Julho 2022
Ciência Na Frente
Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande
Julho de 2022
A primeira «fotografia» do buraco negro existente no centro da Via láctea
Antes de 10 de abril de 2019, as únicas imagens de buracos negros existentes eram simulações digitais e visões de artistas. Mas naquele dia, a equipa do Event Horizon Telescope (EHT) revelou pela primeira vez a "foto" de um buraco negro supermassivo, aquele que se encontra no centro da galáxia M87. Os astrofísicos também já tinham apontado os seus instrumentos para o Sagitário A*, o buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea. Contudo, analisar esses dados foi muito mais difícil. Primeiro obstáculo, como estamos nós próprios na Via Láctea, a nossa linha de visão para o Sagitário A* está cheia de nuvens de gás e poeira. Segundo obstáculo, o gás do ambiente próximo do buraco negro, evolui em escalas de tempo da ordem do minuto ou da hora, enquanto as mudanças aparentes da M87 estendem-se por dias e por semanas. Mas o EHT demora cerca de um dia para coletar os dados necessários para fazer uma fotografia. No caso da M87, o longo tempo de exposição não é, por isso, um problema. Mas para o Sagitário A*, isso leva a um efeito de "desfocagem ". Então, a equipa desenvolveu ferramentas específicas para obter a sua imagem.
Com esta imagem, os investigadores confirmaram a massa do buraco negro (já conhecida anteriormente). Também forneceram as primeiras indicações sobre outras características do objeto, como o seu sentido de rotação. Ao melhorarem a técnica, esperam estudar os campos magnéticos e os jatos de buracos negros como o de Sagitário A* ou da M87. E talvez irem tão longe quanto filmar a dinâmica de seu ambiente.
Fonte: Pour la Science - julho 2022, n.º 537, pp. 10-11
Sean Bailly
(adaptado)
Um risco acrescido do aparecimento de futuras pandemias
O aquecimento climático atual contribui para uma alteração rápida dos ecossistemas e empurra numerosas espécies animais a relocalizarem os seus habitat em novas zonas. Ora os animais que se deslocam levam com eles os agentes patogénicos que eles abrigam: os vírus, os parasitas e outras bactérias responsáveis por doenças infecciosas. Estas mudanças de distribuição geográfica levam a que espécies que antes não tinham contato a interagirem, o que facilita a transmissão entre elas desses microrganismos. Deste modo, os investigadores preveem que pelo menos 15.000 novas transmissões virais interespécies deverão ocorrer daqui até 2070, mesmo no melhor cenário climático, onde o aquecimento global da Terra é limitado a menos de 2°C.
Para se chegar a este resultado perturbador, os biólogos têm-se interessado em mais de 3.000 espécies de mamíferos e fizeram projeções sobre a sua futura distribuição geográfica, de acordo com diferentes cenários de aquecimento climático. «A abordagem é muito boa, comenta Serge Morand, ecologista no CNRS. Com base na rede de partilha viral entre mamíferos que atualmente interagem, Colin Carlson e os seus colegas calcularam a probabilidade de novas partilhas no futuro, entre espécies agora postas em contacto.
Estas novas interações terão lugar em todo o mundo. As áreas de alto risco de transbordamento zoonótico estarão localizadas principalmente na África tropical e Sudeste Asiático. Esta última região é também o local que abriga a maior diversidade de morcegos, que, segundo os biólogos, terão um papel propulsor no aumento das transmissões de vírus. De facto, estes mamíferos alados - os únicos! – abrigam os patógenos mais transmissíveis para os seres humanos e são capazes de voar por longas distâncias. A atual pandemia de Covid-19 talvez seja um exemplo disso: de acordo com um dos cenários para a sua origem, o SARS-CoV-2 teria sido transmitido do morcego para um animal intermediário, antes de infetar os humanos.
Para Serge Morand, «este estudo de modelização preditiva é muito interessante pelos seus resultados, que devem ser tomados como outras novas hipóteses de trabalho a serem testadas». Outros estudos devem, portanto, vir a aprofundar e a detalhar estas estimativas. «Será necessário, no futuro, ter em conta os animais domésticos e pecuários, que estão amplamente associados à perda da biodiversidade e ao risco de epidemias», acrescenta o ecologista.
Colin Carlson e os seus colegas estão alarmados, porque o fenómeno cujas consequências eles projetam para as próximas décadas, poderá já estar em andamento, num mundo onde o aquecimento global já está acima de 1°C e onde já se constatam mudanças nos habitat de algumas espécies. De acordo com estes investigadores, os esforços atualmente feitos para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa são insuficientes para conter o aumento do risco de transmissão de vírus entre espécies (e isso, mesmo se limitarmos o aumento a 2°C até o final do século). Assim, é urgente a realização de estudos ligando a vigilância viral e o acompanhamento das mudanças na distribuição geográfica das espécies. Em particular nas regiões tropicais, onde as zoonoses (doenças comuns aos seres humanos e aos animais) são mais comuns e o aquecimento mais rápido.
Fonte: Pour la Science - julho 2022, n.º 537, p. 6-7
William Rowe-Pirra
(adaptado)
O que posso observar no céu de julho?
2 - Vénus a 4ºN de Aldebarã - 00:00
4 - Terra no afélio a 152,08 milhões de quilómetros do Sol - 08:00
13 - Lua no perigeu a 357 263 Km da Terra - 09:00
15 - Saturno a 4ºN da Lua - 20:00
19- Júpiter a 2ºN da Lua - 01:00
26 - Lua no apogeu a 406 274 Km da Terra - 10:00
30 - Pico da chuva de meteoros Delta Aquáridas do Sul
Fases da Lua em julho
28 - às 18h 55min - nova
07 - às 03h 14min - crescente
07 - às 03h 14min - crescente
13 - às 19h 38min - cheia
20 - às 15h 19min - minguante
Planetas visíveis a olho nu em julho
MERCÚRIO - Será visível, de manhã, por volta do instante do começo do crepúsculo civil, de 31 de maio a 9 de julho. A partir de 25 de julho será visível, de tarde, por volta do instante do fim crepúsculo civil.
VÉNUS - Pode ser visto como estrela da manhã, durante o mês de julho.
MARTE - Pode ser visto ao amanhecer na constelação de Carneiro.
JÚPITER - Pode ser visto ao anoitecer na constelação de Baleia.
Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Data | Magnitude | Início | Ponto mais alto | Fim | Tipo da passagem | ||||||
(mag) | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | ||
26-7 | -1,2 | 21:29:25 | 10° | NNO | 21:31:35 | 16° | NNE | 21:33:45 | 10° | NE | visível |
26-7 | -3,2 | 23:05:41 | 10° | NO | 23:08:56 | 47° | NNE | 23:09:13 | 46° | NE | visível |
27-7 | -2,4 | 22:17:18 | 10° | NO | 22:20:20 | 31° | NNE | 22:22:21 | 17° | E | visível |
27-7 | -1,4 | 23:54:00 | 10° | ONO | 23:55:14 | 19° | O | 23:55:14 | 19° | O | visível |
28-7 | -1,9 | 21:28:55 | 10° | NO | 21:31:40 | 23° | NNE | 21:34:26 | 10° | ENE | visível |
28-7 | -3,5 | 23:05:20 | 10° | ONO | 23:08:24 | 61° | OSO | 23:08:24 | 61° | OSO | visível |
29-7 | -3,7 | 22:16:48 | 10° | NO | 22:20:09 | 73° | NE | 22:21:37 | 30° | ESE | visível |
30-7 | -3,0 | 21:28:20 | 10° | NO | 21:31:33 | 44° | NNE | 21:34:46 | 10° | ESE | visível |
30-7 | -1,9 | 23:05:27 | 10° | O | 23:07:46 | 22° | SO | 23:07:46 | 22° | SO | visível |
31-7 | -2,9 | 22:16:33 | 10° | ONO | 22:19:41 | 38° | SO | 22:21:05 | 25° | S | visível |
1-8 | -3,6 | 21:27:52 | 10° | ONO | 21:31:12 | 71° | SO | 21:34:27 | 10° | SE | visível |
2-8 | -1,2 | 22:17:09 | 10° | O | 22:19:00 | 14° | SO | 22:20:46 | 10° | SSO | visível |
3-8 | -1,9 | 21:27:49 | 10° | ONO | 21:30:35 | 24° | SO | 21:33:20 | 10° | S | visível |
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Michel Onfray (1959) nasceu na Normandia e passou parte da sua infância num orfanato, tendo recebido instrução numa escola católica, «essa fornalha viciosa», como mais tarde lhe chamou. Doutorou-se em Filosofia e enveredou pela carreira docente. Foi professor do secundário no liceu técnico de Caen até 2002, altura em que renuncia ao ensino público para criar a Universidade Popular de Caen, com o propósito de ali ensinar uma «contra-história» da filosofia. Autor de inúmeros livros, Michel Onfray desenvolveu uma teoria do hedonismo que propõe a reconciliação do homem com o seu corpo, uma máquina sensual, e uma ética fundada na estética. Admirador de Nietzsche, define-se como «freudo-marxista». Ostenta um ateísmo sem concessões e considera que o cristianismo é indefensável.
Vídeo do Mês
O que é um vírus?
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Imagem do Mês
Que parte da Lua é esta? Nenhuma porque este é o planeta Mercúrio. A superfície mais antiga de Mercúrio tem muitas crateras como as criadas na Lua da nossa Terra. Mercúrio, embora apenas um pouco maior que a Lua, é muito mais denso e massivo do que qualquer lua do Sistema Solar, porque é feito principalmente de ferro. De facto, a Terra é o único planeta mais denso. Como Mercúrio gira exatamente três vezes a cada duas órbitas ao redor do Sol, e como a órbita de Mercúrio é tão elíptica, os visitantes de Mercúrio poderiam ver o Sol nascer, parar no céu, voltar para o horizonte nascente, parar novamente e depois pôr se rapidamente no outro horizonte. Da Terra, a proximidade de Mercúrio com o Sol faz com que seja visível apenas por um curto período de tempo logo após o pôr do sol ou pouco antes do nascer do sol. Esta imagem foi capturada na semana passada pela nave espacial BepiColombo, da ESA e da JAXA, enquanto libertava energia e se prepara para orbitar o planeta mais próximo do Sol, a partir de 2025.
Fonte: www.nasa.govLivro do Mês
Sinopse
Em Cosmos, Michel Onfray apresenta uma filosofia da natureza, por oposição às filosofias estritamente teóricas e livrescas, que prescindiram do mundo: «Demasiados livros se propõem dispensar o o mundo ao mesmo tempo que pretendem descrevê-lo. Este esquecimento niilista do cosmos parece-me mais pernicioso do que o esquecimento do ser. Os monoteísmos celebraram um livro que pretendia dizer a totalidade do mundo. Para tal, rejeitaram os livros que o diziam deforma diferente da deles. Uma imensa biblioteca instalou-se entre os homens e o cosmos, e a natureza, e o real.» Este é o ponto de partida deste livro, no qual o autor nos propõe retomar, através de uma meditação filosófica, o contacto direto com o cosmos. Contemplar o mundo, recuperar as instituições fundadoras do tempo, da vida, da natureza, compreender os seus mistérios e as lições que ela nos oferece, tal é a ambição deste livro, no qual o autor imprimiu um cunho muito pessoal, muitas vezes confessional, que renova o ideal grego e pagão de uma sabedoria humana em harmonia com o universo.
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