elon Musk é o líder. Este prevê transportar, graças à sua sociedade SpaceX, um milhão de pessoas para o Planeta Vermelho daqui até 2050. Ele até sonha lá morrer.
     Este cenário é o dos mundos fortalezas, da separação das elites. A sobrevivência da humanidade, ou seja dos ricos, passará por outros planetas.
     O segundo cenário visa manter as condições de habitabilidade na Terra. No seu recente livro "Ou suis-je?" (Onde estou?), o sociólogo das ciências Bruno Latour revisita a hipótese de Gaia e apresenta a Terra como um «biofilme no qual estão confinados os Terrestres», uma camada de alguns quilómetros de espessura, em que milhares de milhões de anos de coevolução e interdependência levaram os organismos vivos a construí-la.
     O objetivo é então de reparar a Terra, de a proteger de um aumento da temperatura superior a 1,5ºC, de defender as formas de vida dessa zona crítica e que a economia não para de artificializar, de compatibilizar, de individualizar. Para o fazer, é necessário compreender as nossas ligações, de quê e de quem dependemos.
     Este cenário, em que os seus atores são chamados, por Bruno Latour, de «consertores», e em que a versão otimista é a do «ecocomunitarismo», não recai menos do que a anterior nos recentes conhecimentos científicos. Assim, sabemos agora que os micro-organismos desempenham um papel essencial nos equilíbrios planetários, no estado dos ecossistemas, mas também na ligação ao nosso corpo, que abriga dez vezes mais micróbios que células humanas. Compreender as interações entre os humanos e os não-humanos, imaginar uma vida em conjunto, agir sem a economia, são os desafios colocados às ciências da durabilidade.
     Neste dois projetos, o futuro surge como um território a ser explorado. Mas eles distinguem-se pela definição do humano e pela organização política e social que os sustêm. Poderemos vir a ser um Humano sem ser um Terráqueo?                                 

Fonte: Pour La Science - junho 2021, n.º 524, p. 20
Catherine Aubertin,
economista do ambiente, diretora de investigação no IRD e membro do UMR Paloc
no Museu Nacional de História Natural, em Paris 
(adaptado)


O que posso observar no céu de junho?


8 - Lua no apogeu a 406 227 Km da Terra - 03:00
10 - Eclipse anular do Sol - entre as 9:12 e as 14:11, máximo 11:42
13 - Marte a 3ºS da Lua - 21:00 
21 - Solstício: início do Verão - 04:32
23 - Lua no perigeu a 359 956 Km da Terra  - 10:55
28 - Júpiter a 4ºN da Lua - 20:00

Céu visível às 22:00 horas do dia 1 de junho mostrando o planeta Marte e as estrelas mais brilhantes: Arturo, Capela, Prócion e Vega.


Céu visível às 05:00 horas do dia 15 de junho mostrando os planetas Júpiter e Saturno.






Fases da Lua em junho


10 - às 10h 53min - nova

18 - às 03h 54min - crescente

24 - às 18h 40min - cheia

02 - às 07h 24min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em junho


MERCÚRIO - Será visível, de manhã, por volta do instante do início do crepúsculo civil, a partir de 10 junho. 

VÉNUS - Durante o mês de junho surge como estrela da tarde.

MARTE - Pode ser visto na constelação de Caranguejo durante todo este mês.

JÚPITER - Pode ser visto na constelação de Gémeos, durante a maior parte da noite.

SATURNO Pode ser visto  ao amanhecer durante todo este mês, durante a maior parte da noite.


Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)

DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
27-6-2,304:46:2715°S04:48:3528°SE04:51:3110°ENEvisível
28-6-1,704:00:5117°SE04:01:1717°SE04:03:3210°Evisível
29-6-3,804:48:0720°SO04:50:1887°SE04:53:4110°NEvisível
 

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês



Elon Musk apresenta a sua SpaceX

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)



Imagem do Mês




Mimas: pequena lua com uma grande cratera

        O que quer que tenha atingido Mimas quase o destruiu. O que resta é uma das maiores crateras de impacto numa das menores luas redondas de Saturno. A análise indica que um impacto um pouco maior, teria destruído Mimas completamente. A enorme cratera, chamada Herschel, em homenagem ao descobridor de Mimas em 1789, Sir William Herschel, abrange cerca de 130 quilómetros e está destacada aqui. A baixa massa de Mimas produz uma gravidade superficial suficientemente forte para criar um corpo esférico, mas relativamente fraco para permitir características de superfície relativamente grandes. Mimas é feita principalmente de gelo de água com uma pequena quantidade de rocha - por isso é precisamente descrito como uma grande bola de neve suja. A imagem em destaque foi tirada durante o sobrevoo mais próximo da nave robô Cassini, que  passou por Mimas em 2010, enquanto estava em órbita em redor de Saturno.
Fonte: www.nasa.gov


Livro do Mês

     A partir deste ano vamos iniciar uma nova secção, a do livro do mês. Aqui serão apresentados livros, preferencialmente, de ensaios científicos, sociais, filosóficos, esperando que motivem os nossos "bloggers" a descobri-los.
     



Sinopse

     O que é a fragilidade branca?
     Neste livro pioneiro e oportuno, a educadora antirracista Robin DiAngelo ilumina habilmente o fenómeno da fragilidade branca. Referindo-se às manobras defensivas que as pessoas praticam quando desafiados racialmente, a fragilidade branca é caracterizada por emoções como a raiva, o medo e a culpa, e por comportamentos que incluem a altercação e o silêncio. Estes comportamentos, por sua vez, restabelecem o equilíbrio racial dos brancos e impedem qualquer diálogo inter-racial significativo. Nesta exploração exaustiva, DiAngelo analisa de que modo a fragilidade branca se desenvolve, como protege a desigualdade racial e o que podemos fazer para nos envolvermos de forma mais construtiva. 

Sobre a autora:



Robin DiAngelo (n. - 1956, EUA) é uma académica e professora universitária, além de consultora e formadora em questões de justiça racial e social há mais de vinte anos.
Anteriormente, foi professora titular de Educação Multicultural na Universidade Estatal de Westfield.



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