Maio 2025
Maio de 2025
Descoberta uma nova forma de água congelada
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Na sua fase plástica, o gelo VII vê as suas moléculas adquirirem um movimento rotacional sobre si próprias sem se deslocarem, no seio da rede cristalina. |
A altas temperaturas e a altas pressões, a água surge numa forma de gelo com propriedades plásticas.
Com um diâmetro de 5.260 quilómetros, Ganimedes é o maior satélite natural do Sistema solar. Na sua superfície, coberta com uma espessa crosta de gelo, esta lua de Júpiter esconde um vasto oceano líquido. O seu centro é ocupado por um núcleo de ferro líquido, na qual a temperatura ronda os 1250º a 1450°C e com uma pressão de 10 gigapascais, rodeado por um manto rochoso. Em face de tais condições, os planetólogos sugerem que o fundo do oceano estará coberto por vários quilómetros de água em estado sólido. Este gelo teria propriedades muito diferentes daquelas que se encontram na Terra. A equipa que trabalha com Lívia Eleonora Bove, do Instituto de mineralogia, física dos materiais e cosmoquímica (IMPMC), em Paris, estudou a forma que assume água em condições extremas e identificou uma nova fase, prevista teoricamente mas nunca observada: a forma plástica do gelo VII.
O gelo de água não tem estrutura única, mas dezenas delas. Quando se aumenta a pressão e a temperatura, observa-se fases exóticas. O gelo VII foi descoberto em 1937 e aparece a pressões superiores a 2,2 gigapascals e a uma temperatura acima de algumas dezenas de graus Celsius. Esta é uma das fases mais densas da água gelada. Encontramo-la, por por exemplo, nas inclusões dentro dos diamantes, formados no manto terrestre.
Neste gelo VII, a molécula de água vibra ligeiramente dentro de uma célula cúbica da rede cristalina. Se aumentarmos a temperatura e a pressão, a partir desta fase, as moléculas de água acabam eventualmente por se libertar e obtemos um líquido. Mas, entretanto, foi previsto em 2008 que havia uma fase dita "plástica" onde cada molécula de água permanece no seu lugar, na rede cúbica rígida, mas começa a rodar sobre si própria, a velocidades da ordem de uma rotação por picossegundo (10 – 12 segundos). Esse “gelo plástico VII” seria mais maleável do que um cristal e exibiria propriedades híbridas entre as de um sólido e as de um líquido.
Para confirmar a realidade desta fase plástica, Livia Eleonora Bove e os seus colegas usaram um feixe de neutrões no reator do Instituto Laue-Langevin (ILL), em Grenoble. Quando os neutrões interagem com os átomos de hidrogénio em movimento, estes perdem ou ganham energia. Em fase líquida, o sinal mostra que as moléculas de água se movem (translação) e estão em rotação; no gelo VII, estes dois movimentos estão congelados. A dificuldade da experiência foi ser capaz de aplicar as condições de pressões extremas e temperaturas elevadas à amostra bombardeada pelo raio. Os investigadores descobriram que, para certas condições, com uma pressão superior a 5 gigapascais e temperaturas entre os 200°C e os 350°C, apenas se observa o movimento de rotação: o gelo está bem instalado na sua fase plástica.
Este gelo plástico VII estará presente no gelo das profundezas de Ganimedes e de outras luas com um oceano subterrâneo? As missões Juice e Europa Clipper, a caminho dos planetas gelados jovianos, talvez nos digam mais. Para sabermos a resposta, teremos de esperar, pelo menos, até 2030!
Fonte: Pour la Science, n.º 571, maio de 2025, pp. 12
Sean Bailly (adaptado)
Há quartzo em Marte
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A análise espetroscópica desta rocha marciana indica a presença de quartzo. |
No planeta Marte há mais de quatro anos, o rover Perseverance começou recentemente a escalar as ravinas da cratera de Jezero. Aí, acaba de encontrar rochas ricas em sílica, incluindo opala e quartzo.
A opala já tinha sido detetada no Planeta Vermelho, principalmente graças ao rover Curiosity, na Cratera Gale. A Opala é uma mineral altamente hidratado, “como uma espécie de esponja cheia de água”, diz Pierre Beck, planetólogo na Universidade de Grenoble-Alpes. É formada por processos hidrotermais, envolvendo, por isso, a circulação de água quente. Não é, pois, por acaso, que o quartzo se tenha encontrado na lateral de uma cratera: “A energia depositada pelo impacto derreteu as rochas localmente, diz Pierre Beck. A água aquecida circulou depois nas fraturas formadas ao nível das ravinas." As reações químicas entre a água e a rocha produziram as opalas. Depois, com o tempo, estas opalas cristalizaram-se em quartzo. É a primeira vez, diz-nos o investigador, que detetamos este processo sem ambiguidade.
Fonte: Pour la Science, n.º 571, maio 2025 - p. 13
Évrard-Ouicem Eljaouhari (adaptado)
Breves de maio
Como podemos livrar-nos do petróleo para fabricar plásticos? Modificando geneticamente certos microrganismos. Isto já tinha sido bem-sucedido para os poliésteres, mas não para as poliamidas, como o nylon. A equipa de Sang Yup Lee de Kaist, na Coreia do Sul, apresentou uma bactéria Escherichia coli modificada capaz de produzir um novo grupo de plásticos denominados poli(ester-amidas). Combinam as boas propriedades mecânicas das poliamidas e biocompatibilidade e biodegradabilidade dos poliésteres.
O Universo primitivo continha apenas hidrogénio e hélio. O oxigénio formou-se, portanto, gradualmente nas primeiras estrelas. Graças ao Observatório Alma, no Chile, duas equipas de astrofísicos ficaram surpreendidas ao detetarem independentemente este elemento na galáxia Jades-GS-z14-0, detetado no Universo quando tinha apenas 300 milhões de anos. Esta descoberta levanta questões sobre a velocidade dos processos envolvidos na evolução das primeiras estrelas.
A lei de Zipf estabelece empiricamente uma relação entre as palavras de uma língua e a sua frequência de ocorrência. Esta estrutura surge porque facilita a aprendizagem. Como o canto das baleias de bossa também é transmitido culturalmente, Ellen Garland, da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido, e os seus colegas queriam ver se conseguiam encontrar esta lei nesse canto. Para tal, cortaram a música em segmentos para examinar a probabilidade de sequências de notas. Resultado: os segmentos seguem a lei de Zipf. Embora esta observação não prove que o canto das baleias seja uma linguagem, realça o papel da aprendizagem na sua estrutura estatística..
Fonte: Pour la Science, n.º 571 - maio 2025
O que posso observar no céu de maio?
3 - Lua a 3ºS de Pollux - 01:39
4 - Lua a 0,8ºN de Marte - 01:13
6 - Auge da chuva de meteoros n-Aquáridas
10 - Auge da chuva de meteoros n-Líridas
11 - Lua no apogeu a 403 004 Km da Terra - 01:49
23 - Lua a 2ºN de Vénus - 21:40
26 - Lua no perigeu a 361 221 Km da Terra - 02:37
Fases da Lua em maio
27 - às 04h 02min - nova
04 - às 14h 52min - crescente
04 - às 14h 52min - crescente
12 - às 17h 56min - cheia
20 - às 12h 59min - minguante
Planetas visíveis a olho nu em maio
MERCÚRIO - Durante este mês não pode ser visto.
VÉNUS - Pode ser visto durante todo este mês no início do dia, antes do nascer do Sol, como uma estrela muito brilhante, a partir das quatro horas e quarenta e nove minutos, indo nascendo gradualmente mais cedo até ao fim do mês.
MARTE - Pode ser visto a partir do pôr-do-sol até por volta das duas da manhã.
JÚPITER - Pode ser observado no início da noite até perto das vinte e duas horas, indo desaparecendo cada vez mais cedo.
SATURNO - Pode ser visto por volta das cinco da manhã, nascendo cada vez mais cedo.
Fonte: APP Sky Tonight
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Data | Magnitude | Início | Ponto mais alto | Fim | Tipo da passagem | ||||||
(mag) | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | ||
1-5 | -0,3 | 02:47:10 | 12° | NE | 02:47:10 | 12° | NE | 02:47:25 | 10° | NE | visível |
1-5 | -1,0 | 04:20:05 | 11° | NO | 04:21:50 | 15° | N | 04:23:50 | 10° | NNE | visível |
1-5 | -1,0 | 05:57:20 | 10° | NNO | 05:59:37 | 17° | NNE | 06:01:56 | 10° | ENE | visível |
2-5 | -1,1 | 03:33:46 | 17° | NNO | 03:33:46 | 17° | NNO | 03:36:00 | 10° | NNE | visível |
2-5 | -0,9 | 05:09:30 | 10° | NNO | 05:11:31 | 15° | N | 05:13:33 | 10° | NE | visível |
3-5 | -0,5 | 02:47:26 | 14° | NNE | 02:47:26 | 14° | NNE | 02:48:12 | 10° | NNE | visível |
3-5 | -0,8 | 04:21:31 | 10° | NNO | 04:23:22 | 14° | N | 04:25:13 | 10° | NE | visível |
4-5 | -0,8 | 03:33:57 | 12° | NNO | 03:35:11 | 14° | N | 03:37:02 | 10° | NNE | visível |
4-5 | -1,1 | 05:10:20 | 10° | NNO | 05:12:56 | 20° | NNE | 05:15:30 | 10° | ENE | visível |
5-5 | -0,6 | 02:47:34 | 14° | N | 02:47:34 | 14° | N | 02:48:59 | 10° | NNE | visível |
5-5 | -0,8 | 04:22:29 | 10° | NNO | 04:24:46 | 17° | NNE | 04:27:02 | 10° | NE | visível |
6-5 | -0,6 | 03:34:32 | 10° | NNO | 03:36:33 | 15° | N | 03:38:33 | 10° | NE | visível |
6-5 | -2,1 | 05:10:55 | 10° | NO | 05:14:03 | 35° | NNE | 05:17:11 | 10° | E | visível |
7-5 | -0,6 | 02:47:43 | 13° | N | 02:48:17 | 14° | N | 02:50:08 | 10° | NE | visível |
7-5 | -1,5 | 04:23:03 | 10° | NO | 04:25:55 | 26° | NNE | 04:28:48 | 10° | E | visível |
8-5 | -0,3 | 02:01:28 | 11° | NNE | 02:01:28 | 11° | NNE | 02:01:50 | 10° | NNE | visível |
8-5 | -1,0 | 03:35:09 | 10° | NNO | 03:37:43 | 20° | NNE | 03:40:17 | 10° | ENE | visível |
8-5 | -3,8 | 05:11:30 | 10° | NO | 05:14:52 | 88° | NE | 05:18:14 | 10° | SE | visível |
8-5 | -2,9 | 21:54:31 | 10° | SSO | 21:57:28 | 29° | SE | 21:58:30 | 24° | ESE | visível |
8-5 | -1,1 | 23:31:02 | 10° | O | 23:31:45 | 15° | O | 23:31:45 | 15° | O | visível |
9-5 | -0,8 | 02:48:33 | 15° | N | 02:49:27 | 17° | NNE | 02:51:43 | 10° | NE | visível |
9-5 | -3,0 | 04:23:30 | 10° | NO | 04:26:48 | 53° | NNE | 04:30:05 | 10° | ESE | visível |
9-5 | -3,1 | 22:42:44 | 10° | OSO | 22:46:02 | 56° | NNO | 22:49:21 | 10° | NE | visível |
10-5 | -0,8 | 00:21:03 | 10° | ONO | 00:23:11 | 17° | NNO | 00:23:11 | 17° | NNO | visível |
10-5 | -2,1 | 03:37:14 | 24° | NNO | 03:38:39 | 34° | NNE | 03:41:45 | 10° | E | visível |
10-5 | -3,0 | 05:12:21 | 10° | ONO | 05:15:22 | 31° | SO | 05:18:22 | 10° | SSE | visível |
10-5 | -3,9 | 21:54:34 | 10° | SO | 21:57:55 | 86° | SE | 22:01:16 | 10° | NE | visível |
10-5 | -1,1 | 23:32:25 | 10° | ONO | 23:35:02 | 21° | NNO | 23:37:39 | 10° | NNE | visível |
.
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
Vídeo do Mês
Por que a água é uma das coisas mais estranhas do Universo
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Imagem do Mês
IC 418: a Nebulosa do Espirógrafo
O que está a criar a estranha textura da IC 418? Apelidada de Nebulosa do Espirógrafo devido à sua semelhança com os desenhos de uma ferramenta de desenho cíclico, a nebulosa planetária IC 418 mostra padrões que ainda não são bem compreendidos. Talvez estejam relacionados com ventos caóticos da variável estrela central, que muda de brilho de forma imprevisível em apenas algumas horas. Em contraste, as evidências indicam que apenas alguns milhões de anos atrás, a IC 418 era provavelmente uma estrela bem conhecida semelhante ao nosso Sol. Apenas há alguns milhares de anos atrás, a IC 418 era provavelmente uma estrela gigante vermelha comum. Porém, desde que ficou sem combustível nuclear, o envelope externo começou expandindo-se para o exterior, deixando um núcleo remanescente quente destinado a tornar-se uma estrela anã branca, visível no centro de imagem. A luz do núcleo central excita os átomos circundantes na nebulosa, fazendo com que brilhem. A IC 418 fica a cerca de 2000 anos-luz de distância e estende-se por 0,3 anos-luz de diâmetro. Esta imagem, em cores falsas, tirada do Telescópio Espacial Hubble, revela estes detalhes incomuns.
Fonte: www.nasa.govLivro do Mês
Sinopse
Uma brilhante reflexão sobre a liberdade — o que é, como tem sido mal interpretada, e porque é a nossa única hipótese de sobrevivência — pelo aclamado historiador da Universidade de Yale e autor do bestseller mundial Sobre a Tirania.
Timothy Snyder é considerado "o principal estudioso dos nossos tempos sombrios." Como historiador surpreendeu-nos com novas interpretações de colapsos políticos passados e de assassínios em massa. Como figura pública, aplicou esse conhecimento histórico para dar conselhos e fazer previsões, assim combatendo o autoritarismo onde quer que ele exista no presente. O seu livro Sobre a Tirania inspirou milhões de pessoas a lutarem pela liberdade. Agora, neste tour de force da filosofia política, ajuda-nos a ver aquilo por que estamos exatamente a lutar.
A liberdade é o grande compromisso ocidental, mas, como argumenta Snyder, perdemos de vista o seu significado — e isso está a conduzir-nos à crise. Demasiados de nós olham para a liberdade como a ausência de poder do Estado: pensamos que somos livres se pudermos fazer e dizer o que quisermos, e se nos protegermos da ação do Governo. No entanto, a verdadeira liberdade não é tanto a "liberdade (libertação) de", mas a "liberdade para" — liberdade para prosperar, liberdade para correr riscos com vista a futuros escolhidos por nós se trabalharmos em conjunto por eles. Daí que a liberdade seja o valor que torna possíveis todos os outros valores.
Da Liberdade proporciona-nos uma estimulante viagem intelectual. Baseando-se no trabalho de filósofos e dissidentes políticos, e em conversas com pensadores contemporâneos sobre as suas próprias experiências de amadurecimento numa época atípica, Snyder identifica as práticas e atitudes — os hábitos mentais — que nos permitirão vislumbrar um governo com o qual nós e as gerações futuras possamos prosperar. Passamos a apreciar a importância das tradições (defendidas pela direita), mas também o papel das instituições (favorecidas pela esquerda). Íntimo e ambicioso, este livro procura forjar um novo consenso assente numa política de abundância, generosidade e bondade.
Sobre o autor:
Timothy Snyder é professor de História e Assuntos Globais na Universidade de Yale e bolseiro permanente do Instituto de Ciências Humanas em Viena. Os seus livros, publicados em mais de quarenta línguas, incluem Terra Sangrenta, Terra Negra, Sobre a Tirania, O Caminho para o Fim da Liberdade e A Nossa Doença. O seu trabalho inspirou campanhas e exposições de cartazes, esculturas, canções, uma peça de teatro e uma ópera. Participou em mais de cinquenta filmes e documentários.
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