Outubro 2024

                                                                






Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Outubro de 2024













Terá o sistema solar colidido com uma nuvem interestelar?

As simulações mostram (à esquerda) e no círculo (à direita) imagens da helioesfera quando se encontrou com uma fria e densa nuvem (a órbita da Terra está a vermelho).  

Várias amostras da Terra e da Lua revelam algo que não devia lá estar: um isótopo radioativo do ferro, conhecido como ferro-60. Este isótopo não é produzido nem na Terra nem na Lua, e a sua meia-vida é de 2,6 milhões de anos - demasiado curto para ser algo que tenha sobrado dos primeiros anos do sistema solar. Para além disso, uma rigorosa datação mostra dois recentes e inexplicáveis picos de ferro-60 - um por volta dos 2,5 milhões de anos e outro cerca dos 7 milhões de anos.
As supernovas produzem ferro-60, mas para explicar as observações, teriam de ter explodido suficientemente perto para lançarem esses isótopos, mas não tão perto que causassem uma extinção em massa. Apresentando um cenário alternativo, Merav Opher (universidade de Boston) e os seus colegas, sugeriram em 10 de junho, na revista Nature AStronomy, que um encontro temporário com uma nuvem de pó fria enfraqueceria a estrutura magnética protetora do sistema solar, conhecida como heliosfera.
A heliosfera é uma bolha gigante magnética à volta do Sol que protege a Terra de partículas interestelares.
Devido ao movimento do Sol através do meio interestelar, a heliosfera tem a forma de um cometa, comprimida na frente e com uma cauda na traseira. Atualmente, o constante fluxo do vento solar empurra o limite mais próximo da heliosfera para as 120 unidades astronómicas. (As sondas Voyager 1 e 2 atravessaram este limite da heliosfera em 2012 e 2018 respetivamente.)
Mas se uma vasta e densa nuvem de pó e gás fria chocasse com o sistema solar, a equipa de Opher argumenta que esta poderia ter colapsado a heliosfera, expondo o nosso planeta aos elementos interestelares.
A equipa indicou umas nuvens em forma de costela, na constelação do Lince, que parecem estar a afastar-se de nós mesmo à nossa frente. Usando um modelo informático para simular a colisão há um par de milhões de anos atrás, Opher e a sua equipa mostraram que nesta hipótese a heliosfera ter-se-ia encolhido a umas meras 0,22 unidades astronómicas - dentro da órbita de Mercúrio à volta do Sol - expondo a Terra ao ferro-60 e outras partículas, durante três quartos em cada ano.
"A ideia é interessante e provocadora", comenta Brian Fields (universidade do Illinois, Urbana-Champaign), um dos cientistas por trás do cenário da supernova. Contudo, não sabemos exatamente a direção do movimento das nuvens e, por isso, é muito difícil dizer ainda se a colisão aconteceu realmente. Também desconhecemos o tamanho total das nuvens. Enquanto atualmente elas são demasiado pequenas para lançarem ferro-60 durante um milhão de anos, podem contudo terem sido maiores no passado. Independentemente do cenário - supernova ou nuvens interestelares - Fields acha que é muito bom ter-se múltiplas ideias para serem testadas. "Esta é a maneira saudável da ciência progredir", diz Fields.

Fonte: Sky & Telescope, Vol. 148, n.º 4 - outubro 2024, p. 8-9

Jan Hattenbach
(adaptado)

     

O misterioso sinal «Wow!» finalmente elucidado

Intrigado pela intensidade do sinal rádio, Jerry Ehman contornou o seu código a vermelho e escreveu a célebre interjeição que deu o seu nome a esse sinal.  


     Não vem de uma civilização extraterrestre, mas corresponde a um fenómeno natural observado pela primeira vez.

     Em 1977, o radiotelescópio da universidade de Ohio (E.U.A.) gravou um estranho sinal rádio com uma potência e duração excecionais. Ao descobri-lo nos dados, o astrónomo Jerry Ehman escreveu «Wow!» na margem. Com efeito, esta frequência corresponderia à do hidrogénio neutro, teoricamente entendido como sendo aquele que seria utilizado por uma civilização extraterrestre para comunicar. Este sinal nunca mais foi replicado. Entretanto, depois de terem sido analisados cuidadosamente os dados registados entre 2017 e 2020, pelo radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico, os investigadores detetaram emissões semelhantes, «facilmente identificáveis como sendo o resultado de nuvens interestelares de hidrogénio frio na galáxia», explicam-nos. Segundo eles, o sinal «Wow!» seria, na verdade, o resultado de um excecional alinhamento cósmico: uma nuvem de hidrogénio teria sido brevemente iluminada pelo raio de uma fonte radio poderosa que estaria por trás dela, produzindo um efeito tipo laser de ondas radio, conhecido como maser.. 
     
Fonte: Science et Avenir, n.º 932 - outubro 2024, p. 10

S. R.
(adaptado)


Breves de outubro


Experiências realizadas em laboratório sugerem que a água da chuva contribuiu na formação das primeiras paredes protocelulares, que permitiram encapsular os fios de ARN que flutuavam numa sopa primordial, há 3,8 mil milhões de anos na Terra. Uma etapa crucial para este material genético em bruto formar as primeiras células capazes de evoluir.


Corais, peixes, moluscos, esponjas e crustáceos... 20 novas espécies das zonas extremas foram identificadas aquando de uma expedição do instituto oceanográfico Schmidt, nos abismos da dorsal de Nazca, uma cadeia de montanhas submarinas situada no oceano Pacífico, ao largo do Peru.


Lavar as maçãs não é suficiente para eliminar os resíduos de pesticidas  presentes na casca do fruto. Com efeito, com a ajuda de um novo método de análise, uma equipa chinesa conseguiu identificar vestígios de pesticidas na camada da polpa mais externa dos frutos, sobre os quais foram pulverizados dois pesticidas. Vestígios foram encontrados na polpa dos frutos, a menos de meio milímetro da casca..

Fonte: Sciences et Avenir, n.º 932 - outubro 2024 



O que posso observar no céu de outubro?



1 - Auge da chuva de meteoros das Sextantids Diurnas
2 - Lua no apogeu a 408 306 Km da Terra - 20:40
5 - Auge da chuva de meteoros da Camelopardalids de Outubro
7 - Conjunção entre a Lua e Antares - 19:48
8 - Auge da chuva de meteoros das Dracónidas de Outubro
11 - Auge da chuva de meteoros das lambda-Aurigídeos de Outubro
14 - Conjunção entre a Lua e Saturno - 19:05
14 - Ocultação de Saturno pela Lua - 21:11
17 - Lua no perigeu a 351 971 Km da Terra - 01:46
18 - Auge da chuva de meteoros das epsilon- Geminídeos
19 - Conjunção da Lua com as Plêiades - 20:59
21 - Auge da chuva de meteoros das Oriónidas
23 - Conjunção da Lua com Marte - 20:55
24 - Auge da chuva de meteoros das Leo Minorídeos
26 - Conjunção entre Vénus e Antares - 00:43
29 - Lua no apogeu a 411 077 Km da Terra - 22:50
 

 




Fases da Lua em outubro


                02 - às 19h 49min - nova

                10 - às 19h 55min - crescente

                17 - às 12h 26min - cheia
       
                24 - às 09h 03min - minguante
                
          









Planetas visíveis a olho nu em outubro


MERCÚRIO  Pode ser visto até ao dia 18, durante o crepúsculo matinal, a partir das 5:37, aparecendo cada vez mais tarde ao longo do mês, quando nascerá às 06:21. 

VÉNUS - Pode ser visto durante todo este mês a partir das nove da manhã (poderá ser de difícil visualização por o sol já estar alto). 
 
MARTE Pode ser visto toda a noite a partir das 01:09 horas, no dia 1 e, gradualmente, vai nascendo mais cedo até ao fim do mês. 

JÚPITER Pode ser avistado a partir das 00:36 horas, do dia 1 e, gradualmente, vai nascendo mais cedo até ao dia 11. Depois reaparecerá no dia 28 a partir das 22:54. 

SATURNO Pode ser avistado a partir das 20:25 horas, do dia 1 e, gradualmente, vai nascendo mais cedo até ao fim do mês. 

Fonte: APP Sky Tonight




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)

DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
16-10-1,606:53:1510°SSO06:56:0426°SE06:58:5510°ENEvisível
17-10-0,906:05:2810°SSE06:07:2815°SE06:09:2910°Evisível
18-10-3,706:51:4210°SO06:54:5676°SE06:58:1610°ENEvisível
19-10-2,806:05:2136°S06:05:5841°SE06:09:0810°ENEvisível
20-10-0,705:18:4315°E05:18:4315°E05:19:3910°Evisível
20-10-3,206:51:3620°O06:53:2842°NNO06:56:4010°NEvisível
 

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês





O que é a computação quântica?

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês




Aproxima-se o cometa Tsuchinshan-ATLAS

         O que acontecerá quando este cometa, já brilhante, se aproximar da Terra? As previsões mais otimistas revelam que o cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan–ATLAS) se tornará, brevemente, visível a olho nu - embora o brilho dos cometas seja notoriamente difícil de prever e este cometa pode até partir-se com a luz quente do Sol. Aquilo que agora se sabe é que o cometa está inesperadamente brilhante e a passar o mais próximo do Sol (0,39 UA) e mais próximo da Terra (0,47 UA), no início do próximo mês (outubro). Esta imagem foi obtida no final de maio quando o cometa Tsuchinshan-ATLAS, descoberto apenas no ano passado, passou quase em frente de duas galáxias distantes. O cometa pode agora ser visto, com binóculos, no céu da alvorada, nascendo pouco antes do Sol, enquanto nas próximas semanas, ficará mais brilhante à medida que se move para o céu do início da noite.

Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês



Sinopse

Ao longo dos últimos cem mil anos, os seres humanos acumularam um enorme poder. Contudo, apesar de todas as nossas descobertas, invenções e conquistas, vivemos uma crise existencial. O mundo está à beira de um colapso ecológico. A desinformação abunda. Avançamos rápida e apressadamente para a era da inteligência artificial - uma nova rede de informação diferente de todas as anteriores, que pode inclusivamente representar uma séria ameaça para a própria humanidade. Se somos assim tão sábios, porque somos tão autodestrutivos?
Ao contrário das respostas tradicionais - científicas, ideológicas ou culturais -, que se concentram em encontrar a raiz do problema na nossa psicologia, Nexus analisa antes o modo como o fluxo de informação moldou o ser humano e o mundo. Começando na Idade da Pedra, passando pela Bíblia, a caça às bruxas do início da Idade Moderna, o estalinismo e o nazismo, até ao ressurgimento hodierno do populismo, Yuval Noah Harari convida-nos neste seu novo livro, original e de grande fôlego, a refletir sobre a relação complexa entre informação e verdade, burocracia e mitologia, sabedoria e poder.
Ao mesmo tempo, escrutina as formas em que as diferentes sociedades e os diferentes sistemas políticos usaram a informação em seu favor, tanto para o bem como para o mal, e aborda as escolhas urgentes que temos pela frente dada a ameaça da inteligência não-humana contra a nossa existência.
A informação não é a matéria-prima da verdade, nem tão-pouco uma simples arma. Nexus aborda o terreno intermédio entre estes dois extremos, redescobrindo assim a nossa humanidade comum.

Sobre o autor:




Yuval Noah Harari é historiador, investigador e professor de História do Mundo na Universidade Hebraica de Jerusalém, considerada uma das melhores instituições de ensino a nível internacional. Doutorado em História pela Universidade de Oxford, Harari tem-se dedicado ao estudo e ensino da História, encorajando os seus alunos a questionar os conhecimentos e ideias que têm por garantidos sobre a vida, o mundo e a humanidade.

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