Junho 2024

                                                                                                         




Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Junho de 2024













Começa a levantar-se o véu sobre a energia escura


O instrumento DESI mapeou 40 milhões de objetos em 3D a uma distância de 12 mil milhões de anos-luz. Cada ponto representa uma galáxia e assim permite-nos ver como a matéria está estruturada no Universo.

Se confirmadas, as primeiras observações do instrumento DESI revolucionariam a nossa compreensão desta misteriosa energia que está na origem da expansão do Universo.

Lançada em maio de 2021, a colaboração DESI (Dark Energy Spectroscopic Instrument) revelou uma primeira colheita de dados particularmente promissores para elucidar a natureza da energia escura. Na origem da aceleração da expansão do Universo, esta forma de energia está no centro do trabalho do instrumento instalado no local do observatório Kitt Peak, no Arizona (Estados Unidos). O seu objetivo? Mapear 40 milhões de galáxias e quasares (fonte de radiação intensa associada a um buraco negro supermassivo no coração de uma galáxia) localizados entre mil milhões e 12 mil milhões de anos-luz de nós. Este mapa tridimensional, cujo primeiro rascunho foi revelado, permitirá observar a evolução ao longo do tempo da ação da energia escura sobre a matéria.

A sua ação evoluir-á no tempo

Compilando um ano de medições do espectrógrafo, estes primeiros dados são promissores para Michael Levi, diretor do DESI e investigador do Laboratório Nacional Lawrence-Berkeley (Estados Unidos).
Até agora temos visto uma concordância com o nosso modelo atual do Universo, mas também vemos diferenças potencialmente interessantes que podem indicar que a energia escura está a mudar ao longo do tempo”, explica. O comportamento da energia escura ao longo do tempo é um dado fundamental para resolver as muitas hipóteses sobre a sua natureza, como explica Francis Bernardeau, investigador do Instituto de Física Teórica de Saclay (Essonne). “Dependendo da teoria considerada, a evolução temporal não será a mesma. No caso da quintessência [ação repulsiva de um campo escalar no mesmo espírito da inflação cósmica], por exemplo, a energia escura dilui-se um pouco ao longo do tempo... A sua ação no passado é, portanto, reforçada. Ao passo que se a energia escura é na verdade uma propriedade intrínseca do espaço-tempo, uma “constante cosmológica”, então ela não é diluída."
A confirmação de que a ação da energia escura evolui ao longo do tempo permitiria excluir a hipótese da “constante cosmológica”, que foi feita por Albert Einstein como parte de sua teoria da relatividade geral. No entanto, estes são resultados provisórios, não suficientemente significativos para tomar uma decisão.
Estes podem ser confirmados ou refutados com mais dados, por isso estamos entusiasmados por começar, em breve, a analisar o nosso conjunto de dados que recolhemos durante
três anos”, conclui Michael Levi.
Fonte: Science et avenir, n.º 928 - junho 2024, p. 8

F. N.
(adaptado)

     

O "Antropoceno", ciência ou convenção?

Identificar o impacto dos humanos na Terra está longe de ser uma uma abordagem puramente científica.

     Os geólogos têm debatido, há vários anos, muitas vezes apaixonadamente, se uma nova época geológica deveria ser acrescentada à mais recente, o Holoceno, que remonta a quase 12 000 anos. Contudo, em março passado, um subcomité da Comissão Internacional de Estratigrafia tomou uma decisão. A votação foi fortemente negativa: doze votos contra e apenas quatro a favor da ideia de identificar uma nova camada estratigráfica, o Antropoceno, que teria começado em 1952. Tudo com base na presença, nos sedimentos do Lago Crawford, Canadá, do plutónio proveniente da explosão das bombas de hidrogénio. A decisão causou muita frustração e o presidente da comissão chegou a solicitar o cancelamento da votação por questões processuais. Entende-se que para os promotores da noção de “Antropoceno”, que enfatiza esse impacto – especialmente negativo – do homem no planeta, fixar este termo numa categoria geológica oficial teria sido um grande ganho dando um rótulo científico aos discursos ambientais sobre os efeitos negativos da presença humana na Terra. Para além disso, a referência à bomba atómica só poderia aumentar a sua conotação moral. Mas os geólogos continuam divididos e alguns consideram que é melhor falar de um “evento” do que de uma “época”, enquanto outros insistem que é um processo contínuo e que o impacto do homem na Terra tem sido sentido há muito tempo e de diversas maneiras.
     Este debate não é, portanto, puramente científico e o termo “Antropoceno” é uma questão de lutas de natureza mais política e ideológica do que estritamente científica. Já podemos imaginar os céticos do clima aproveitando a oportunidade para dizer que os “cientistas” concluíram a inocuidade da atividade humana no planeta! Se a votação tivesse sido positiva, os ecologistas ter-se-iam apressado em declarar vitória dizendo que os cientistas” confirmaram a existência de uma nova “época da natureza” – para retomar a expressão do naturalista Buffon que, em meados do século XVIII, identificou sete...
     O debate que esta decisão gerou lembra-nos que, às vezes, crenças que nada têm que ver com a ciência influenciam as convenções da ciência. Aqui trata-se da escolha do nome mais adequado, mas também pode dizer respeito a situações que julgávamos bem estabelecidas, como pertencer a uma categoria que parecia cientificamente fundamentada. O caso do status de Plutão é um exemplo notável.
     Desde a sua descoberta em 1930, pelo americano Clyde Tombaugh, ninguém se perguntava se Plutão era um planeta, pois isso era demasiado evidente, até ao dia em que um novo objecto, Eris, maior que Plutão e também localizado na região do cinturão de asteróides Kuiper, obriga-nas a fazer a pergunta. Os membros da União Astronómica Internacional tomaram uma decisão em 2006 afirmando que Plutão, em última análise, não era um planeta “real”! Na verdade, a nova definição oficial de planeta acrescenta um pequeno critério que muda tudo: além de ser esférico e girar em torno do Sol, o objeto deve ser suficientemente grande para “limpar” os detritos da sua órbita. No entanto, se os oito planetas habituais cumprem este critério, o mesmo não acontece com Plutão e os outros objetos da cintura de Kuiper.
     A decisão de “rebaixar” o estatuto de Plutão desta forma não agradou a todos e os astrónomos alegaram que constituía uma afronta à astronomia americana. As autoridades do Novo-México até responderam a este assunto declarando o dia do “Planeta Plutão”!
     Se isso fosse necessário, estes exemplos lembram-nos que nem tudo na ciência se baseia em factos científicos e que por vezes temos simplesmente de votar para estabelecer uma convenção... até que um novo facto nos obrigue a revê-lo.
Fonte: Pour la Science, n.º 560 - junho 2024, p. 20

Yves Gingras
Professor de história e sociologia da ciência
na Universidade de Quebec em Montreal, 
diretor científico do Observatório de Ciência e Tecnologia, 
no Canadá
(adaptado)


Breves de junho



Os dados do telescópio Gaia contêm surpresas. Pasquale Panuzzo, do observatório de Paris, e os seus colegas detetaram que uma estrela localizada a 1926 anos-luz de distância da Terra forma, na realidade, um sistema binário com um buraco negro... com uma massa igual a 33 vezes a do Sol! É o maior buraco negro de origem estelar conhecido na Via Láctea. Diz-se que este buraco negro está “adormecido” porque o seu companheiro está demasiado afastdao para absorver qualquer gás, um processo que é acompanhado por fortes emissões de raios X.


A lua de Júpiter, Io, é o corpo com maior atividade vulcânica em todo o Sistema Solar. Mas desde quando? A equipa de Catarina de Kleer, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, encontrou a resposta ao estudar a composição da sua ténue atmosfera. Fê-lo medindo a concentração de moléculas contendo diferentes isótopos de enxofre e de cloro. Tendo em conta a fuga para o espaço dos isótopos mais leves e o fornecimento contínuo de novas moléculas pelos vulcões, os isótopos pesados ​​foram-se acumulando. Segundo dados do observatório Alma, Io apresenta uma intensa atividade vulcânica desde o seu nascimento, há 4,57 mil milhões de anos.



Já conhecíamos o grafeno, composto por uma camada monoatómica de carbono. Seguindo a mesma ideia, o goldeno, com uma única camada de átomos de ouro, já era procurado há muito tempo, mas o seu fabrico era difícil, pois este metal tem tendência a aglomerar-se. A equipa de Lars Hultman, da Universidade de Linköping, na Suécia, acaba de sintetizá-lo por meio de um método simples. O ouro já era conhecido pelas suas propriedades catalisadoras, o goldeno poderá ter funções ainda mais poderosas.  

Fonte: Pour la Science - junho de 2024 



O que posso observar no céu de junho?



2 - Lua no perigeu a 363 081 Km da Terra - 08:23
3 - Lua a 2ºS de Marte - 00:37
7 - Pico da chuva de meteoros das Perseidas Diurnas
7 - Pico da chuva de meteoros das Ariétidas Diurnas
12 - La a 3ºS de Regulus - 04:00
14 - Lua no apogeu a 403 123 Km da Terra - 14:36
20 - Solstício. Início do verão - 21:51
25 - Pico da chuva de meteoros das beta Taurídeos Diurnas
27 - Pico da chuva de meteoros das Bootídeos de junho
27 - Lua no perigeu a 369 932 Km da Terra - 12:45

 




Fases da Lua em junho


                06 - às 13h 38min - nova

                14 - às 06h 18min - crescente

                22 - às 02h 08min - cheia
       
                28 - às 22h 53min - minguante
                
          









Planetas visíveis a olho nu em junho


MERCÚRIO  Neste mês só pode ser visto a partir do dia 27 no crepúsculo matinal. 

VÉNUS - Não pode ser visto neste mês. 
 
MARTE Pode ser visto todo este mês, de madrugada, por volta das 03:50 horas, no dia 1 e, gradualmente, vai nascendo mais cedo. 

JÚPITER Neste mês pode ser avistado a partir do dia 13, por volta das 04:54 horas e, gradualmente, vai nascendo mais tarde. 

SATURNO - Pode ser visto por volta das 02:22 horas, aparecendo cada vez mais cedo.
 
Fonte: APP Sky Tonight




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)


Não há passagens visíveis até ao dia 10 de junho 

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês



O que é a energia escura?

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês



Um filamento solar entra em erupção

       O que é que está a acontecer com o Sol? Nada de muito incomum – apenas lançou mais um filamento para o espaço. Em meados de 2012, um filamento solar irrompeu repentinamente para o espaço, produzindo uma ejeção de massa coronal energética (CME). O filamento ficou preso durante dias pelo campo magnético do Sol, em constante mudança, e o momento da erupção foi inesperado. Observada de perto pelo Solar Dynamics Observatory, a explosão daí resultante disparou eletrões e iões para o Sistema Solar, alguns dos quais chegaram à Terra três dias depois e invadiram a magnetosfera terrestre, causando fortes auroras. Círculos de plasma à volta da região ativa podem ser vistos acima do filamento em erupção neste imagem em ultravioleta. O nosso Sol está a aproximar-se do período mais ativo do seu ciclo de 11 anos, criando muitos buracos coronais que permitem a ejeção de partículas carregadas para o espaço. Estas partículas carregadas podem criar auroras.

Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês



Sinopse

Desde o surgimento do Homo sapiens na árvore evolutiva dos grandes primatas e a revolução cognitiva sem paralelo que isso representou há 50 mil anos, a capacidade da nossa espécie entender e modificar o seu ambiente revelou-se ilimitada. Contudo, o mistério da natureza humana permanece insondável. Aquilo que realmente somos e o que nos move desafia a racionalidade.

Durante séculos, cientistas, filósofos e líderes espirituais questionaram-se sobre o nosso «como» e o nosso «porquê». Este livro tem, por fim, as respostas: porque é que desejamos a liberdade, mas precisamos de ordem, porque é que somos a espécie mais fútil, apesar de nos considerarmos superiores a todas as outras, e porque é que continuamos reféns de ideologias contraditórias - democracia ou totalitarismo, excesso ou frugalidade, espiritualidade ou materialismo… Do extremismo ideológico à crise energética, este livro explica-nos por fim porque fazemos o que fazemos, porque somos como somos.

Piazza é um intrépido explorador da evolução e da biologia, oferecendo-nos uma leitura totalmente nova do ser humano, das suas motivações e dos seus excessos. Só ligando os pontos, como o autor faz neste livro, é possível ver a nossa história como um todo, com as implicações revolucionárias que isso nos traz. Uma mudança de paradigma que pode abrir novas portas à nossa evolução.


Sobre o autor:



Pier Vincenzo Piazza é um médico especializado em psiquiatria, diretor de investigação no INSERM (Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica francês) e antigo diretor do Neurocentre Magendie no INSERM (Bordéus). Foi laureado com o Grand Prix de l’INSERM e o Grand Prix de Neurologie (Academia Francesa das Ciências, 2015). O seu trabalho sobre as bases neurofisiológicas da toxicodependência e da psicopatologia é inovador e revolucionou estas áreas de estudo. É reconhecido pelo rigor experimental e como um visionário na área da ciência.

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