Abril 2023

 

                                     
                                                                         
                                                                              



Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Abril de 2023














A caminho das luas oceânicas de Júpiter


A sonda europeia irá orbitar Ganimedes, que contem um gigantesco oceano por baixo da sua superfície gelada.  


     A missão Juice irá sobrevoar, a partir de 2031, Calisto, Europa e Ganimedes. Permanecerá em órbita deste último quase um ano.

   A data de descolagem está prevista a partir de 13 de abril! A Agência Espacial Europeia (ESA) prepara-se para a sua próxima grande missão de exploração espacial, com destino às luas galilaicas geladas de Júpiter. A Juice (sigla de JUpiter ICy moon Explorer) terá como missão estudar o potencial de habitabilidade de Calisto, Europa e particularmente de Ganimedes, que supostamente abriga imensos oceanos. Para se aproximar deste gigante gasoso, em julho de 2031, a sonda terá que contar com a ajuda gravitacional da Terra e de Vénus, com uma última volta ao nosso planeta prevista para janeiro de 2029. Uma vez a caminho, Juice irá sobrevoar várias vezes Calisto, Europa e Ganimedes para os analisar com os seus dez instrumentos (espetrómetro, radar, câmera, magnetómetro, etc,) Terminará a sua missão a partir de dezembro de 2034, com Ganimedes, a maior lua do Sistema Solar, ficando na sua órbita quase um ano.
     Com o seu variado relevo, uma estrutura interna complexa, do qual fazem parte um oceano por baixo da sua superfície e várias outras características únicas, «Ganimedes interessa a todas as comunidades científicas que se debruçam sobre a planetologia», realça Olivier Grasset, do Laboratório de Planetologia e Geociências da Universidade de Nantes. A principal atração deste astro é o seu oceano gigante. «Calcula-se que a hidrosfera, que é composta pelo manto gelado e pelo oceano líquido, meça no mínimo 500 quilómetros de espessura! Ou seja, cerca de 50% da massa desta lua, enquanto que a água existente na Terra não ultrapassa 0,01% da sua massa. Tem por isso uma quantidade fenomenal de água», lança Olivier Grasset.

Uma lua potencialmente habitável 

     A hipótese da «sanduiche», aponta para que o ouro azul esteja preso entre dois mantos de gelo, a várias dezenas de quilómetros de profundidade. Este meio interessa imenso aos astrobiólogos que estudam as condições do aparecimento da vida na Terra e a habitabilidade de outros corpos celestes. Com as moléculas orgânicas e com a energia disponível fornecida pelos criovulcões (vulcões gelados que expelem água ou outros materiais e não lava) ou pelas chaminés hidrotermais, o oceano de Ganimedes possui inegavelmente um potencial de habitabilidade. Mas a habitabilidade não significa a presença de vida. No fim da sua investigação, Juice, devido à falta de combustível, deverá despenhar-se sobre Ganimedes. Contudo, é possível que os engenheiros decidam proceder a uma colisão controlada que permitirá recuperar e enviar informações até ao momento em que a sonda toque no solo, semelhante ao que aconteceu com a sonda Cassini, que terminou a sua missão mergulhando na atmosfera de Saturno.     


Fonte: Science et Avenir - La Recherche - abril 2023, n.º 914, p. 12

J. I. 
(adaptado)


Uma juventude relativista



     Com base numa sondagem recente, parece que os jovens franceses têm menos confiança na ciência do que os seus compatriotas mais velhos. A ponto de aceitarem que tudo é possível...

      Numa sondagem recente do Ifop para a fundação Jean-Jaurès sobre " a relação com a ciência [...] " de jovens franceses dos 11 aos 24 anos, destacou-se que eles são muito mais céticos do que as pessoas mais idosas sobre " os benefícios da ciência " e que eles são mais propensos a acreditar em pseudociências. Esses resultados recordam as duas outras pesquisas que também mostraram uma tendência menos forte entre os jovens de afirmar que a ciência traz mais benefícios do que malefícios ou que as vacinas são eficazes e seguras. A sondagem do Ifop também confirma outros resultados clássicos das pesquisas americanas, canadenses e europeias: por exemplo, que o alto nível de educação está fortemente ligado a atitudes positivas em relação à ciência, enquanto as crenças religiosas são-lhes desfavoráveis.
     No entanto, é sabido que a formulação das perguntas influencia a escolha das respostas. Assim, à questão de saber se " a ciência traz mais mal do que bem ", é provável que vários indivíduos confundam ciência e tecnologia. Da mesma forma que é melhor distinguir «a ciência» e «os cientistas», porque todas as sondagens (tanto na Europa como na América do Norte) confirmam que a confiança nos cientistas continua a ser largamente maioritária entre a população. Essa profissão ainda é, de facto, a mais bem classificada, muito à frente de políticos e jornalistas.

Ter uma mente científica não significa duvidar de tudo

     A ambiguidade do termo "ciência", no singular, também se reflete nas respostas à pergunta "A astrologia é uma ciência?" à qual 12% dos jovens, dos 18 aos 24 anos, respondem "concordo totalmente" e 37% "tendem a concordar". Embora o relatório conclua que "49% dos jovens acreditem que a astrologia é uma ciência", podemos contudo fazer outra leitura. Para além daqueles que confundem "astronomia" e "astrologia", a palavra-chave aqui é "bastante", que sugere uma incerteza. É realmente impressionante que aqueles que negam claramente que seja uma ciência sejam mais numerosos (30%) do que aqueles que apenas dizem que "discordam um pouco" (21%). A maior proporção de hesitantes entre aqueles que afirmam que a astrologia é uma ciência parece-nos uma pista sugerindo que esses entrevistados não têm uma ideia precisa do que é uma ciência. Da mesma forma, não diríamos que "está claro que os efeitos benéficos da pesquisa científica na sociedade são cada vez menos percebidos", mas sim que os efeitos nocivos são mais destacados e isso por causa das muitas mensagens alarmantes sobre os temas do meio ambiente e empresas ligadas a pesticidas e medicamentos.
     O que chama a atenção nas respostas dos jovens é a sua tendência para aceitar quase tudo o que for possível. No entanto, essa atitude cética parece-nos ser o efeito de uma convicção bastante difundida segundo a qual " respeito " e " abertura de espírito" não implicam nunca que se questione ou mesmo critique as "crenças" dos outros, mesmo aquelas que parecem mais bizarras. Tudo se passa como se os jovens, por um lado, se julgassem no direito de opinar sobre tudo em nome de um princípio legítimo de autoafirmação e de confiança apenas nos seus sentimentos e, por outro lado, levassem o relativismo ao ponto de aceitar que a Terra pode, afinal, ser plana ou que os americanos podem nunca ter estado na Lua. Em suma, eles pensam – erradamente – que o espírito crítico ou científico é sinónimo de duvidar de tudo. Ora, essa dúvida hiperbólica constitui um desvio do verdadeiro espírito científico que, perante um facto que diversas pessoas confirmaram por diversos métodos independentes, consideram assim que duvidar dele se torna irracional.
 
       

Fonte: Pour La Science - abril 2023, n.º 546, p. 20

Ives Gingras
professor de história e sociologia das ciências na Universidade do Quebec, em Montreal,
diretor científico do Observatório das ciências e das tecnologias, no Canadá 
(adaptado)

O que posso observar no céu de abril?



10 - Lua próximo de Antares - 06:5
03 -  Lua no apogeu a 401 997 Km da Terra - 18:01
11 - Vénus em conjunção com as Plêiades - 05:40
16 - Lua no perigeu a 370 175 Km da Terra - 03:22
16 - Lua em conjunção com saturno - 04:47
23 - Pico da chuva de meteoros Líridas e das Piscidas
24 - Pico da chuva de meteoros de Pi-Pupídeos
26 - Lua em conjunção com Marte - 03:18
26 - Lua perto de Marte- 03:56
31 -  Lua no apogeu a 407 190 Km da Terra - 07:43
 





Fases da Lua em abril


                20 - às 05h 12 min - nova

                27 - às 22h 20min - crescente

                06 - às 05h 34min - cheia

                13 - às 10h 11min - minguante
                
                









Planetas visíveis a olho nu em abril


MERCÚRIO  Pode ser visto a partir do dia 2, no final do dia, até perto das 21 horas e 30 minutos

VÉNUS - Pode ser visto de noite, até até perto da meia-noite.

MARTE - Pode ser visto de noite até às duas e meia da manhã. 

JÚPITER durante este mês não é visível.

SATURNO Pode-se ver de manhã, para leste, a partir das 5 horas e 50 minutos. Ao longo do mês vai aparecendo cada vez mais cedo. 
 
Fonte: APP Sky Tonight




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
    
DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-4-2,121:56:5310°ONO21:59:3727°SO21:59:3727°SOvisível
2-4-3,021:08:5010°ONO21:12:0347°SO21:14:0120°SSEvisível
4-4-1,221:10:3610°O21:12:4716°SO21:14:5810°Svisível
 

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês




As luas de Júpiter

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês



Sh2-308: uma bolha estelar em forma de golfinho

      Que estrela terá criado esta bolha? Não foi a estrela brilhante à direita da bolha. E também não foi um golfinho espacial gigante. Foi a estrela no centro desta nebulosa azul, uma famosa estrela energética conhecida por Wolf-Rayet. As estrelas Wolf-Rayet, em geral, têm mais de 20 vezes a massa do nosso Sol e expelem ventos de partículas rápidas que podem criar nebulosas icónicas. Neste caso, a bolha estelar resultante estende-se por mais de 60 anos-luz, tem cerca de 70.000 anos de idade e parece-se com a cabeça de um golfinho. Identificada como Sh2-308 e apelidada de Nebulosa da Cabeça do Golfinho, a bola de gás fica a cerca de 5.000 anos-luz de distância e abrange o equivalente ao céu da lua cheia - embora seja muito mais fraca. As nuvens próximas de coloração vermelha, à esquerda da imagem, podem ter este brilho e forma devido à luz energética emitida pela mesma estrela Wolf-Rayet.
Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês




Sinopse

Homenagem ao livro do filósofo Edgar Morin, que faz este ano 50 anos (foi editado em 1973) e que marcou uma época.
   
 "Em contraste com uma antropologia que separa o homem do animal, pretende-se aqui compreender a articulação entre o biológico e o antropológico.
Em contraste com um antropologia que opõe a natureza e cultura, mostra-se aqui que a chave da cultura se encontra na nossa natureza e que a chave da nossa natureza se encontra na cultura.
Em contraste com uma antropologia que se limita unicamente às sociedades arcaicas, procura-se aqui o homem através dos seus múltiplos "nascimentos", desde as suas origens (hominização) até ao seu devir contemporâneo.
Em contraste com uma antropologia que apenas encara o homo dito sapiens sob os traços unidimensionais de um técnico racional, enquanto os seus predecessores, e não ele, elaboraram o utensílio , a linguagem, a cultura, demonstra-se aqui que o homem fornece ao mundo o mito, a magia, a imoderação, a desordem, e que a sua originalidade profunda consiste em ser um animal dotado de despropósito.
Em contraste com uma antropologia que oscila entre uma unidade sem diversidade e uma diversidade sem unidade, procura-se estabelecer aqui como o princípio de unidade contém o princípio de diversidade e de evolução.
Para além do biologismo, concepção estreita e hermética da vida, e do antropologismo, concepção insular e sobrenatural do homem, propõe-se aqui uma teoria aberta da natureza humana, baseada na ideia de auto-organização e numa lógica da complexidade. Esta teoria abre-se não só para a "lógica do vivo", mas também para os problemas fundamentais de uma política do homem."
Edgar Morin.

Sobre o autor:




   Filósofo e sociólogo francês, nascido em 1921, (101 anos) foi membro, durante a Resistência e no pós-guerra, do Partido Comunista Francês, do qual foi expulso por discordar da orientação oficial. Morin acredita que é necessário efetuar uma "revolução", mas que esta deve ter presente a ideia de totalidade e complexidade do real. Propõe, como alternativa, o conceito de "totalidade aberta" e de "um pensamento planetário", assentes na permanente revisão e crítica dos princípios orientadores, evitando os dogmas e o pensamento único.

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