Junho 2023

 

                                                                         
                                                                         
                                                                              



Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Junho de 2023














As plantas não sofrem em silêncio


Instalaram-se microfones à volta de catos para gravarem os sons emitidos por estas plantas.

     Quando lhes falta água ou estão feridas, as plantas «crepitam»: os ultrassons que produzem são ouvidos ao longo de alguns metros. 

   Contrariamente à crença popular desde a Antiguidade, inúmeras observações mostram que as plantas estão longe de serem passivas em relação ao seu ambiente. Uma nova descoberta reforça essa constatação. Itzhak Khait, da Universidade de Tel Aviv, Israel, e os seus colegas, observaram recentemente que elas emitem sons detetáveis ​​à distância - uma espécie de cliques muito curtos com intervalos aparentemente aleatórios. Sob condições de stress (desidratação ou corte do caule), as plantas produzem entre 30 a 50 cliques por hora, enquanto são quase silenciosas em condições favoráveis. Para além disso, os investigadores são capazes de distinguir os sons emitidos por diferentes espécies e de acordo com as características do seu stress.
     Itzhak Khait e os seus colegas estudaram principalmente as plantas do tabaco (Nicotiana tabacume do tomate (Solanum lycopersicum). Começaram por capturar durante uma hora os sons entre os 20 e os 150 kilohertz (kHz), colocando microfones a 10 centímetros da planta em pequenas caixas acústicas, sem ruído de fundo. Algumas plantas não foram regadas durante cinco dias, outras foi-lhes cortado o caule e outras foram mantidas de boa saúde. Os biólogos detetaram sons na faixa dos ultrassons, entre 2 e 100 kHz, inaudíveis ao ouvido humano – os seres humanos ouvem até cerca de 16 kHz. O volume é comparável ao de uma conversa humana.
     Graças a um algoritmo de inteligência artificial, identificaram os sons emitidos de acordo com as espécies, o tipo e o nível de stress por que passaram, com uma precisão de 84%.
     Sem chegarem a conclusões sobre a origem biofísica dos sons emitidos, os investigadores realçaram uma forte correlação entre o seu número e a transpiração da planta através dos seus estomas, pequenos orifícios presentes nas folhas, encarregados de regularem as trocas gasosas entre a planta e a atmosfera. Da mesma forma, eles assumem que uma parte desses sons se deve ao fenómeno de cavitação (ligado a bolhas de ar no sistema vascular por onde circula a seiva), contudo, trabalhos futuros devem confirmar esta hipótese. E se estes estudos não nos permitem deduzir que todas as plantas fazem ruído, eles constataram estes sons no caso do trigo (Triticum aestivum), do milho (Zea mays), das uvas (Vitis vinifera), de um cato (Mammillaria spinosissima) e de uma urtiga morta  (Lamium amplexicaule).
     "Este rigoroso trabalho experimental tem o mérito de levantar novas questões", constata Adelin Barbacci, investigador no Inrae: quais são as causas biológicas, os mecanismos na origem destes sons? Qual é a assinatura espetral de cada planta? Será que as plantas vizinhas detetam esses sons? Serão capazes de analisá-los tão bem quanto os algoritmos de aprendizagem profunda usados ​​aqui? Será que animais como os roedores, os morcegos, os insetos os ouvem e qual será a utilidade dessa informação para eles? Enquanto isso, os autores do estudo propõem que esta informação seja usada pelos agricultores ou horticultores para avaliar as necessidades de água das plantas.  

Fonte: Pour ls Science - junho 2023, n.º 548, p. 8

Isabelle Bellin 
(adaptado)


O Universo tem uma metade muito calma




    Os resultados de uma complexa nova análise apoiam as suspeitas dos cosmólogos de que algo está a faltar na nossa compreensão do universo.
     Na maior parte das vezes, a teoria padrão da cosmologia encaixa-se nas observações como uma luva. Com apenas um punhado de ingredientes, os cientistas podem explicar a irregularidade da radiação cósmica de fundo (CMB) - a relíquia da radiação dos primórdios do universo - e como a sopa quase uniforme de onde veio, se transformou no queijo suíço de aglomerados de galáxias e vazios que conhecemos e que  podemos ver hoje.
     Mas alguns problemas persistentes permanecem. A mais falada é a tensão de Hubble (as medidas da constante de Hubble, que nos diz quão rápido o Universo se está a expandir, não apresentam concordância entre si). Mas há outra discrepância mais subtil: o universo de hoje é demasiado calmo.
     A irregularidade do CMB revela como a sopa primordial era irregular. Esses pequenos pedaços transformaram-se em grandes, os maiores dos quais se transformaram em aglomerados de galáxias. No entanto, uma década de estudos, mostrou que vemos apenas metade dos grandes aglomerados de galáxias previstos pelos cosmólogos.
     Uma nova análise, reportada em 31 de janeiro, em três artigos da Physical Review Dcontinuou essa tendência. Mais de 150 cientistas, das colaborações Dark Energy Survey (DES) e South Pole Telescope (SPT), uniram forças, adicionando dados da nave espacial Planck para estudar a estrutura cósmica em grande escala, de uma grande secção do céu.
     Estes três instrumentos observam o universo de maneiras distintas: o DES obteve imagens de centenas de milhões de galáxias e outros objetos, enquanto o SPT e o Planck mapearam o CMB. Os investigadores examinaram as distorções de lentes gravitacionais que a matéria interveniente cria nas imagens das galáxias, bem como no próprio CMB. A comparação dá aos cientistas uma visão única da distribuição da matéria nos últimos 8  ou 9 mil milhões de anos. A discrepância permanece, embora fracamente.
     Em todos os estudos, há uma hipótese de 1% a 15% de que o resultado seja um acaso. A tensão de aglutinação é menos evidente do que a tensão de Hubble, que tem um potencial de aglutinação muito menor que 1%. No entanto, os cientistas não detetaram nenhum erro nas medições que possam explicar facilmente os pequenos pedaços de matéria referidos anteriormente. Além disso, fixar o parâmetro de aglomeração tende a exacerbar a tensão de Hubble e vice-versa. Acomodar ambas as tensões dentro do modelo cosmológico irá ser difícil.
 
     
Fonte: Sky & Telescope - junho 2023, Vol. 145, n.º 6, p. 11

Camille M. Carlisle
(adaptado)

O que posso observar no céu de junho?



07 -  Lua no perigeu a 364 861 Km da Terra - 00:06
09 - Lua a 3ºS de Saturno - 21:00
16 - Lua a 4ºN de Mercúrio - 22:00
21 - Solstício de verão - 15:58
22 - Lua a 4ºN de Vénus - 02:00
22 -  Lua no apogeu a 405 386 Km da Terra - 19:30
 





Fases da Lua em junho


                18 - às 05h 37 min - nova

                26 - às 08h 50min - crescente

                04 - às 04h 42min - cheia

                10 - às 20h 31min - minguante
                
                









Planetas visíveis a olho nu em junho


MERCÚRIO  Pode ser visto no início do crepúsculo matinal, por volta das cinco da manhã.

VÉNUS - Pode ser visto de noite, até perto da meia-noite, e é um dos astros mais brilhantes do céu noturno.

MARTE Pode ser visto até perto da meia-noite e reconhece-se pela sua cor avermelhada. 

JÚPITER Pode ser visto no início do mês a partir das quatro da manhã, indo gradualmente nascendo mais cedo durante este mês..

SATURNO Pode ser visto depois da uma da manhã, até ao amanhecer, durante todo o mês de junho..
 
Fonte: APP Sky Tonight




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
    
Nos próximos dez dias não há passagens visíveis da Estação.

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês




A consciência das plantas

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês









Caronte: a lua de Plutão

      A região polar norte, escura e misteriosa, conhecida como Mordor Macula, coroa esta imagem de alta resolução. A fotografia de Caronte, a maior lua de Plutão, foi capturada pela New Horizons, na sua menor aproximação, em 14 de julho de 2015. a combinação azul, vermelho e dos dados infravermelhos, foram processados para realçar as cores e destacar as variações nas propriedades de superfície de Caronte, com uma resolução de cerca de 2,9 quilómetros. Uma imagem impressionante do hemisfério de Caronte visível para Plutão, apresentando também uma visão clara do cinturão de fraturas e cânions que parecem separar as planícies lisas do sul, do terreno mais variado do norte. Caronte tem 1.214 quilómetros de diâmetro. O seu tamanho é cerca de 1/10 do tamanho da Terra, mas tem 1/2 do diâmetro de Plutão e, por isso, ele é o maior satélite em relação ao planeta que orbita, do Sistema Solar. Ainda assim, Caronte aparece como uma pequena mancha na superfície de Plutão e que pode ser vista na imagem granulada, em negativo, inserida no canto superior esquerdo. Foi esta mancha que permitiu a James Christy e Robert Harrington, do Observatório Naval dos EUA, em Flagstaff, descobrirem Caronte, em junho de 1978.
Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês

Sinopse

A ascensão dos populismos, na Europa e não só, ganhou a forma de uma dança desenfreada que inverte as regras estabelecidas e as transforma no seu contrário. Aos olhos dos eleitores, os defeitos dos líderes populistas são vistos como qualidades, a inexperiência deles é a prova de que não pertencem ao círculo corrupto das elites e a sua incompetência é garantia de autenticidade. Já as fake news que lhes pontuam a propaganda são a marca da sua liberdade de espírito.

No mundo de Donald Trump, de Boris Johnson, de Jair Bolsonaro ou de Matteo Salvini cada dia tem a sua gafe, a sua polémica, o seu brilharete. Ao contrário do que se possa pensar, por detrás das aparências de carnaval populista está o trabalho árduo de ideólogos, cientistas e especialistas em big data, sem os quais os líderes populistas dificilmente teriam chegado ao poder.

Estes são os engenheiros do caos, cujo retrato Giuliano da Empoli pinta. Uma investigação que mostra uma galeria de personagens, muitas delas desconhecidas do público em geral, que estão a mudar as regras do jogo político. Com consequências sociais inegáveis.


Sobre o autor:




   De origem italiana e suíça, Giuliano da Empoli é ensaísta e conselheiro político. É licenciado em Direito pela Universidade Sapienza de Roma e tem mestrado em Ciência Política do Institut d’Études Politiques de Paris. Foi conselheiro principal do primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, tendo sido também conselheiro sénior do vice-primeiro-ministro e ministro da Cultura de Itália Francesco Rutelli, entre outros cargos. Em 2016, fundou o think thank Volta, um membro da rede Global Progress. Com profundo conhecimento dos meandros políticos e grande experiência como ensaísta, esta é uma obra baseada numa alargada investigação. Publica agora Os Engenheiros do Caos, que analisa os processos e as técnicas por detrás do novo populismo.

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