Setembro 2023
Ciência Na Frente
Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande
Setembro de 2023
Quando os dias duravam apenas dezanove horas
Atualmente, a duração do dia é de vinte e quatro horas. Mas, no passado, o nosso planeta girava mais depressa sobe si mesmo e, por isso, os dias eram mais curtos. |
A duração da luz do dia aumentou ao longo da história da Terra. Mas entre os 2 mil milhões de anos e o mil milhão de anos atrás, essa duração teria estagnado em cerca de dezanove horas.
Parece evidente: na Terra, a duração de um dia é de aproximadamente vinte e quatro horas. Mas nem sempre foi assim. A duração do dia depende da velocidade de rotação da Terra: quanto maior for, mais curtos serão os dias. Em média, a velocidade de rotação do planeta está a diminuir ao longo do tempo, devido ao “atrito” ligado às forças das marés que ocorrem entre a Terra e a Lua. Por isso, a duração do dia tem-se prolongado desde há milhares de milhões de anos. Mas este aumento é progressivo ou por etapas sucessivas? Os últimos trabalhos de Ross Mitchell, da Academia de Ciências Chinesas, e Uwe Kirscher, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, inclinam-se a favor da segunda hipótese.
Os investigadores usaram dados de 22 estudos cicloestratigráficos, que permitem estudar a evolução dos parâmetros da rotação da Terra (os ciclos de Milankovitch) em depósitos sedimentares. Como um parâmetro desses ciclos depende, entre outras coisas, da velocidade de rotação do nosso planeta, deduziram a duração do dia ao longo da história da Terra. De acordo com os seus resultados, a sua velocidade aumentou regularmente até aos 2 mil milhões de anos atrás, depois estagnou num valor de cerca de dezanove horas, por volta do Proterozóico, antes de começar a aumentar há mil milhões de anos.
Para explicar esta estabilização durante mil milhões de anos, Ross Mitchell e Uwe Kirscher invocaram a aceleração causada pelos os efeitos das marés exercidos pelo Sol na atmosfera da Terra. Na verdade, enquanto as marés oceânicas lunares (as marés no sentido corrente) tendem a reduzir a velocidade da rotação terrestre, as marés solares atmosféricas, que são explicadas principalmente pelo efeito do aquecimento cíclico das massas de ar pelo Sol, tendem a aumentá-la. Atualmente, o efeito da Lua é maior do que o do Sol: a rotação da Terra diminui devagar, mas está a acontecer.
No entanto, durante o período de mil milhões de anos identificados pelos dois investigadores, a rotação da Terra era mais rápida e o “atrito” com a Lua era menor. Para além disso, no seguimento da Grande Oxigenação, há cerca de 2,3 mil milhões de anos, grandes quantidades de ozono ter-se-iam acumulado na estratosfera. Este teria amplificado o efeito das marés solares e teria compensado o efeito das marés lunares, explicando a estabilidade observada.
O período em causa corresponde ao que os geólogos chamam de «o mil milhão aborrecido», durante o qual a vida evoluiu pouco, o que poderia corresponder em particular a esta estagnação da duração do dia. A partir dos mil milhões de anos, quando a duração do dia recomeçou aumentar (talvez graças às modificações atmosféricas), os dias mais longos permitiram a fotossíntese bacteriana mais sustentada e, assim, uma segunda acumulação de oxigénio na atmosfera, necessário para o aparecimento da vida pluricelular.
Fonte: Pour la Science - n.º 551 - setembro 2023
Nicolas Butor
(adaptado)
Uma bactéria estará implicada na endometriose?
A culpada seria da bactéria Fusobacterium nucleatum, que normalmente é encontrada no boca e na microbiota intestinal. Ora ela estava presente no útero de 64% das mulheres seguidas que sofriam de endometriose, em comparação com apenas 7% de mulheres sem endometriose. «Algumas pesquisas anteriores mostraram que o ambiente bacteriano uterino era perturbado em pacientes que sofrem de endometriose. Este artigo é interessante porque explora esta via infecciosa, até agora pouco explorada. Para além disso, evidencia uma colonização bacteriana claramente anormal no tecido endometriótico infiltrado num outro órgão», destaca Camille Berthelot, que trabalha nos determinantes genéticos da endometriose no Instituto Pasteur.
Os investigadores começaram por identificar os fibroblastos, as células do endométrio, com um perfil de expressão genética diferente entre os dois grupos de mulheres, um em que sofrem da doença e o outro em que não sofrem. Entre os genes cuja expressão foi fortemente modificada, um gene que codifica a proteína transgelina (TAGLN) chamou-lhes a atenção: esta proteína, mais expressa do que o normal, confere às células a capacidade de se contrair e de migrar. Ela também está ligada à expressão de uma citocina inflamatória, IL-6, que causa uma proliferação anormal das células do endométrio. A equipa percorreu assim toda a pista desta disfunção específica.
A expressão do gene TAGLN seria controlada por regulações epigenéticas ativadas pelo fator de crescimento TGF-ß, ele próprio segregado por células imunitárias quando se dá uma infeção pela Fusobacterium nucleatum.
Modelos animais de ratos nos quais a endometriose é induzida, mostram que as lesões endometriais são favorecidas por uma infeção desta bactéria. Ainda mais interessante, um tratamento com antibiótico reduz a frequência e o tamanho das lesões. Face a esta esperança terapêutica, os investigadores japoneses anunciaram o lançamento de um ensaio clínico em humanos.
No entanto, ainda permanecem muitas incógnitas. «A demonstração é relativamente convincente e sugere uma ligação causal entre a infeção e o desenvolvimento de lesões, no entanto esta ligação não foi formalmente estabelecida. A infeção pode ser um fator entre outros», afirma Camille Berthelot. Ainda falta perceber por que vias a bactéria Fusobacterium coloniza o útero de certas mulheres e porquê que, só em algumas, promove uma patologia deste tipo.
Fonte: Pour la Scince, n.º 551 - setembro 2023
Noëlle Guillon
(adaptado)
O que posso observar no céu de setembro?
04 - Lua a 2ºN de Júpiter - 18:37
09 - Auge da chuva de meteoros epsilon Perseidas de setembro
12 - Lua no apogeu a 403 405 Km da Terra - 16:42
16 - Lua a 0,7ºN de Marte - 23:04
23 - Equinócio de Outono - 07:50
27 - Lua a 3ºS de Saturno - 02:00
27 - Auge da chuva de meteoros sextantids diurnas
28 - Lua no perigeu a 356 023 Km da Terra - 02:05
Fases da Lua em setembro
15 - às 02h 40 min - nova
22 - às 20h 32min - crescente
22 - às 20h 32min - crescente
29 - às 10h 57min - cheia
06 - às 23h 21min - minguante
Planetas visíveis a olho nu em setembro
MERCÚRIO - Pode ser visto no início do crepúsculo matutino, durante todo o mês entre as 5 e as 6 da manhã.
VÉNUS - Pode ser visto de madrugada depois das quatro da manhã . É um dos astros mais brilhantes do céu noturno.
JÚPITER - Pode ser visto toda a noite durante este mês, a partir das vinte e duas horas e trinta minutos, indo gradualmente nascendo mais cedo.
SATURNO - Pode ser visto a partir das 19:42 horas, durante toda a noite, indo gradualmente nascendo mais cedo até ao fim deste mês.
Fonte: APP Sky Tonight
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Data | Magnitude | Início | Ponto mais alto | Fim | Tipo da passagem | ||||||
(mag) | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | ||
22-9 | -1,1 | 20:37:13 | 10° | NO | 20:39:08 | 14° | N | 20:41:03 | 10° | NNE | visível |
22-9 | -0,4 | 22:14:33 | 10° | NNO | 22:14:48 | 11° | NNO | 22:14:48 | 11° | NNO | visível |
23-9 | -1,3 | 21:26:39 | 10° | NNO | 21:28:36 | 15° | N | 21:28:36 | 15° | N | visível |
24-9 | -1,2 | 20:38:35 | 10° | NNO | 20:40:27 | 14° | N | 20:42:18 | 10° | NE | visível |
24-9 | -0,3 | 22:15:06 | 10° | NO | 22:15:17 | 11° | NO | 22:15:17 | 11° | NO | visível |
25-9 | -1,2 | 19:50:20 | 10° | NO | 19:52:08 | 14° | N | 19:53:57 | 10° | NNE | visível |
25-9 | -1,5 | 21:27:12 | 10° | NNO | 21:29:02 | 19° | N | 21:29:02 | 19° | N | visível |
26-9 | -1,7 | 20:39:15 | 10° | NNO | 20:41:35 | 17° | NNE | 20:42:46 | 15° | NE | visível |
26-9 | -0,2 | 22:15:32 | 10° | NO | 22:15:41 | 11° | NO | 22:15:41 | 11° | NO | visível |
27-9 | -1,4 | 19:51:11 | 10° | NNO | 19:53:14 | 15° | N | 19:55:17 | 10° | NE | visível |
27-9 | -1,9 | 21:27:31 | 10° | NO | 21:29:25 | 27° | NNO | 21:29:25 | 27° | NNO | visível |
28-9 | -2,4 | 20:39:30 | 10° | NO | 20:42:26 | 27° | NNE | 20:43:10 | 25° | NE | visível |
29-9 | -2,0 | 19:51:29 | 10° | NNO | 19:54:06 | 21° | NNE | 19:56:43 | 10° | ENE | visível |
29-9 | -2,1 | 21:27:51 | 10° | NO | 21:29:51 | 33° | ONO | 21:29:51 | 33° | ONO | visível |
30-9 | -3,6 | 20:39:40 | 10° | NO | 20:42:59 | 58° | NNE | 20:43:39 | 46° | E | visível |
1-10 | -3,0 | 19:51:31 | 10° | NO | 19:54:40 | 37° | NNE | 19:57:31 | 12° | E | visível |
1-10 | -1,6 | 21:28:26 | 10° | ONO | 21:30:27 | 24° | OSO | 21:30:27 | 24° | OSO | visível |
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
Vídeo do Mês
A evolução da Terra em 10 minutos
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Imagem do Mês
O grande aglomerado globular em Hércules
Em 1716, O astrónomo inglês Edmond Halley disse: "Esta é apenas uma pequena mancha, mas que é visível a olho nu, quando o Céu está sereno e a Lua ausente". Naturalmente, que a M13 é agora reconhecida como o Grande Aglomerado Globular em Hércules, um dos aglomerados estelares globulares mais brilhantes do céu do norte. Imagens telescópicas tão nítidas como esta revelam as centenas de milhares de estrelas deste espetacular aglomerado. A uma distância de 25.000 anos-luz, as estrelas do aglomerado concentram-se numa região de 150 anos-luz de diâmetro. Aproximando-nos do núcleo do enxame, mais de 100 estrelas poderiam estar contidas num cubo de apenas 3 anos-luz de lado. Para termos uma comparação, a estrela mais próxima do Sol está a cerca de 4 anos-luz de distância. A notável gama de brilho desta imagem segue as estrelas até ao núcleo do denso aglomerado.
Fonte: www.nasa.gov
Livro do Mês
Sinopse
Sentimos, logo existimos. As sensações conscientes fundamentam a noção de perceção de nós próprios. São essenciais para a nossa ideia de nós mesmos como seres psíquicos: presentes, existentes e importantes. Mas são apenas os humanos que sentem isto? E os outros animais? E as máquinas do futuro? Para responder a estas questões necessitamos de uma compreensão científica da consciência: o que é e por que razão evoluiu?
Nicholas Humphrey tem pesquisado estas questões há cinquenta anos. Neste livro extraordinário, em que cruza aventura intelectual, ciência de vanguarda e as suas próprias experiências inovadoras, o autor conta o percurso da sua pesquisa para revelar a história evolutiva da consciência, e desenvolve uma explicação do sentimento consciente - «consciência fenomenal». O seu objetivo é, então, conseguir explicar o maravilhoso e estranho facto dessa «consciência fenomenal» - a vermelhidão de uma papoila, a doçura do mel, a dor de uma picada de abelha. Qual o significado desta dimensão mágica da experiência? Para que serve? E por que razão evoluiu?
Humphrey apresenta aqui uma nova solução. Ele propõe que a consciência fenomenal, longe de ser primitiva, é um desenvolvimento evolutivo relativamente tardio e sofisticado, e não é exclusivamente humano. As implicações da existência de senciência em animais são surpreendentes e provocadoras.
Sobre o autor:
Nicholas Humphrey é um psicólogo teórico, sediado em Cambridge, que estuda a evolução da inteligência e da consciência. Os seus interesses são abrangentes. Foi o primeiro a demonstrar a existência de «visão cega» após danos cerebrais em macacos, fez pesquisa no Ruanda sobre gorilas da montanha com Dian Fossey, propôs a célebre teoria da «função social do intelecto» e investigou o passado evolutivo da religião, da arte, da cura, da consciência da morte e do suicídio. As suas distinções incluem o Prémio Memorial Martin Luther King, a Medalha Pufendorf e o Prémio Internacional Mente e Cérebro. Os seus livros mais recentes são Seeing Red e Soul Dust.
Comentários
Enviar um comentário