Julho 2020








Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Julho de 2020





Estamos em estado de alerta.
O vírus ainda anda por aí e não há vacina... ainda. 
Não descuidem a distanciamento social, a lavagem das mãos e o uso de máscara em locais públicos fechados. 


Estaremos a dar um novo passo na assimetria matéria-antimatéria?


Imagem do interior da cuba do detetor de neutrinos Super-Kamiokande utilizado na experiência T2K

     Porque é que o Universo tem alguma coisa em vez do nada? Sob este tipo de reflexões filosóficas, esta questão também incomoda os cosmólogos desde há décadas. O modelo do Big Bang, que descreve o nascimento do Universo e a sua evolução, não consegue explicar porque é que o mundo é feito de matéria e não de antimatéria, ou mesmo de nada. Entre todas as pistas exploradas para tentar encontrar uma resposta, a chave talvez se esconda nas diferenças entre os neutrinos e os seus
     Um ponto particularmente surpreendente do modelo do Big Bang é que nos primeiros instantes do Universo, ter-se-á formado 50% da matéria e 50% da antimatéria, em proporções exatamente iguais. Mas então onde se esconde a antimatéria?  Provavelmente desapareceu. Com efeito, quando uma partícula e a sua antipartícula se encontram, aniquilam-se emitindo fotões. Mas no Universo primordial, este encontro «explosivo» devia ter levado à aniquilação completa de toda a matéria e antimatéria do cosmos. O Universo deveria possuir unicamente fotões, as partículas da luz, o que teria sido muito menos interessante.
     A aniquilação primordial aconteceu na realidade. Os cosmólogos constataram que a densidade média de partículas de matéria no Universo é dez vezes menos do que a dos fotões. Esta diferença é provavelmente o traço residual da destruição maciça do Universo primordial. Mas esta realidade sugere também que um pequeno excesso de matéria escapou ao cataclismo e constitui atualmente o mundo que nos envolve. Fica por explicar porque é que houve um excesso de matéria...
     Para responder a esta questão, o físico russo Andrei Sakharov mostrou, em 1967, que o mecanismo capaz de criar uma tal assimetria entre a matéria e a antimatéria deveria incluir três ingredientes essenciais. Um deles implica que as partículas e as antipartículas não sigam as mesmas regras e violem aquilo que se chama a «simetria CP» (CP para «carga-paridade»). O modelo standard da física das partículas integra violações desta simetria, mas elas são demasiado fracas para explicarem o conteúdo atual do Universo.
     A resposta poderá vir dos neutrinos, as partículas estranhas que existem em três tipos e que são capazes de «oscilar»: eles passam espontaneamente de um tipo de neutrino para outro. A experiência
     

Fonte: julho 2020, n.º 513, p. 8  
Sean Bailly, (adaptado)


     

A cocaína manipula epigeneticamente o cérebro

A dopamina é um neurotransmissor notoriamente implicado nos circuitos de recompensa. Um novo estudo mostrou o seu papel epigenético nos neurónios. 

       Porque é que o risco de recaída persiste durante tanto tempo após o desmame da cocaína? Ashley Lepack e a sua equipa, do hospital do Monte Sinai, em Nova Iorque, e da Universidade do Estado de Nova Iorque, em Búfalo, dão uma resposta: acabam de demonstrar que nos ratos que foram ensinados a autoadministrar cocaína, seguido de um período de abstinência, leva a modificações epigenéticas no interior dos neurónios que produzem a dopamina.
     A cocaína é conhecida por aumentar a neurotransmissão da dopamina nas zonas cerebrais da recompensa. Esta droga bloqueia as bombas de recaptura da dopamina na superfície dos neurónios. O neurotransmissor acumula-se no meio extracelular (na sinapse), e é este excesso de dopamina, na sinapse, que amplifica o seu efeito e produz a euforia associada ao uso da cocaína.
     Durante o desmame, a dopamina desempenhará um outro papel totalmente inesperado. No interior dos neurónios ela fixa-se maciçamente nalgumas histonas, que são proteínas à volta das quais se enrola o ADN e que permitem a sua compactação no interior do núcleo celular. Ao ligarem-se às histonas, algumas moléculas são conhecidas por modularem a compactação do ADN e agirem sobre outras funções das histonas, o que vai influenciar a expressão dos genes. A isto chama-se «modificação epigenética». O estudo revela que a dopamina terá esse tipo de influência epigenética.
     Os ratos que foram treinados a se autoadministrarem com cocaína e, depois, lhes foi retirada, apresentam menos histonas «dopaminiladas» nos neurónios produtores de dopamina do que os ratos controlados. Entretanto, após trinta dias de desmame, a proporção destas histonas ultrapassou a dos ratos controlados e perturbou a expressão dos genes nos neurónios em causa.
     Ao reduzir a proporção de histonas dopaminiladas durante  o desmame, os investigadores identificaram esses genes. Alguns deles regulam a capacidade dos neurónios de comunicarem entre eles, outros estão implicados no vício da droga. Por outro lado, o modelo animal sugere que a modificação epigenética aumenta a libertação de dopamina nas sinapses. Um comportamento ativo na procura de droga parece também diretamente ligado a esta modificação epigenética, já que é fortemente reduzido quando a proporção de histonas dopaminiladas é reduzida.
     Esta cascata de acontecimentos ligada ao desmame, pelo contrário, não se produziu nos ratos que tiveram um acesso passivo à cocaína. «Suprimir a cocaína, qualquer que seja o modo de administração inicial, deveria ter a mesma consequência, mas parece que não é isso que acontece. A regulação do fenómeno promete ser complexo», realça Jean-Antoine Girault, do instituto de Fer, em Moulin (Inserm e Sorbonne Université). Com efeito, ainda faltam ser esclarecidas numerosas questões sobre os mecanismos em jogo. Nomeadamente, a mesma equipa descobriu um processo similar com outro neurotransmissor, a serotonina. Seria interessante saber se essas modificações epigenéticas pelos neurotransmissores serão apenas pontuais ou se revelam um mecanismo muito mais generalizado de regulação da expressão genética e da função celular.     
         
Fonte: julho 2020, n.º 513, p. 12  
Noëlle Guillon (adaptado)




O que posso observar no céu de julho?


2 - Terra no afélio a 152 milhões e 83 mil quilómetros do Sol - 13:00
5 - Eclipse lunar penumbral - 05:44
5 - Lua a 1,9ºS de Júpiter - 23:00
11 - Lua a 2ºS de Marte - 21:00 
12 - Lua no apogeu a 404 200 Km da Terra - 20:27
19 - Lua a 4ºN de Mercúrio - 05:00
25 - Lua no perigeu a 368 361 Km da Terra - 06:02
29 - Pico da chuva de meteoros de Delta Aquáridas do Sul



Céu visível às 22:30 horas do dia 1 de julho em Lisboa mostrando os planetas Júpiter e Saturno.



Céu visível às 05:30 horas do dia 15 de julho em Lisboa mostrando todos os planetas visíveis a olho nu: Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno.




Fases da Lua em julho


20 - às 18h 33min - nova

27 - às 13h 32min - crescente

05 - 05h 44min - cheia 

  13 - às 00h 29min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em junho 


MERCÚRIO - Poderá ser visto somente próximo do horizonte, a leste, antes do nascimento do Sol ou a oeste, depois do ocaso do Sol. Será visível, de manhã, por volta do começo do crepúsculo civil, a partir de 10 de julho. 

VÉNUS - Pode ser visto como a estrela da manhã na constelação de Touro.

MARTE - Pode ser visto na constelação da Baleia no início deste mês e no final do mesmo volta para a constelação de Peixes. 

JÚPITER - Pode ser visto durante toda a noite na constelação de Sagitário. 

SATURNO - Pode ser visto na constelação de Sagitário durante toda a noite. 

Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
30-7-3,622:32:4910°NO22:36:1064°NNE22:37:0642°Evisível
31-7-2,821:45:1810°NO21:48:3140°NNE21:51:1313°Evisível
31-7-1,723:22:2210°ONO23:24:0921°OSO23:24:0921°OSOvisível
1-8-3,122:34:2910°ONO22:37:4243°SO22:38:1938°Svisível
2-8-3,721:46:4710°ONO21:50:0976°SO21:52:3218°SEvisível
3-8-1,422:36:5710°O22:38:5715°SO22:39:4514°SSOvisível
4-8-2,021:48:3910°ONO21:51:2925°SO21:54:0611°Svisível
 
Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: 



Vídeo do Mês




O que é a antimatéria?


(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "



Imagem do Mês




A brilhante nebulosa planetária NGC 7027 vista a partir do Hubble

         O que terá criado esta nebulosa planetária tão pouco comum? A NGC 7027 é uma das mais pequenas e brilhantes nebulosas planetárias conhecidas e com uma das formas mais incomuns. Dada a sua taxa de expansão, a NGC 7027 começou a expandir-se, tal como é vista a partir da Terra, há cerca de 600 anos. Na maior parte da sua história, a nebulosa planetária expulsou camadas, como se vê em azul na imagem. Atualmente, no entanto, por razões desconhecidas, começou a ejetar gás e poeiras (cor vermelha) em direções específicas, que criaram um novo padrão que parece ter quatro cantos. Estas camadas e padrões foram mapeados com um detalhe espantoso pelas imagens recentes do Wide Field Camera 3 a bordo do Telescópio Espacial Hubble. É desconhecido o que existe no centro da nebulosa, havendo uma hipótese que defende um sistema estelar binário fechado, onde uma estrela lança gás num disco errático que orbita uma outra estrela. A NGC 7027, que se encontra a 3000 anos-luz de distância da Terra, foi descoberta pela primeira vez em 1878 e pode ser vista com um telescópio amador, na direção da constelação do Cisne. 
Fonte: www.nasa.gov

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