Dezembro 2024
Ciência Na Frente
Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande
Dezembro de 2024
Um novo tipo de emissão de raios gama observada nas tempestades
Impressão artística da campanha de medição de avião. A cor roxa representa as emissões gama em nuvens de trovoada. |
Desconhecidas até agora, as "cintilações de raios gama" podem ser a causa do desencadeamento de raios.
As nuvens de trovoada não emitem apenas relâmpagos. Elas também são a sede de dois tipos de emissão eletromagnética de alta energia: o primeiro, intenso e rápido, são os flashes de raios gama terrestres (TGF); o segundo, fraco e longo, são brilhos de raios gama. Usando um avião capaz de voar a uma altitude de 20 quilómetros, Martino Marisaldi e Nikolai Østgaard, da Universidade de Bergen, na Noruega, e os seus colegas, descobriram que existe um terceiro tipo de flash de raios gama, conhecido como "flashes de raios gama cintilantes" (FGF). Já em 1924, se sabia que as nuvens de tempestade emitem radiação muito energética. Mas foi apenas em 1981 que os primeiros vislumbres foram medidos por aviões e, em 1994, que o primeiro TGF foi descoberto, graças ao satélite CGRO, normalmente projetado para detetar raios gama espaciais. É por isso que se fala de radiação gama, embora sejam principalmente raios-X (com uma energia e frequência ligeiramente menores do que as emissões gama).
Tais eventos são possibilitados pelos campos elétricos que se desenvolvem em nuvens de tempestade. Os eletrões da radiação cósmica são aí acelerados, causando colisões com moléculas de ar das quais arrancam eletrões. Quando estes últimos (cerca de 1 em 100 000) têm energia suficiente, eles são eficazmente acelerados, por sua vez, e causam novas colisões, criando um fenómeno de avalanche. Estes eletrões propagam-se e são por vezes desviados pelos núcleos dos átomos que compõem as moléculas no ar. Este movimento é acompanhado por uma "radiação de travagem", ou bremsstrahlung em alemão, que corresponde à emissão de radiação eletromagnética de alta energia: fotões de raios-X.
A formação de TGF estará ligada aos relâmpagos. Poderá haver uma área de campo reforçado à volta de um relâmpago, onde ocorreriam mecanismos semelhantes a clarões– mecanismos cujos detalhes não são conhecidos. Para remediar essa falta, Martino Marisaldi, Nikolai Østgaard e os seus colegas, usaram um avião ER-2 da NASA, repleto de equipamentos científicos, para sobrevoar nuvens de tempestade tropical. Após um mês de observação, a colheita de dados recolhidos foi inédita. A campanha registou quase 100 TGF e 300 clarões. Estes eventos são mais frequentes do que se pensava. "A outra descoberta impressionante é a do FGF, que é um tipo de evento que não conhecíamos até agora", nota Sébastien Célestin, físico da Universidade de Orléans. Com uma duração de alguns milissegundos, estes FGF são, portanto, intermédios entre os TGF, que duram cerca de 100 microssegundos, e os clarões, que podem durar dezenas de minutos. A sua intensidade também está localizada entre esses dois tipos de eventos. Algumas dezenas de milissegundos após o aparecimento dos 24 FGF detetados durante a campanha, um relâmpago foi observado. "Como é que os raios são desencadeados é ainda um grande mistério, e esses resultados mostram que os FGF pode ser o mecanismo desencadeador", diz o investigador.
Fonte: Pour la Science, n.º 566 - dezembro 2024, p. 8
Évrard-Ouicem Eljaouhari (adaptado)
Um jato cósmico recorde
Imagem artística de Porfírio, o jato de 23 milhões de anos-luz emitido pelo um buraco negro supermassivo no coração de uma galáxia. Ele penetra nas regiões vazias da teia cósmica. |
É a maior estrutura galática alguma vez observada, abrangendo um total de 23 milhões de anos-luz. Cerca de 140 vezes o diâmetro da Via Láctea! Usando a rede europeia de radiotelescópios Lofar, Martijn Oei, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, e os seus colegas, descobriram este jato de partículas de alta energia emitido por um buraco negro supermassivo no coração de uma galáxia que é vista tal como era quando o Universo tinha 6,3 mil milhões de anos. Batizado de Porfírio, em referência ao rei dos gigantes na mitologia grega, este jato é intrigante por causa do seu tamanho, que excede em muito os de simulações informáticas. Espalha-se muito além da sua galáxia hospedeira para os "vazios cósmicos", as vastas regiões do Universo que são muito pobres em matéria. Aí, seria pouco prejudicado pelo gás e poeira que geralmente limitam o crescimento destes jatos. Isto explicaria, em parte, o tamanho gigantesco de Porfírio. Para além disso, ao aquecer a sua vizinhança cósmica, este jato, e outros do seu género, teriam perturbado a formação de galáxias no decurso da história cósmica.
Fonte: Pour la Science, n.º 566 - dezembro 2024, p. 13
Mathis de Géa (adaptado)
Breves de dezembro
Este é o recorde do maior número primo (um número primo é aquele que é apenas divisível por 1 e por ele próprio) conhecido, estabelecido por um engenheiro californiano e que participou no Great Internet Mersenne Prime Searche. É composto por 41 milhões de algarismos. Foi determinado graças ao computador livre disponível na plataforma mersenne.org. Qualquer um pode tentar. Mas atenção, quanto maiores forem os números, mais difícil é de provar que eles são primos. O recorde anterior datava de 2018...
No próxima dia 24 de dezembro, a sonda Parker Solar Probe ir-se-á aproximar a uma distância recorde do Sol, a apenas 6,1 milhões de quilómetros. Lançada em 2018 pela NASA, este bólide que se desloca a mais de 600 000 Km/h, deve permitir compreender porque é que a coroa solar é centenas de vezes mais quente do que a superfície da estrela.
Na sua procura constante dos frutos, dos quais se alimentam, os gorilas do Oeste deslocam-se frequentemente em grupo, mas só depois de uma espécie de voto expresso por um número de indivíduos suficientes, segundo um estudo recente. «Nós reparámos que os gorilas vocalizavam antes de partir, com o objetivo de se assegurarem que todos estavam de acordo», avançam os investigadores. Um comportamento apenas registado até agora nas suricatas, no cão selvagem e no macaco de Tonkean.
Fonte: Sciences et Avenir, n.º 934 - dezembro 2024
O que posso observar no céu de dezembro?
4 - Auge da chuva de meteoros das psi-Cassiopeia
4 - Lua a 1º1' de Vénus - 22:40
9 - Auge da chuva de meteoros das ómicron-Hidrídeos
9 - Auge da chuva de meteoros das Monocerotídeos
11 - Lua no perigeu a 366 805 Km da Terra - 13:18
14 - Auge da chuva de meteoros das Geminídeos
16 - Auge da chuva de meteoros das Coma Benericídeos
20 - Auge da chuva de meteoros das Leonis Minorídeos
20 - Lua a 2ºN de Regulus - 05:37
21 - Solstício de dezembro - início do inverno - 09:20
22 - Auge da chuva de meteoros das Úrsidas
24 - Lua no apogeu a 400 29 Km da Terra - 07:25
24 - Lua a 0,8ºN de Spica - 19:28
Fases da Lua em dezembro
01 - às 06h 26min - nova
08 - às 15h 27min - crescente
08 - às 15h 27min - crescente
15 - às 09h 02min - cheia
22 - às 22h 18min - minguante
Planetas visíveis a olho nu em dezembro
MERCÚRIO - Pode ser visto a partir do dia 12 no crepúsculo matinal a partir das seis e meia e aparecendo cada dia mais cedo.
VÉNUS - Pode ser visto durante todo este mês ao fim do dia, no crepúsculo, como uma estrela muito brilhante.
MARTE - Pode ser visto toda a noite a partir das vinte e uma horas, gradualmente, vai nascendo mais cedo até ao fim do mês, onde pode ser avistado a partir das dezanove e trinta.
JÚPITER - Pode ser avistado durante toda a noite a partir do fim da tarde, gradualmente, vai nascendo mais cedo.
SATURNO - Pode ser avistado durante a noite até por volta da meia noite indo, gradualmente, nascendo mais cedo.
Fonte: APP Sky Tonight
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Data | Magnitude | Início | Ponto mais alto | Fim | Tipo da passagem | ||||||
(mag) | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | ||
1-12 | -2,6 | 19:08:01 | 10° | ONO | 19:11:13 | 40° | SO | 19:11:24 | 40° | SSO | visível |
2-12 | -3,6 | 18:19:24 | 10° | ONO | 18:22:46 | 73° | SO | 18:25:55 | 11° | SE | visível |
3-12 | -0,7 | 19:08:38 | 10° | O | 19:10:35 | 15° | SO | 19:12:32 | 10° | SSO | visível |
4-12 | -1,3 | 18:19:21 | 10° | ONO | 18:22:10 | 25° | SO | 18:25:00 | 10° | SSE | visível |
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
A nebulosa da Cabeça do Cavalo
Vídeo do Mês
140 VEZES MAIOR QUE A VIA LÁCTEA: DESCOBERTO O MAIOR JATO JÁ EMITIDO POR UM BURACO NEGRO
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Imagem do Mês
A nebulosa da Cabeça do Cavalo
Uma das nebulosas melhor identificáveis no céu, a Nebulosa Cabeça de Cavalo, na constelação de Orion, faz parte de uma grande nuvem molecular escura. Também conhecida como Barnard 33, esta forma incomum foi descoberta pela primeira vez numa placa fotográfica no final de 1800. O brilho vermelho tem origem no hidrogénio que está, predominantemente, atrás da nebulosa, ionizado pela estrela brilhante que lhe está próxima, Sigma Orionis. A escuridão da Cabeça de Cavalo é causada, principalmente, por poeira espessa, embora a parte inferior do pescoço da Cabeça de Cavalo projete uma sombra para a esquerda. As correntes de gás que saem da nebulosa são canalizadas através de um forte campo magnético. Os pontos brilhantes na base da Nebulosa Cabeça de Cavalo são estrelas jovens que estão ainda em processo de formação. A luz leva cerca de 1500 anos para chegar até nós a partir da Nebulosa da Cabeça de Cavalo. Esta imagem foi obtida no Observatório Chilescope, nas montanhas do Chile.
Fonte: www.nasa.gov
Livro do Mês
Sinopse
É sobejamente conhecida a morte do sábio Sócrates, bebendo sem hesitação a taça de cicuta, enquanto explicava em pormenor aos seus amigos o que acontece à alma assim que se separa do corpo. Já Platão, que nos relata o episódio, morreu no dia do seu octogésimo primeiro aniversário, alcançando prodigiosamente com a sua vida um perfeitíssimo número: o nove multiplicado por nove. Fins bem diferentes tiveram o dissoluto imperador Heliogábalo, encontrado escondido numa latrina pela guarda pretoriana e cujo corpo nu e decepado foi arrastado pelas ruas de Roma e atirado da Ponte Emília para o Tibre, e o grande orador Cícero, cuja cabeça e mão direita - com a qual havia escrito as Filípicas - foi ordenado que fossem levadas ao próprio imperador Augusto, para grande regozijo deste. Eis alguns dos casos exemplares de mortes admiráveis que a Antiguidade Grega e Latina nos deixou.
Livro singular, fascinante e poético, Mortes Fabulosas dos Antigos conjuga erudição e arte de narrar, reunindo, como num repertório, tão rigoroso quanto fabuloso, mortes de poetas, pensadores, atletas, reis, tiranos, de povos, cidades e exércitos inteiros, mas também mortes por homicídios selvagens, pela mão de familiares, por suicídio a contragosto, repentinas, ou mesmo aparentes, da literatura clássica.
Sobre o autor:
Dino Baldi, ensaísta e tradutor de textos clássicos, é investigador de Estudos Clássicos na Universidade de Florença. Além de Mortes Fabulosas dos Antigos, publicou, entre outras obras de divulgação, Oracoli, santuari e altri prodigi (2013), Vite efferate di papi (2015), È pericoloso essere felici. L’invidia degli dei in Grecia (2023), e traduções comentadas de Anabase, de Xenofonte, ou Da Germania, de Tácito.
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