Novembro 2025

                                                                    






Novembro de 2025













De uma  borboleta a uma estrela



    A nebulosa NGC 6302 exibe dois lóbulos magníficos, que fazem lembrar as asas de um lepidóptero, daí o seu nome "Nebulosa da Borboleta". Nas imagens do Telescópio Espacial Hubble, as duas asas da NGC 6302 estão separadas por uma nuvem escura de gás e poeira que, na realidade, forma um toro que rodeia uma estrela central e a esconde da vista. A equipa liderada por Mikako Matsuura, da Universidade de Cardiff, combinou as capacidades de observação do telescópio espacial JWST e do conjunto de antenas de rádio Alma para perscrutar através da nuvem de poeira.
    Os astrofísicos demonstraram que o toro é o principal reservatório de poeira do sistema (cerca de 0,8 a 3 vezes a massa do Sol) e que é rico em grãos irregulares de silicato ou sob a forma de cristais de quartzo. Para além do toro, as assinaturas de ferro e níquel traçam dois jatos que emergem da estrela em direções opostas.
    Por fim, na zona interior do toro, a equipa observou a presença de moléculas de carbono, PAHs, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que, na Terra, se encontram na fuligem da queima de madeira ou de pão torrado. Na nebulosa, os PAH são detetados em estruturas circulares e filamentos interligados (a vermelho na imagem). Estas moléculas são provavelmente sintetizadas quando bolhas de vento emitidas intermitentemente pela estrela central impactam o gás circundante.
    Sem esquecer o principal: a equipa revelou a estrela que está no centro da nebulosa, com uma temperatura de 220.000 kelvins. Um recorde para este tipo de objeto.

Fonte: Pour la Science, n.º 577, novembro de 2025, pp. 10-11
Camille M. Carlisle  (adaptado)


   
Os limites da «Grande Ciência»



Os projectos para instrumentos físicos de grande escala estão a tornar-se tão colossais que o seu impacto financeiro e ambiental está longe de ser trivial.
  
    Em 1972, investigadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) previram, no seu livro, hoje clássico, "Limites do Crescimento", que o rápido crescimento económico que tinha caracterizado o período pós-Segunda Guerra Mundial não poderia durar indefinidamente. Basearam-se num modelo computacional abrangente das ligações entre a produção agrícola e industrial, o crescimento populacional, o consumo de recursos não renováveis ​​e a poluição resultante. Em suma, cálculos complexos confirmaram uma ideia simples: um mundo finito de recursos não pode dar origem a um crescimento infinito. 
    Esta constatação, hoje amplamente aceite, centrou-se nos recursos naturais, mas pode questionar-se se o crescimento da investigação em determinados campos da ciência não estará também sujeito a limites, se não materiais, pelo menos financeiros. Aceleradores e detetores de partículas incorporam principalmente esta megaciência e os projetos mais ambiciosos. Os projetos recentes envolvem custos cada vez mais elevados, especialmente difíceis de controlar devido aos prazos de construção.
    Em agosto último, um artigo de um jornalista da revista Science informou-nos sobre um
projeto para um detetor de neutrinos de muito alta energia, composto por 10.000 antenas. distribuídos por uma área de 100 quilómetros de cada lado. Os astrónomos chegam mesmo a sonhar em construir vinte destes conjuntos ao redor do globo. Cada antena custa 5.000€. E mesmo que a produção em massa consiga reduzir este custo num factor de dez, o orçamento será ainda de 100 milhões de euros só para as antenas. Os físicos de partículas estão a imaginar, pelo seu lado, o passo seguinte é continuar o LHC, o Grande Colisionador de Hadrões no CERN, na Suíça. Com os seus 27 quilómetros de circunferência, este instrumento confirmou a existência do bosão de Higgs em 2012. O novo projeto FCC (Future Circular Collider) teria aproximadamente 91 quilómetros de circunferência e custaria cerca de 16 mil milhões de euros! Com o seu funcionamento previsto para meados da década de 2040, podemos apostar que os custos reais serão muito mais elevados. 
    No seu novo livro, o jornalista científico Nicolas Chevassus-au-Louis destaca a noção de "ciência da descrença" para refletir sobre os aspetos ecológicos da investigação. Esta recente consciencialização sobre os impactos ecológicos da investigação parece estar ligada ao gigantismo inerente de disciplinas como a astronomia e a física de partículas, que parecem estar presas a um modelo de desenvolvimento difícil de associar à frugalidade. Aos custos económicos agora astronómicos, tendemos a acrescentar os custos energéticos e ambientais. Assim, enquanto o consumo de electricidade do LHC é de aproximadamente 750 gigawatts-hora (GWh) por ano, o do FCC atingiria uma média de 1.300 GWh por ano, quase metade do consumo do cantão de Genebra. 
    Cientes desta elevada sensibilidade ecológica, os comunicadores do CERN estão a propor a ideia de "investigação sustentável" – um oxímoro digno do de "desenvolvimento sustentável"... Como o FCC ficará subterrado a 200 metros, promete-se que, graças a "soluções fiáveis ​​e inovadoras", será possível "reutilizar parte dos materiais escavados" e que, "graças ao trabalho contínuo de R&D", o consumo de energia "deve ser 30 a 40% inferior ao esperado com as tecnologias atuais". Promessas que alguns associarão ao greenwashing...
    O facto é que a recente consciencialização dos impactos ecológicos dos processos materiais de produção científica destaca mais do que nunca os limites da forma linear de pensar o "cada vez maior". Isto também levanta uma questão: pode a grande ciência ser ecológica?                                                               

Fonte: Pour ls Science, n.º 577, novembro 2025 - p. 22
H. R. (adaptado)







Breves de novembro



Com a sua atmosfera rarefeita, onde o oxigénio e a água são escassos, como podem os átomos de ferro à superfície da Lua oxidar? Através de experiências em laboratório, Xiandi Zeng, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, na China, e os seus colegas sugerem que os iões de oxigénio da magnetosfera terrestre, ao bombardearem a superfície lunar, formam hematita (Fe2O3), ou ferrugem.



No abrigo rochoso de La Roche à Pierrot, em Saint-Césaire, na região de Charente-Maritime,
a equipa de Isabelle Crevecoeur, do laboratório Pacea, em Pessac, descobriu numerosas conchas perfuradas, sugerindo que ali existiu, há 42.000 anos (durante o Paleolítico Superior), uma oficina para confecção de ornamentos, a mais antiga conhecida na Europa Ocidental. A costa ficava então a 100 quilómetros do abrigo, um sinal da existência de uma rede comercial e da elevada mobilidade de grupos humanos.


O equivalente a uma cerveja pequena por dia: esta é a quantidade média de álcool consumida pelos chimpanzés no Uganda e na Costa do Marfim, através da ingestão de fruta fermentada, segundo Aleksey Maro, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e os seus colegas. Este consumo enquadra-se bem na hipótese do "macaco bêbado". De acordo com esta hipótese, a nossa atração pelo álcool está enraizada nas nossas origens evolutivas, pois o cheiro e o sabor do etanol remetem para frutos maduros, ricos em açúcar.

Fonte: Pour la Science, n.º 577 - novembro 2025 



O que posso observar no céu de novembro?


 
5 - Auge da chuva de meteoros Táuridas do Sul
5 - Lua no perigeu a 351 456 Km da Terra - 22:29
12 - Auge da chuva de meteoros Táuridas do Norte
12 - Lua a 0,16º N de Regulus - 22:51
17 - Auge da chuva de meteoros Leónidas
20 - Lua no apogeu a 411 635 Km da Terra - 02:48
21 - Auge da chuva de meteoros alfa-Monocerotídeos
28 - Auge da chuva de meteoros Oriónidas de novembro
24 - Lua a 3º N de Saturno - 19:18





Fases da Lua em novembro


                20 - às 06h 47min - nova

                28 - às 06h 59min - crescente

                05 - às 13h 19min - cheia
       
                12 - às 05h 28min - minguante

            
          









Planetas visíveis a olho nu em novembro


MERCÚRIO Durante este mês este planeta só está visível a partir do dia 26, no crepúsculo matinal.

VÉNUS - Pode ser visto no céu a partir das seis da manhã, até ao dia 18. 
 
MARTE Durante todo este mês não está visível. 

JÚPITER Pode ser avistado a partir das vinte e duas horas até ao amanhecer.

SATURNO Pode ser avistado durante toda a noite a partir do crepúsculo vespertino.

Fonte: APP Sky Tonight





(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
 

DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-11-2,505:14:2132°NNE05:14:4033°NNE05:17:4510°Evisível
2-11-0,604:28:3014°ENE04:28:3014°ENE04:29:1610°Evisível
2-11-3,606:01:2722°ONO06:03:2559°SO06:06:4410°SEvisível
3-11-3,505:15:3968°E05:15:3968°E05:18:4110°ESEvisível
4-11-0,504:29:5513°ESE04:29:5513°ESE04:30:2410°ESEvisível
4-11-2,206:02:5219°OSO06:03:4120°SO06:06:1510°Svisível
5-11-1,905:17:1322°S05:17:1322°S05:18:4410°SSEvisível
10-11-1,119:30:2310°SSO19:30:5814°SSO19:30:5814°SSOvisível
 

 

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês


Nascimento, vida e morte das estrelas

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês





        Há dez mil anos atrás, antes do alvorecer da história humana registada, uma nova luz teria aparecido repentinamente no céu noturno e desaparecido após algumas semanas. Hoje sabemos que essa luz era de uma supernova, ou de uma explosão de uma estrela, e chamámos à nuvem de detritos em expansão a Nebulosa do Véu, um remanescente da supernova. Esta nítida visão telescópica está centrada num segmento ocidental da Nebulosa do Véu catalogada como NGC 6960, mas menos formalmente conhecida como Nebulosa da Vassoura de Bruxa. Destruída na explosão cataclísmica, de uma onda de choque interestelar, atravessa o espaço, varrendo e excitando material interestelar. Esta imagem obtida com filtros de banda estreita, fazem com que os filamentos brilhantes sejam como longas ondulações numa folha vista quase de lado, notavelmente bem separadas em hidrogénio atómico (em vermelho) e oxigénio (em azul-esverdeado). O remanescente completo da supernova fica a cerca de 1400 anos-luz de distância, em direção à constelação de Cisne. Esta Vassoura de Bruxa estende-se por cerca de 35 anos-luz. A estrela brilhante na imagem é 52 Cygni, visível a olho nu num local escuro, mas sem relação com o antigo remanescente da supernova.

Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês


Sinopse

Nome cimeiro da neurociência mundial, António Damásio mostra-nos que o desenvolvimento da Consciência é uma das mais notáveis consequências da Inteligência Natural, sobretudo nos seres humanos.
«Quem imaginaria que o afeto, em geral, e os sentimentos, em particular, gerados por obra e graça da Inteligência Natural como meio de manter a vida em criaturas relativamente simples, se tornariam, na longa trajetória do tempo, elementos caracterizadores da existência humana, provedores de alegrias e tristezas, de glórias e tragédias, de valores elevados e mesquinhos, nada mais, nada menos do que a mais profunda base da humanidade que habitamos e observamos?
Não haverá dúvida de que aquilo que os seres humanos inventaram especificamente e acrescentaram a este universo, desde a engenharia das coisas e dos modos de comportamento às artes e à filosofia, será notável.
Não obstante, tudo isso empalidece face à dádiva do afeto e, convenhamos, ao que parecem ter sido as ambições da Inteligência Natural.
Não admira, assim, que depois de ter ajudado a fundar mil e um reinos e algumas religiões, a Inteligência Natural e os seus afetos viessem, por fim, a desafiar os seres humanos, e tentar conduzi-los à descoberta das suas próprias origens e poder.
Ainda lá não chegámos, mas, por incrível que seja, graças a esse ímpeto, conseguimos, pelo menos, abordar uma pequena parte do mistério — a criação da Consciência — e resolvê-lo!»

Sobre o autor:


António Damásio é professor da cátedra David Dornsife de Neurociência, Psicologia e Filosofia, e diretor do Brain and Creativity Institute na University of Southern California, em Los Angeles. Neurologista e neurocientista, Damásio tem dado contributos fundamentais para a compreensão dos processos cerebrais subjacentes às emoções, aos sentimentos e à consciência. O seu trabalho sobre o papel do afeto na tomada de decisões teve um impacte profundo na neurociência, psicologia e filosofia. É membro da National Academy of Medicine, American Academy of Arts and Sciences e da Bavarian Academy of Sciences. Recebeu a Medalha Freud [2017] e foi distinguido com numerosos prémios, entre os quais o Prémio Grawemeyer [2014] e o Prémio Honda [2010], o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica [2005], e os prémios Nonino [2003], Signoret [2004] e Pessoa [1992]. Descreveu a sua investigação e as suas ideias em diversos livros, entre os quais O Erro de Descartes [1995], O Sentimento de Si [2000], Ao Encontro de Espinosa [2003], O Livro da Consciência [2010] e A Estranha Ordem das Coisas [2017], que estão traduzidos em mais de trinta línguas e são ensinados em universidades de todo o mundo.

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