Julho 2024

                                                                     

                                            






Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Julho de 2024













Atmosfera confirmada?

Visão artística do exoplaneta "55 Cancri e", uma super-Terra em órbita da sua estrela a apenas 2,25 milhões de quilómetros. Em comparação, Mercúrio está 25 vezes mais afastado do Sol.


As super-Terras são planetas rochosos um pouco maiores e um pouco mais maciços do que a Terra. Até agora, nenhuma atmosfera foi formalmente detetada num corpo desse tipo. Brice-Olivier Demory, da Universidade de Berna, na Suíça, e os seus colegas interessaram-se ​​pelo "55 Cancri e", uma super-Terra que se encontra numa órbita muito próxima da sua estrela. Tem a particularidade de estar em rotação síncrona e, por isso, apresenta sempre a mesma face para o seu sol. Observações anteriores, feitas pelo telescópio Spitzer, revelaram que o seu ponto mais quente não era exatamente quando estava de frente para a estrela. Esta diferença pode ser explicada pela ação de ventos violentos, sendo este um indicativo da presença de uma atmosfera, mas os dados eram insuficientes para fazer esta afirmação com total certeza. Para reforçar esta hipótese, os astrofísicos realizaram uma análise espectral com o telescópio espacial James Webb. Deduziram que a superfície do planeta seria um oceano magmático que liberta dióxido de carbono. Esse processo alimentaria, em contínuo, uma atmosfera permanentemente empurrada pelos ventos vindos da estrela. Segundo Brice-Olivier Demory, esta é «a melhor prova que temos até hoje de uma atmosfera à volta de um exoplaneta rochoso», mas chama a tenção que são necessários outros indícios para o confirmar.

Fonte: Pour la Science, n.º 561 - julho 2024, p. 15

Évrard-Ouicem Eljaouhari
(adaptado)

     

Como é que a vida nasceu na Terra?


A célula, unidade fundamental da vida, permite a coexistência de um metabolismo e de um sistema de reprodução.


Continuam por descobrir as etapas precisas que conduziram ao nascimento dos primeiros sistemas bioquímicos simples das células.

     Se há uma questão que anima desde sempre os cientistas, esta é a da origem da vida. As suas investigações permitiram estabelecer uma data aproximada do seu aparecimento na Terra: entre 3,5 a 4,2 mil milhões de anos. Também conseguiram estabelecer que a presença de água em estado líquido e a matéria orgânica é indispensável. «Mas estes dois componentes não são suficientes. Para falar de vida, duas grandes propriedades são necessárias: o metabolismo, com a capacidade de transformar a matéria em energia e a capacidade de perdurar e de evoluir», explica Purificatión López-García, diretora de investigação do CNRS do laboratório de Ecologia, sistemática e evolução (universidade Paris-Saclay, AgroParis Tech). Para que estas duas propriedades coexistam, é necessário que elas estejam  fisicamente associadas em compartimentos individualizados por membranas capazes de se tornarem, no fim, em células. Isto porque a célula é a unidade fundamental da vida no sentido em que ela permite, como um reator, associar metabolismo e sistema de reprodução.
     Todavia, as etapas precisas que conduziram ao nascimento dos primeiros sistemas bioquímicos simples das células ainda faltam descobrir. «Alguns dizem que o que veio em primeiro lugar foram as funções metabólicas, enquanto outros pensam que foi o material genético, diz-nos a bióloga. Mas a comunidade científica converge cada vez mais para a ideia de que os dois sistemas estão tão intrincados nas células que tiveram de coevoluir em compartimentos para se tornarem protocélulas e dar nascimento à vida. Nesta visão, não se deve esquecer que a vida, ainda que tenha propriedades particulares, o seu lugar enquadra-se numa evolução física e química muito mais alargada, a da evolução da matéria no Universo.» Na verdade, os biólogos conseguiram remontar até a um antepassado ancestral comum teórico, ao estudar as sequências de ácidos aminados ou dos nucleótidos. No entanto, este antepassado é já uma célula relativamente complexa, constituída por várias centenas, ou mesmo milhares de genes. «Será o equivalente a uma pequena bactéria ou uma pequena arquea. Mas os primeiros elementos vivos deveriam ser muitos mais simples e é este caminho, até às protocélulas mais simples, que nos falta compreender», sublinha a investigadora.
     E há ainda outras questões que continuam a colocar-se: este fenómeno só se produziu uma única vez na Terra ou no Universo? Por outras palavras, ninguém sabe atualmente se a vida é um processo improvável ou determinista. «A única forma de o saber seria descobrir uma outra forma de vida num exoplaneta ou reproduzir a vida num tubo de ensaio a partir de compostos minerais e orgânicos abióticos, tais como existiam há cerca de 4 mil milhões de anos e não com o inventário genético das espécies que conhecemos. Ora, não temos resposta para o primeiro caso e não o sabemos fazer, pelo menos ainda, no segundo caso.»
     
Fonte: Sciences et Avenir, n.º 929/930 - junlo/agosto 2024, p. 37

Fanny Costes
(adaptado)


Breves de julho



O telescópio espacial James-Webb permitiu, pela primeira vez, sondar o núcleo de um exoplaneta. A orbitar uma estrela a 212 anos-luz da Terra, o vaporoso WASP-107 b com um tamanho comparável ao de Júpiter, mas com uma massa dez vezes inferior. Para além do seu núcleo com cerca de 12 massas terrestres, os cientistas puderam avaliar a sua quantidade de vapor de água e de dióxido de carbono.    


Um novo sucesso espacial foi atribuído à China. A 2 de junho, fez aterrar a sonda Chang'e 6 na face escondida da Lua, uma novidade, no nível da imensa bacia do Polo-Sul Aitken, para recolher bocados de rochas da superfície e até 2 metros de profundidade. Estas amostras devem ser recuperadas, quando chegarem à Terra, em 27 de junho. Um «tesouro» que permite compreender a história e a geologia deste astro.



Um estudo mostra que as águias gritadeiras (Clanga clanga), grandes aves de rapina migradoras do leste da Europa, habituadas a voltarem todos os anos aos locais de reprodução no sul da Bielorrússia, modificaram o seu percurso desde o início da guerra da Ucrânia. Estas aves evitam as cidades e já não fazem escala neste país.  

Fonte: Sciences et Avenir, n.º 929/930 - junlo/agosto 2024 



O que posso observar no céu de julho?



2 - Lua no perigeu a 363 081 Km da Terra - 08:23
7 - Lua a 2ºS de Mercúrio - 21:23
10 - Pico da chuva de meteoros das Pegasídeos
12 - Lua no apogeu a 407 955 Km da Terra - 09:12
14 - Lua a 1º S de Spica - 02:48
24 - Lua no perigeu a 361 771 Km da Terra - 06:43
24 - Lua a 0,6º N de Saturno - 21:38
28 - Auge da chuva de meteoros das Dracónidas 
29 - Lua a 1º S das Pléiades - 22:13
31 - Auge da chuva de meteoros das alfa Capricornídeos e delta Aquáridas do sul

 




Fases da Lua em julho


                05 - às 23h 57min - nova

                13 - às 23h 49min - crescente

                21 - às 11h 17min - cheia
       
                28 - às 03h 52min - minguante
                
          









Planetas visíveis a olho nu em julho


MERCÚRIO  Neste mês só pode ser visto a partir do crepúsculo matinal, a partir das sete horas e trinta. 

VÉNUS - Não pode ser visto neste mês. 
 
MARTE Pode ser visto todo este mês, de madrugada, por volta das 02:50 horas, no dia 1 e, gradualmente, vai nascendo mais cedo. 

JÚPITER Neste mês pode ser avistado a partir do dia 1, por volta das 04:00 horas e, gradualmente, vai nascendo mais cedo. 

SATURNO - Pode ser visto por volta das 00:38 horas, aparecendo cada vez mais cedo.
 
Fonte: APP Sky Tonight




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)

ataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-7-2,502:48:1040°N02:48:1040°N02:50:4710°NEvisível
1-7-1,004:22:4510°NO04:24:5516°NNO04:27:0610°NNEvisível
2-7-1,402:01:4121°NE02:01:4121°NE02:02:5510°NEvisível
2-7-1,203:34:3611°ONO03:36:4719°NNO03:39:1610°NNEvisível
2-7-0,805:12:4010°NNO05:14:3214°N05:16:2510°NEvisível
3-7-1,702:48:0122°NO02:48:3824°NNO02:51:2610°NEvisível
3-7-0,804:24:3010°NO04:26:1914°N04:28:0710°NNEvisível
4-7-1,702:01:1828°N02:01:1828°N02:03:3410°NEvisível
4-7-0,703:36:0710°NO03:38:0214°N03:39:5910°NNEvisível
4-7-0,805:13:2910°NNO05:15:4917°NNE05:18:0910°ENEvisível
5-7-1,301:14:2819°NE01:14:2819°NE01:15:3810°NEvisível
5-7-0,802:47:3410°NO02:49:4516°NNO02:51:5610°NNEvisível
5-7-0,704:25:3010°NNO04:27:3315°N04:29:3410°NEvisível
6-7-0,900:27:2312°NE00:27:2312°NE00:27:3610°NEvisível
6-7-1,102:00:1416°NO02:01:2719°NNO02:03:5710°NNEvisível
6-7-0,603:37:2010°NNO03:39:1114°N03:41:0210°NEvisível
6-7-1,405:13:5210°NO05:16:4827°NNE05:19:4310°Evisível
7-7-1,501:12:3923°NO01:13:0824°NNO01:15:5710°NEvisível
7-7-0,502:48:5910°NO02:50:4714°N02:52:3610°NNEvisível
7-7-1,004:25:5310°NNO04:28:3021°NNE04:31:0810°ENEvisível
7-7-1,622:50:3314°ENE22:50:3314°ENE22:51:0710°ENEvisível
8-7-2,100:22:5718°O00:24:5033°NNO00:27:5510°NEvisível
8-7-0,502:00:2510°NO02:02:2114°N02:04:1810°NNEvisível
8-7-0,703:37:5010°NNO03:40:0717°NNE03:42:2510°ENEvisível
8-7-3,005:14:0610°NO05:17:2558°NNE05:20:4410°ESEvisível
8-7-2,421:57:4010°S22:00:0319°SE22:02:2710°Evisível
8-7-2,923:33:1810°OSO23:36:3351°NNO23:39:4810°NEvisível
9-7-0,701:11:4210°NO01:13:5416°NNO01:16:0610°NNEvisível
9-7-0,502:49:4010°NNO02:51:4015°N02:53:4010°NEvisível
9-7-2,104:25:5910°NO04:29:0837°NNE04:32:1710°Evisível
9-7-3,822:44:5810°SO22:48:1786°NNO22:51:3710°NEvisível
10-7-0,900:22:5510°ONO00:25:2519°NNO00:27:5710°NNEvisível
10-7-0,402:01:2010°NNO02:03:0914°N02:04:5710°NEvisível
10-7-1,403:37:5210°NO03:40:4526°NNE03:43:3810°Evisível
10-7-3,605:14:2410°ONO05:17:3949°SO05:20:5410°SEvisível
10-7-3,721:56:4810°SO22:00:0253°SE22:03:1710°ENEvisível
10-7-1,423:34:0810°O23:36:5725°NNO23:39:4710°NEvisível
 
Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês



A evolução da Terra em 10 minutos
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês




Cometa 13P/Olbers

       Não é um paradoxo, o Cometa 13P/Olbers está a voltar ao Sistema Solar interno após 68 anos. O cometa periódico, do tipo do cometa Halley, atingirá o seu próximo periélio ou a aproximação mais perto do Sol, em 30 de junho, tornando-se um alvo para a visualização com binóculos nos céus noturnos do hemisfério norte. Mas esta nítida imagem telescópica do 13P é composta por múltiplas exposições, realizadas na noite de 25 de junho. Revela facilmente detalhes mutáveis ​​na cauda de iões rasgada e esfarrapada deste cometa brilhante, fustigada pelo vento de um Sol ativo, com uma cauda de poeira larga e espalhada e com uma coma levemente esverdeada. A imagem abrange mais de dois graus, com o fundo de estrelas fracas na direção da constelação do Lince.

Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês



Sinopse

Depois de A Fábrica de Cretinos Digitais nos alertar para os perigos que a exposição excessiva aos ecrãs representa para o desenvolvimento das crianças, o prestigiado neurocientista Michel Desmurget revela-nos agora qual é o grande antídoto - o principal, até - contra o surgimento do «cretino digital»: ler «por prazer».

A começar pela linguagem, os benefícios da leitura são enormes, conforme comprovam centenas de estudos realizados nos últimos cinquenta anos. Além disso, ler tem também um impacto tremendo na cultura geral, nos resultados escolares (incluindo na matemática), no sucesso profissional, na mobilidade social, na atenção, empatia e saúde física e mental.

Neste livro, a leitura surge como a base que permite à criança desenvolver os três pilares da sua essência humana: aptidões intelectuais, competências emocionais e habilidades sociais. Michel Desmurget mostra-nos ainda que, apesar dos esforços dos media para nos convencer do contrário, os jovens não só leem cada vez menos, como leem cada vez pior. Segundo ele, saber ler é mais do que decifrar o alfabeto e juntar letras e sílabas - é preciso que a criança compreenda e interprete o que está escrito. Só assim poderá aprender a compreender o meio em que está inserida. O papel dos pais é, por isso, fundamental, cabendo a estes estimular nos filhos o gosto pela leitura mediante as estratégias apontadas pelo autor.

Face à sedução crescente dos ecrãs que tanto prejudicam o desenvolvimento dos nossos filhos, tanto a nível intelectual e cognitivo como físico-motor, Michel Desmurget apresenta-nos a leitura como a única forma de resistência possível ao avanço incontrolável do digital, num livro absolutamente imprescindível para pais e educadores.

Sobre o autor:



Michel Desmurget (1965) é um dos mais prestigiados neurocientistas do mundo. Doutorado em Neurociências, é diretor de investigação do INSERM. Com livros traduzidos em vinte países, é autor do bestseller A Fábrica de Cretinos Digitais – Os perigos dos ecrãs para os nossos filhos, que a Contraponto publicou em 2021.

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