outubro 2019










Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Outubro de 2019
Não esquecer
A 27 de outubro, Portugal muda da hora de verão para a hora de Inverno, isto é, o relógio recua uma hora das duas da manhã para a uma da manhã



O crânio do suposto antepassado do nosso alegado antepassado

     O sítio arqueológico de Woranso-Mille, na Etiópia, era muito promissor para os antropólogos. Transformou-se num local ainda maior: uma equipa orientada por Yohannes Haile-Selassie, do Museu de História Natural de Cleveland, no Ohio, exumou um crânio completo de um australopitecus com uma idade de 3,8 milhões de anos (foto). Segundo os detalhes do seu maxilar e da sua dentição, os investigadores atribuiram a esse fóssil, classificado MRD, o Australopitecus anamensis, uma espécie conhecida até agora apenas por fragmentos de ossos longos, uma mandíbula e dentes, com uma idade de 3,9 a 4,2 milhões de anos.
     Se esta identificação estiver correta, então descobriu-se a cara e a calote craniana do A. anamensis, um australopitecus que até agora passava por ser o antepassado do A. afarensis, a espécie da célebre Lucy. O estudo morfológico mostra que o MRD apresenta numerosos traços primitivos, nomeadamente uma calote craniana evocando a do Toumaï, aliás Sahelanthropus tchadensis (7 milhões de anos). Com uma estimativa entre 365-370 centímetros cúbicos, a capacidade craniana do MRD é muito próxima da do Toumaï, enquanto que o A. afarensis é um pouco maior (380 a 430 centímetros cúbicos); a capacidade craniana da mais antiga forma humana, Homo habilis (2,1 milhões de anos) é ainda maior (660 centímetros cúbicos). As características da face - nomeadamente a forma da zona postorbital e a posição em altura do masseter, um poderoso músculo do aparelho mastigador - são partilhados em diferentes graus pelos hominídeos (a linhagem Toumaï-ardipitecus-australopitecos-Homo), estando aí integrados os mais antigos, Toumaï e Ardipitecus ramidus (4,4 milhões de anos). Numa palavra, o MRD, isto é o A. anamensis, representa uma forma intermédia entre os hominídios antigos e primitivos e o A. afarensis.
     Contudo, os investigadores sublinham que a datação de um desses fósseis (o chamado BEL-VP-1/1) do A. afarensis (3,9 milhões de anos) prova que «o A. Afarensis e o A. anamensis foram contemporâneos, pelo menos, durante 100 000 anos.» Estranho, se o A. anamensis for suposto ser o antepassado do A. afarensis... Mas para Yohannes Haili-Selassie e os seus colegas, a tese de que a espécie da Lucy teria surgido do A. anamensis permanece plausível: um pequeno grupo de A. anamensis ter-se-á isolado geneticamente e poderá ter evoluído no A. afarensis coabitando com a restante população de A. anamensis. Sem surpresa, outros investigadores acham essa tese muito rebuscada. Apenas uma única coisa é certa: durante os 4 a 5 milhões de anos que separam o Tomaï do australopiteco grácil (talvez o A. afarensis ou o A. gahri) um destes evolui para o Homo e a África fundiu hominídeos próximos e diferentes.                      

Fonte: Pour La Science - outubro 2019, n.º 504, pp. 10 e 11  
François Savatier (adaptado)


        

Duas capas da invisibilidade contra as ondas do mar


Os meta-materiais inspiram soluções para proteger instalações no mar e nos portos, ou ainda para reduzir a esteira de um navio

       Desde há quinze anos que os físicos sabem manipular ondas eletromagnéticas de tal modo que conseguem contornar um objeto sem serem perturbadas... como se o objeto não estivesse lá, o que, em suma, o torna invisível! Este tipo de dispositivos foram construídos com resultados espetaculares. O seu princípio recai sobre os meta-materiais: estes, são materiais artificiais em que o volume é estruturado numa escala inferior à do comprimento de onda, das ondas eletromagnéticas utilizadas, o que lhe confere propriedades exóticas (tal como um índice de refração negativo). Rapidamente, a ideia dos meta-materiais foi aplicada a outros tipos de ondas. É assim possível fazer-se capas de invisibilidade térmica, acústica ou mesmo hidrodinâmica. Duas equipas, uma chinesa e outra coreana, acabam de conceber sistemas que são protegidos das ondas marítimas, isto é, que escondem os objetos do impacto das vagas.
     A ideia de proteger uma zona contra as ondas, graças aos meta-materiais, não é nova. Já em 2008, Stefan Enoch e Sébastian Guenneau, do Instituto Fresnel, em Marselha, e os seus colegas, imaginaram um dispositivo astucioso que permite controlar a trajetória das ondas, na hipótese de um fluido não viscoso. Tratava-se de um espaço circular, cercado por sete filas concêntricas espetadas. A geometria exata do sistema foi escolhida para que as vagas interfiram de maneira que a sua amplitude seja nula na parte central e que não fossem perturbadas no exterior do dispositivo.
     Sistemas deste tipo serão eficazes para proteger as estruturas no mar, tais como as eólicas ou as plataformas petrolíferas, bem como os portos nas costas. Podem também servir para criar navios energicamente mais económicos. É sobre esta última ideia que trabalharam Juhyuk Park, da universidade de Seul, e os seus colegas. Estes investigadores utilizaram meta-materiais para eliminar a esteira que se forma por trás de uma estrutura fixa ou num navio (o que obriga a consumir mais combustível para se deslocar para a frente). Com uma espécie de capa da invisibilidade hidrodinâmica, seria como se a estrutura ou o navio fossem transparentes ao fluxo. Partindo da situação de um corrimento de um fluido viscoso chocando com um objeto cilíndrico, os investigadores coreanos conceberam um dispositivo envolvendo o cilindro com várias camadas concêntricas para formar uma superfície microestruturada, semelhante à da equipa de Stefan Enoch. Graças a simulações informáticas e experimentações, demonstraram que a esteira desaparecia completamente.
     Siyuan Zou, da universidade de Zhejiang, na China, e os seus colaboradores exploraram uma pista diferente. Foram inspirados pelos meta-materiais com gradiente de índice utilizados nas guias das ondas eletromagnéticas. Transpondo-os para o caso das vagas, este dispositivo acaba por modular a profundidade da água num canal com longas barras paralelas colocadas no fundo. Ao ajustar o perfil destas barras, os investigadores modulam a velocidade das ondas à superfície reduzindo a sua amplitude. Colocado num canal de acesso a um porto, um sistema deste tipo protegeria os navios. Falta testar em situação real estas duas ideias de capas de invisibilidade hidrodinâmica.



Fonte:  Pour La Science - outubro 2019, n.º 504, p. 16
Sean Bailly (adaptado)




O que posso observar no céu de outubro?



3 - Vénus a 3º N de Espiga - 02:00
5 - Lua a 0,3º S de Saturno - 22:00
10 - Lua no apogeu a 405 899 Km da Terra - 19:29
21 - Pico da chuva de meteoros das Leónidas
26 - Lua no perigeu a 361 311 Km da Terra - 11:39
29 - Mercúrio a 1,4º N de Espiga - 00:00
29 - Lua a 6º N de Mercúrio - 23:00



Céu visível às 20:30 horas do dia 1 de outubro em Lisboa mostrando os planetas Júpiter e Saturno.




Céu visível às 07:00 horas do dia 15 de outubro em Lisboa mostrando o planeta Marte e as estrelas mais brilhantes Sírio, Capela, Rígel, Prócion, Betelgeuse e Aldebarã.





Fases da Lua em outubro


28 - às 03h 38min - nova

05 - às 17h 47min - crescente

13 - 22h 08min - cheia 

  21 - às 13h 39min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em outubro

MERCÚRIO - Poderá ser visto somente próximo do horizonte, a leste, antes do nascimento do Sol ou a oeste, depois do ocaso do Sol. Será visível de tarde, por volta do instante do fim do crepúsculo civil, entre 15 setembro e 6 de novembro.

VÉNUS - Pode ser visto como a estrela da tarde.

MARTE - Pode ser visto a partir da terceira semana de outubro, na constelação de Virgem. 

JÚPITER - Neste mês passa a ser visível apenas ao anoitecer.

SATURNO - É visível toda a noite, na constelação de Sagitário.


Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)

DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
13-10-0,619:32:1710°OSO19:33:4412°SO19:35:1210°SSOvisível
22-10-1,007:21:5910°S07:24:3320°SE07:27:0810°Evisível

    

Como usar esta grelha:


Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês




Metamateriais


(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)



Imagem do Mês




MyCn 18: a nebulosa planetária da ampulheta

         Conseguem ver a forma de ampulheta desta nebulosa... ou será que ela é que vos está a ver? Se repararem, os anéis da MyCn 18 formam os contornos de uma ampulheta (apesar de ser uma ampulheta, pouco comum, com um olho no centro). De qualquer modo, as areias do tempo estão a cair para a estrela central desta nebulosa planetária com forma de ampulheta. Com o seu combustível nuclear esgotado, esta breve fase terminal e espetacular da vida duma estrela do tipo do Sol, ocorre quando as suas camadas exteriores são ejetadas - o seu núcleo começa a arrefecer, transformando-se numa anã branca. Em 1995, os astrónomos usaram o Telescópio Espacial Hubble (HST) para fazerem uma série de imagens de nebulosas planetárias, incluindo a desta foto. Na imagem podemos ver delicados anéis de colorido gás brilhante (vermelho para o nitrogénio; verde para o hidrogénio e azul para o oxigénio) formando as ténues paredes desta ampulheta. A nitidez desta foto, sem precedentes, do Hubble, revelaram detalhes surpreendentes do processo de ejeção da nebulosa e que ajudaram a resolver os espetaculares mistérios das complexas formas e simetrias das nebulosas planetárias como a MyCn 18              
Fonte: www.nasa.gov

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