Dezembro 2025

                                                                       






Dezembro de 2025













Uma rede de neurónios composta por "fitas" de ADN

Numa solução líquida, os investigadores introduzem fios de ADN que se emparelham mais ou menos fortemente. Quando novos fios são introduzidos, desencadeiam alterações entre os pares. Se os fios forem escolhidos de forma adequada, é possível realizar um cálculo. Aqui, os dois investigadores criaram uma rede neural capaz de reconhecer números manuscritos.

O computador de ADN avança um passo com a primeira rede neural capaz de aprender: inteligência artificial programada com a molécula da vida.


    A informática que usamos no quotidiano baseia-se inteiramente na eletrónica. No entanto, na década de 1990, os investigadores imaginaram computadores bioquímicos, baseados nas propriedades das fitas de ADN. Recentemente, Kevin Cherry e Lulu Qian, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos, expandiram os limites desta informática molecular: desenvolveram uma rede neuronal inteiramente composta por fitas de ADN capaz de aprender a diferenciar e reconhecer símbolos manuscritos. «Isto não tem muito a ver com a vida», alerta Nicolas Lobato-Dauzier, do Laboratório Jean Perrin, em Paris. «As propriedades da molécula de ADN são desviadas do seu papel inicial e usadas como ferramentas de engenharia.» Numa célula, o ADN organiza-se em pares de fitas cujas sequências são complementares e o código genético permite a síntese de proteínas. A informática de ADN explora apenas a propriedade de emparelhamento. Para isso, os investigadores sintetizam fitas variando a sua complementaridade: fitas pouco complementares ligam-se fracamente e, inversamente, fitas muito complementares ligam-se fortemente. Qual é a utilidade desta variabilidade? Um programa de informática de ADN corresponde a um tubo de ensaio contendo em solução um conjunto de fitas emparelhadas mais ou menos fortemente. Quando se introduzem novas fitas – as entradas do cálculo –, estas separam pares pouco complementares e emparelham-se fortemente com uma das duas fitas. A fita libertada emparelha depois noutro local e provoca, por sua vez, a separação de outro par, desencadeando uma cascata de reações. Este método, chamado de «deslocamento de fitas», é suficiente para recriar as funções fundamentais de um computador para executar algoritmos. Quando a solução atinge um estado estável, o cálculo está concluído. As fitas que permanecem livres constituem o resultado do cálculo. Usando este princípio, Kevin Cherry e Lulu Qian construíram um programa de rede neuronal, uma versão simplificada das inteligências artificiais de reconhecimento de imagem atuais, que envolve cerca de 1 200 sequências de ADN diferentes. Esta rede recebe 100 sequências de ADN como entrada, tal como os 100 píxeis de uma imagem que representa um número escrito à mão. A concentração de cada sequência introduzida na solução indica se o píxel é mais ou menos escuro. Após uma fase de treino, os investigadores conseguiram que a sua rede aprendesse a comparar dois números. Trata-se do primeiro programa deste tipo capaz de aprender. «A informática de ADN é lenta», acentua Nicolas Lobato-Dauzier, «nunca substituirá os computadores atuais.» Segundo o investigador, os cálculos bioquímicos têm utilidade para processar dados biológicos, especialmente na área do diagnóstico. «Já estamos na fase de provas de conceito para a deteção de cancros», precisa ele. Ao dotar a informática de ADN de capacidades de aprendizagem, Kevin Cherry e Lulu Qian abrem o caminho para programas capazes, no futuro, de aperfeiçoar o reconhecimento de assinaturas moleculares de doenças ao longo das análises.

Fonte: Pour la Science, n.º 578, dezembro de 2025, p. 8
Pierre Giraudeau  (adaptado)


   
Quando chove no Sol



   Não são gotículas de água, como na Terra, mas plasma. Esta matéria ionizada acumula-se na coroa solar, cuja temperatura é da ordem do milhão de graus (quase 200 vezes mais quente do que a superfície da estrela!). Mas por vezes, ao nível das regiões ativas do Sol, caracterizadas por manchas escuras na sua superfície, este plasma pode condensar-se em pacotes com cerca de 60 quilómetros de largura, e então a sua temperatura baixa para «apenas» 10 000 graus. Sob efeito da gravidade, estes aglomerados de plasma caem sobre a superfície do Sol seguindo as linhas do campo magnético: é a chuva coronal. O mecanismo estava bem compreendido, exceto quando ocorre durante as erupções solares. Luke Fushimi Benavitz, da Universidade do Havai, nos Estados Unidos, e os seus colegas mostraram que, nesse caso, é necessário ter em conta o tipo de iões presentes no plasma, pois os mais pesados como o ferro, o silício ou o magnésio são mais eficazes para diminuir a temperatura do meio e provocar a sua condensação.

Fonte: Pour ls Science, n.º 578, dezembro 2025 - p. 32
Évrard-Ouicem Eljaouhari (adaptado)







Breves de dezembro



Novo mapa rodoviário antigo 
Os Romanos construíram uma vasta rede rodoviária cuja cartografia permanecia parcial. Pau de Soto, da Universidade Autónoma de Barcelona, e uma equipa internacional criaram uma base de dados reunindo 299 171 quilómetros de estradas, ou seja, quase 100 000 quilómetros a mais do que as bases anteriores. Melhoraram, em particular, a cobertura da Península Ibérica, da Grécia e do Norte de África. O mapa pode ser consultado aqui: itiner-e.org.



Uma forma diferente de depressão 
As depressões crónicas resistentes a tratamentos (DRT) são apenas formas severas de transtornos depressivos maiores? Não, segundo um estudo em que participou a equipa de Marie-Claude Potier, do Instituto do Cérebro, em Paris. Ao comparar a expressão génica de 300 pacientes com depressão, os investigadores mostraram que 5 000 genes têm uma expressão específica em pessoas com DRT. Trata-se, portanto, de uma doença distinta a nível molecular.


Matricídio nas formigas 
Formigas parasitas que se infiltram numa colónia, matam a rainha e substituem-na, já tinha sido documentado. Mas Keizo Takasuka, da universidade de Kyushu, no Japão, e os seus colegas descobriram uma estratégia ainda mais pérfida. A intrusa, da espécie Lasius orientalis, borrifa a rainha Lasius flavus com fluidos de modo que as operárias deixam de a reconhecer e a matam. A invasora toma então o seu lugar e põe ovos de que as operárias tratam.

Fonte: Pour la Science, n.º 578 - dezembro 2025 



O que posso observar no céu de dezembro?


 
3/4 - Ocultação das Plêiades pela Lua - das 23:55 do dia 3 até às 05:36 do dia 4
4 - Lua no perigeu a 359 405 Km da Terra - 11:06
9 - Auge da chuva de meteoros Monocerotídeos de dezembro
9 - Auge da chuva de meteoros delta-Hidrídeos
10 - Lua a 0,10º N de Regulus - 06:32
14 - Auge da chuva de meteoros Geminídeos
16 - Auge da chuva de meteoros Coma Berenicídeos
17 - Lua no apogeu a 405 788 Km da Terra - 06:09
21 - Solstício de dezembro - início do inverno - 15:03
28 - Auge da chuva de meteoros Úrsidas






Fases da Lua em dezembro


                20 - às 01h 43min - nova

                27 - às 19h 10min - crescente

                04 - às 23h 14min - cheia
       
                11 - às 20h 52min - minguante

            
          









Planetas visíveis a olho nu em dezembro


MERCÚRIO Pode ser visto durante todo o mês, baixo no horizonte, no crepúsculo matinal, a partir das seis da manhã.

VÉNUS - Durante este mês não pode ser observado, por se encontrar de frente para o Sol. 
 
MARTE Durante todo este mês não está visível. 

JÚPITER Pode ser avistado a partir das vinte horas até ao amanhecer.

SATURNO Pode ser avistado a partir do crepúsculo vespertino, até por volta da uma da manhã.

Fonte: APP Sky Tonight





(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
 

DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-12-1,518:59:3210°ONO19:02:1824°SO19:04:3613°Svisível
2-12-2,418:11:3510°ONO18:14:4541°SO18:17:5610°SSEvisível
4-12-0,518:13:5810°O18:15:5214°SO18:17:4610°SSOvisível
10-12-0,306:58:5910°SSE07:00:3213°SE07:02:0610°ESEvisível
 

 

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês


O que comiam os nossos antepassados
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês



Apep: Cascas de Poeira Incomuns observadas pelo telescópio espacial Web

        O que é que criou esta escultura espacial incomum? As estrelas. Este sistema incomum de redemoinhos e conchas, conhecido como Apep, foi observado com detalhes sem precedentes pelo Telescópio Espacial James Webb, da NASA, sob luz infravermelha em 2024. As observações indicam que esta forma incomum tem origem em duas estrelas Wolf-Rayet massivas que orbitam, uma em relação à outra, a cada 190 anos, e em cada passagem próxima, é expelida uma nova camada de poeira e gás. Acredita-se que os buracos nessas camadas sejam causados por uma terceira estrela em órbita. Esta dança estelar da poeira, provavelmente, continuará por centenas de milhares de anos, possivelmente terminando apenas quando uma das estrelas massivas ficar sem combustível nuclear interno e explodir numa supernova, seguida por uma explosão de raios gama.

Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês



Sinopse

Porque é que algumas pessoas se radicalizam?
Como é que as ideologias moldam o cérebro humano?
E como é que podemos libertar as nossas mentes de dogmas tóxicos?
Ao guiar os leitores através das suas experiências inovadoras, a Dra. Leor Zmigrod desvenda os mecanismos ocultos que orientam as nossas crenças e comportamentos e argumenta que as nossas posições políticas não são superficiais, mas antes desenvolvidas no tecido das nossas mentes. Os seus resultados mostram que os ideólogos de todos os espetros políticos têm dificuldade em alterar os seus padrões de pensamento quando confrontados com novas informações.
Embora alguns indivíduos sejam mais suscetíveis ao pensamento dogmático do que outros, todos nós podemos esforçar-nos por ser mais flexíveis, e Zmigrod acaba por explicar como podemos manter as nossas mentes abertas face a ideologias extremas. Revelador, provocador e inesquecível, o Cérebro Ideológico é um livro inovador que nos desafia a resistir ao pensamento a preto e branco e a reavaliar as nossas convicções mais profundas.

Sobre a autora:



Leor Zmigrod é uma cientista premiada e pioneira no domínio da «neurociência política». Estudou na Universidade de Cambridge como Bolseira Gates antes de ganhar uma bolsa de investigação no Churchill College, em Cambridge. Zmigrod publicou mais de trinta artigos revistos por pares e foi bolseira visitante em Stanford, Harvard e nos Institutos de Estudos Avançados de Berlim e Paris. Foi incluída na lista Forbes 30 Under 30 na área da ciência e ganhou numerosos prémios, incluindo o Women of the Future Science Award e o Prémio Glushko. Foi oradora no Hay Festival e no TEDx, e a sua investigação tem sido amplamente divulgada nos meios de comunicação social, nomeadamente no The New York Times, Guardian, Financial Times e New Scientist. Zmigrod aconselha decisores políticos nas Nações Unidas, nos governos do Reino Unido e dos EUA e em diversas organizações internacionais. O Cérebro Ideológico é o seu primeiro livro.

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