Novembro 2021

 

                                                                                                                                                       



Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Novembro de 2021











Uma supernova atípica

Os destroços projetados a grande velocidade pela supernova acertaram no gás expulso anteriormente por ela. Esta onda de choque está na origem das intensas emissões de rádio observadas pelo VLA

     Ao associar diferentes indícios, Dillon Dong, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, e os seus colaboradores, identificaram um tipo de supernova que nunca antes tinha sido observado. Primeira pista: um sopro de Raios-X detetado em 2014 pelo observatório japonês Maxi , a bordo da Estação Espacial Internacional. Segunda pista: um sinal rádio muito intenso detetado em 2017 e vindo da mesmo galáxia, recolhido pelo rádio telescópio VLA, no Novo México.
    Segundo os investigadores a origem destes fenómenos, na galáxia, teriam sido originados por duas estrelas maciças, formando um sistema binário muito compacto. A estrela mais maciça consumiu o seu combustível rapidamente, explodindo numa supernova e formando um objeto compacto (um buraco negro ou uma estrela de neutrões). Este aproximou-se da outra estrela num movimento espiral. Então, há cerca de trezentos anos, entrou na atmosfera da sua companheira expulsando grandes quantidades de gás. Quando este objeto compacto atingiu o núcleo do seu parceiro, começou a perturbar as reações de fusão que garantiam a estabilidade da segunda estrela. Esta última entrou prematuramente em colapso sob o seu próprio peso. Enquanto o seu núcleo implodia, uma parte do seu material formou um disco de acreção à volta do objeto compacto, o que  levou à emissão de jatos de matéria propulsionados a uma velocidade próxima à da luz. Esses jatos foram acompanhados por radiação de raios X, os tais observados pelo Maxi. Seguidamente, a estrela explodiu numa supernova. As suas camadas externas foram projetadas suficientemente rápidas para apanharem o gás expelido há trezentos anos atrás e a colisão produziu intensa radiação de rádio registada pelo VLA.  
                    
Fonte: Pour La Science - novembro 2021, n.º 529, p. 12
Sean Bailly 
(adaptado)



Será a matéria escura um novo éter?

Não é de excluir que a matéria escura postulada pelos astrofísicos seja uma quimera. tal como acontecia no século XIX com o éter, para os físicos desse tempo.


    Há mais de duas décadas que a maioria dos físicos está convencida da existência da "matéria escura". Artigos de divulgação científica chegam a afirmar que o Universo "é" (e não "seria") constituído por 85% dessa matéria misteriosa e até agora não detetada, embora seja amplamente assumida. 
    Esta propriedade lembra-nos o éter, um meio hipotético cuja densidade e rigidez foram durante muito tempo procurados pelos físicos do século XIX, para determinar e medir a sua presença na superfície da Terra. Até que, no início do século XX, Albert Einstein considerou a hipótese do éter algo completamente inútil, uma vez desenvolvida a sua teoria da relatividade restrita, que unificou a mecânica e o eletromagnetismo. Observemos, de passagem, que Einstein não demonstrou que o éter não existia, mas que não precisava dessa ideia (nem dessa substância...) para explicar os fenómenos. 
    Voltemos à matéria escura. A sua existência foi postulada na década de 1930 pelo astrofísico suíço-americano Fritz Zwicky porque, de acordo com as leis aceites da física, as forças da gravidade, devido à quantidade de matéria visível nas galáxias, não eram suficientes para explicar factos bem estabelecidos, como as velocidades de rotação das estrelas nas galáxias e, posteriormente, as lentes gravitacionais. 
    Para "salvar os fenómenos", como diziam os astrónomos da Antiguidade, era necessário preencher essa lacuna gravitacional assumindo a presença de outra matéria, esta invisível, mas que obedecia às mesmas leis de gravitação do que a matéria comum. Bastava que essa matéria hipotética fosse distribuída de forma a que reproduzisse bem as observações.
    Embora tal método possa parecer curioso e até arbitrário, não é absurdo nem original. Por exemplo, os astrónomos do século XIX utilizaram-no: as leis de Newton não conseguiam reproduzir as posições dos planetas conhecidos. Assim, presumiram a existência de um planeta não observado na altura e os cálculos de Urban Le Verrier, baseados nas leis de Newton, levaram à descoberta de Neptuno em 1846. 
    Essa abordagem heurística pode, por isso, ser frutuosa, mas nada pode garantir isso. Assim, Le Verrier invocou novamente a existência de um planeta (Vulcano) para explicar as anomalias na trajetória de Mercúrio; contudo, nunca se encontrou esse planeta e Einstein (de novo!) eliminou a sua necessidade com a sua teoria da relatividade geral, que substituiu as leis de Newton. 
    A ideia de matéria escura parece tautologicamente lógica, pois serve apenas, por enquanto, para salvar as teorias em vigor. Mas os físicos de partículas elementares acolheram com entusiasmo essa hipótese e puderam, portanto, começar a imaginar de que tipos de partículas essa matéria exótica poderia ser feita. Como os astrofísicos se contentaram em fixar as suas propriedades gravitacionais, há de facto um vasto campo para os físicos de partículas trabalharem. Os teóricos tentam imaginar a natureza dos seus constituintes, a sua massa, o seu spin, etc. Ao mesmo tempo, os investigadores tentam detetá-la nos seus aparelhos ou produzi-la nos seus aceleradores, essas partículas mais ou menos exóticas responsáveis para o complemento da força gravitacional, de que precisam os astrofísicos.  
    Só o tempo dirá se a matéria escura terminará como Neptuno ou como Vulcano e o Éter. No primeiro caso, as leis atuais da física serão salvas. No segundo, elas terão que ser, novamente, reescritas. 

Fonte:  Pour La Science - novembro 2021, n.º 529, p. 20
Yves Gingras
professor de história e de sociologia das ciências na Universidade do Quebeque, em Montreal,
diretor científico do Observatório das ciências e das tecnologias, do Canadá 
(adaptado)



O que posso observar no céu de novembro?

 
7 - Lua no perigeu a 358 844 Km da Terra - 23:18
8 - Lua a 1,1ºN de Vénus - 05:00
12 - Atividade máxima das Táuridas do Norte, 5/hora - (visível de 20/10 a 10/12) 
17 - Atividade máxima das Liónidas, 10/hora - (visível de 06/11 a 30/11)
19 - Eclipse parcial da Lua - 09:00
21 - Lua no apogeu a 406 279 Km da Terra - 02:13


Céu visível às 18:30 horas do dia 1 de novembro em Lisboa mostrando os planetas Vénus, Júpiter e Saturno.

 Céu visível às 06:40 horas do dia 15 de novembro em Lisboa mostrando os planetas Mercúrio, Marte e as estrelas mais brilhantes: Sírio, Capela, Rígel, Prócion, Betelgeuse, e Arcturo.






Fases da Lua em novembro


04 - às 21h 15min - nova

11 - às 12h 46min - crescente

19 - às 08h 57min - cheia

27 - às 12h 28min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em novembro


MERCÚRIO - Será visível, de manhã, por volta do instante do crepúsculo civil, a partir de 13 de outubro e  até 18 de outubro na constelação de Virgem, depois na de Escorpião e finalmente em Ofiúco. 

VÉNUS - Durante este mês surge como estrela da tarde, na constelação de Ofiúco.

MARTE - Visível ao amanhecer na constelação de Virgem e depois na de Balança.

JÚPITER - Pode ser visto na constelação de Capricórnio, na primeira parte da noite.

SATURNO Pode ser visto durante a primeira metade da noite, na constelação de Capricórnio.
Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)


DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-11-1,205:13:2314°N05:13:2314°N05:14:4510°NNEvisível
2-11-1,406:00:5910°NNO06:03:0716°NNE06:05:1910°NEvisível
3-11-1,305:15:3515°N05:15:3515°N05:17:3010°NEvisível
4-11-1,906:03:1212°NNO06:05:3824°NNE06:08:2710°ENEvisível
5-11-1,705:17:5019°N05:18:0619°NNE05:20:3710°ENEvisível
6-11-0,404:32:3111°NE04:32:3111°NE04:32:4410°NEvisível
6-11-3,106:05:3016°NO06:07:5649°NNE06:11:1210°ESEvisível
7-11-2,505:20:1432°NNE05:20:2833°NNE05:23:3210°Evisível
8-11-0,604:35:0014°ENE04:35:0014°ENE04:35:4510°Evisível
8-11-3,606:08:0022°ONO06:09:5759°SO06:13:1510°SEvisível
9-11-3,605:22:5171°E05:22:5171°E05:25:5610°ESEvisível
10-11-0,604:37:4614°ESE04:37:4614°ESE04:38:2410°ESEvisível
10-11-2,106:10:4618°OSO06:11:4120°SO06:14:1210°Svisível
 

 
Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês



O que é a matéria escura?

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)



Imagem do Mês




Fantasma de Mirach

       No que diz respeito a fantasmas, o Fantasma de Mirach não é assim tão assustador. O Fantasma de Mirach é apenas uma galáxia fraca e difusa, bem conhecida pelos astrónomos, que pode ser vista ao longo da linha de visão de Mirach, uma estrela brilhante. Centrada neste campo estelar, Mirach também é chamada de Beta Andrómeda. A  cerca de 200 anos-luz de distância, Mirach é uma estrela gigante vermelha, mais fria que o Sol, mas muito maior e intrinsecamente muito mais brilhante que a nossa estrela-mãe. Na maior parte das visões telescópicas, os picos de brilho e de difração tendem a esconder coisas que ficam perto de Mirach e fazer com que a galáxia, fraca e difusa, pareça um reflexo fantasmagórico da luz esmagadora da estrela. Apesar disso, a galáxia aparece nesta nítida imagem logo acima e à direita de Mirach. O Fantasma de Mirach é catalogada como NGC 404 e calcula-se que se  encontra a cerca de 10 milhões de anos-luz de distância.
Fonte: www.nasa.gov


Livro do Mês



Sinopse

     Num livro repleto de discussões cativantes sobre temas puramente bizarros e absolutamente deliciosos, o filósofo popular Gary Hayden propõe-nos uma viagem alucinante pelas mais delirantes conclusões filosóficas, como, por exemplo:
- A erva não é verde (Locke);
- Dan Brown é melhor do que Shakespeare (Betham);
- Ser bondoso é um gesto egoísta (Hobbes);
- Harry Potter existe (Meinong).
    Da ética à política, do sexo à religião, em "Não Descartes Estas Ideias", Hayden demonstra, com o auxílio e o exemplo dos grandes filósofos, que estranhas teorias podem ser verdadeiras.
    De Sócrates a Nietzsche, passando por Descartes, esta introdução pouco convencional à filosofia vai pôr em causa as suas crenças, vai enfurecê-lo, entretê-lo e diverti-lo.

Sobre o autor:



Gary Hayden é jornalista e filósofo popular. É mestre em Filosofia e escreveu para o The Times Educational Supplement e para várias revistas. É autor de "This Book Does Not Exist: Adventures in the Paradoxical".    



 





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