Janeiro 2023

 



                                     
                                                                         
                                                                              



Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Janeiro de 2023














A NASA de regresso à Lua


A cápsula espacial, que tinha no seu interior manequins cheios de sensores, terminou a sua primeira órbita lunar no passado dia 1 de dezembro.


     Após cinco dias na órbita do nosso satélite, a cápsula Orion, do programa Artémis, deu início ao seu regresso à Terra.

     A cápsula Orion da missão Artémis 1, que marca o regresso da NASA à Lua, meio século após a última missão tripulada, atingiu o pico da sua trajetória no passado dia 28 de novembro, quando estava a 432 210 km da Terra. A partir daí, as suas quatro câmeras puderam observar um eclipse da Terra ocultado pela Lua. O evento também causou uma perda transitória do sinal que permite seguir a sua trajetória desde o centro de controle de Houston, nos Estados Unidos… Lançada pelo poderoso foguete SLS em 16 de novembro, a partir do Centro Espacial Kennedy na Flórida (Estados Unidos), a primeira missão do programa Artémis transportou dois torsos forrados com sensores para registrar o nível de radiação dentro da cápsula. Um desses torsos testou o novo fato de proteção Astrorad da Lockheed Martin, que poderá vir a equipar os astronautas nas próximas viagens interplanetárias. A bordo da Orion também estava um manequim com um fato espacial — e que foi chamado de Comandante Moonikin Campos, em homenagem ao engenheiro americano Arturo Campos, cujo papel foi fundamental para trazer a Apollo 13 de volta à Terra. Estes manequins ajudaram a entender o que o corpo dos astronautas terá que suportar durante as próximas missões.
     Em 25 de novembro, a Orion entrou numa órbita lunar retrógrada (no sentido contrário  da rotação da Lua), a uma altitude de 65 000 km. Após cinco dias à volta da Lua, onde se aproximou a 130 km, a cápsula iniciou a sua jornada de volta à Terra no dia 1 dezembro, graças ao impulso fornecido pelo Módulo de Serviço Europeu (ESM). A missão Artémis 1 decorreu sem falhas, amarando a cápsula Orion no dia 11 de dezembro passado, nas águas do oceano Pacífico, de forma suave. Esta última etapa era a mais arriscada: com uma velocidade de reentrada a mais de 36 000 km/h, o escudo térmico da cápsula esteve sujeito a uma fricção e superaquecimento colossal, que pôs os materiais à prova. Este viagem tão próxima da Lua terá possibilitado testar o desempenho da cápsula Orion antes do próximo voo Artémis 2, que deve sobrevoar a Lua novamente em 2024 com, desta vez, quatro
astronautas a bordo.     

Fonte: Sciences et Avenir - La Recherche  - janeiro 2023, n.º 911, p. 14

S. R. 
(adaptado)


Um objeto celeste polémico



O CNEOS-2014-01-08, segundo dois investigadores, veio do exterior do Sistema Solar (imagem não real)

     A comunidade científica permanece prudente face à ausência de dados relativos ao misterioso objeto caído no oceano Pacífico em 2014.

      Um objeto misterioso caiu no oceano Pacífico em 2014, a 200 quilómetros da costa da Papua Nova Guiné. Batizado de CNEOS-2014-01-08, tem apenas 45 cm de largura e
teria chegado à Terra a uma velocidade altíssima de 216 000 km/h, seguindo uma trajetória
hiperbólica; esta seria a prova da sua origem interestelar, segundo dois investigadores americanos que publicaram as suas hipóteses no The Astrophysical Journal. Seria assim o primeiro objeto a vir de fora do Sistema Solar descoberto até ao momento, antes do asteroide Oumuamua (2017) e do cometa Borisov (2019). O problema: alguns dados que identificaram este meteoro vêm de satélites espiões do Departamento de Defesa dos EUA e, portanto, são secretos, o que leva a comunidade científica a ser cautelosa sobre esta hipótese de Avi Loeb, um investigador controverso que defende, nomeadamente, que Oumuamua é uma nave espacial. No entanto, este astrónomo deseja montar uma expedição até ao final de 2023, para dragar o fundo do oceano em busca de fragmentos deste objeto.            

Fonte: Sciences et Avenir - La Recherche - dezembro 2023, n.º 911, p. 17

Frank Daninos
(adaptado)

A hipótese da vida transmitida a partir de Marte


O planeta vermelho, bombardeado por um cometa ou um asteroide, poderá ter transferido para a Terra fragmentos dessas rochas, provavelmente portadoras de elementos biológicos.

     E se todos os seres que habitam o nosso planeta, incluindo os humanos, viessem de Marte? Mais especificamente, se se deu uma colonização de bactérias marcianas que chegaram à Terra há vários milhares de milhões de anos? «Nenhuma evidência formal apoia esta teoria, mas várias experiências mostram que é teoricamente possível», observa André Brack, do Centro de Biofísica do CNRS em Orléans. A ideia de que organismos extraterrestres poderiam ter semeado o  nosso planeta, não é certamente uma nova ideia. Denominada “panspermia”, esta hipótese tem sido defendida por cientistas de renome como o sueco Svante Arrhenius, Prémio Nobel da Química em 1903. Estimava que esporos, formas adormecidas de certas bactérias, se espalhariam facilmente pelo espaço, empurrados pela pressão de radiação do Sol ou transportados por asteroides.
     «Pensava-se, naquela época, que a vida poderia ser amplamente disseminada no Sistema
solar. O conhecimento dos asteroides também era rudimentar. Daí estas especulações, das quais a comunidade científica agora é muito mais cética», resume Jean Duprat, investigador do Museu Nacional de História Natural de Paris. O sistema Terra-Marte, no entanto, é um caso especial. Porque os dois vizinhos devem ter sido muito parecidos há 4 mil milhões de anos. Cada um deles tinha um campo magnético global, uma atmosfera, vulcanismo denso e ativo, bem como água líquida e compostos orgânicos. «Mas Marte, menor que a Terra, arrefeceu muito mais rápido, lembra André Brack. E poderia ter oferecido, em primeiro lugar, as condições favoráveis ​​à vida. » Possíveis microrganismos marcianos poderiam então ter sido expelidos após impactos de asteroides, fazendo essa viagem espacial até caírem na Terra, como provam os cerca de 300 meteoritos marcianos identificados até hoje. Claro que os micróbios teriam que sobreviver a essa viagem épica. No entanto, vários trabalhos realizados desde a década de 1980, atestam que liquens ou esporos bacterianos subsistem em acelerações de um milhão de vezes maiores do que a da gravidade e a ondas de choque equivalentes a 40 milhões de pascais! Experiências na Estação Espacial Internacional têm demonstraram, em 2020, que a bactéria poliextremófila Deinococcus radiodurans (apelidado de "Conan") poderia suportar microgravidade, vácuo gélido e radiação ultravioleta e poderia sobreviver vários anos, graças a uma camada de células mortas que protegem a restante da colónia. Este tempo é mais curto do que aquele gasto por alguns meteoritos marcianos para chegar à Terra.
Fonte: Sciences et Avenir - La Recherche - dezembro 2023, n.º 911, p. 35

Frank Daninos e Hervé Ratel
(adaptado)



O que posso observar no céu de janeiro?


 
3 - Lua a 0,5ºS de Marte - 20:00
3 - Pico da chuva de meteoros das Quadrântidas
4 - Terra a 147,1 milhões de quilómetros do Sol - 16:00
8 -  Lua no apogeu a 406.459 km da Terra - 09:19
12 - Marte estacionário - 20:00
20 - Lua a 7ºS de Mercúrio - 08:00
20 -Júpiter no periélio a 740,3 milhões de quilómetros do Sol - 12:00
21 - Lua no perigeu a 356 570 Km da Terra - 20:57
22 - Vénus a 0,4ºS de Saturno - 20:00
23 - Lua a 4ºS de Saturno - 07:00
26 - Lua a 1,8ºS de Júpiter - 02:00
31 - Lua a 0,1ºS de Marte - 04:00
 





Fases da Lua em janeiro


           

                21 - às 20h 55 min - nova

                28 - às 15h 20min - crescente

                06 - às 23h 09min - cheia

                15 - às 02h 13min - minguante
                
                









Planetas visíveis a olho nu em janeiro


MERCÚRIO  Só poderá ser visto próximo do horizonte, a leste, antes do nascimento do sol ou a oeste, depois do ocaso do sol. Será visível, de manhã, por volta do instante do começo do crepúsculo civil, de 29 de janeiro a 24 de março.

VÉNUS Poderá ser facilmente identificado pelo seu grande brilho. Vénus aparecerá muito brilhante e será visível como estrela da tarde, desde o início do ano até poucos dias depois, quando não poderá ser observado por se encontrar demasiado próximo do sol. 

MARTE - Será visível no céu ao amanhecer desde o início do ano e mover-se-á através das constelações de Ofiúco, Sagitário, Capricórnio, Peixes, com uma breve passagem na constelação da Baleia.

JÚPITER pode ser visto ao anoitecer na constelação de Aquário desde de inícios de janeiro.

SATURNO Pode ser visto ao anoitecer na constelação de Capricórnio onde permanecerá durante o ano. Em meados de janeiro, a sua proximidade ao sol impedirá a sua observação, reaparecendo em finais de fevereiro no céu matutino.

 
Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
    
DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-1-1,906:27:5919°N06:29:0522°NNE06:31:4710°ENEvisível
2-1-1,205:41:4416°NE05:41:4416°NE05:43:0310°ENEvisível
2-1-3,507:14:3910°NO07:17:5564°NNE07:21:1410°ESEvisível
3-1-2,806:28:2428°NNO06:29:3840°NNE06:32:4810°Evisível
4-1-1,705:42:1024°NE05:42:1024°NE05:44:1110°Evisível
4-1-3,207:15:0511°ONO07:18:0544°SO07:21:1710°SSEvisível
5-1-3,906:28:5344°ONO06:29:5180°SO06:33:1110°SEvisível
6-1-2,105:42:4334°E05:42:4334°E05:44:4910°ESEvisível
6-1-1,707:15:4810°O07:17:5516°SO07:20:0110°Svisível
7-1-2,606:29:3227°SO06:29:4327°SO06:32:3610°SSEvisível
8-1-1,505:43:2720°SSE05:43:2720°SSE05:44:4010°SEvisível
     
 
    

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês




CNEOS-2014-01-08
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês




NGC 6164: Nebulosa do Ovo do Dragão e halo

      A estrela no centro desta imagem criou tudo o que se vê à sua volta. Conhecida como o Ovo do Dragão, esta estrela - uma estrela rara, quente e luminosa do tipo O, sendo cerca de 40 vezes mais maciça do que o Sol - criou não só a nebulosa complexa (NGC 6164), que a rodeia, mas também o largo halo azul ao seu redor. O seu nome deriva, em parte, da sua proximidade com a região da pitoresca NGC 6188, conhecida como os lutadores Dragões de Ara. Nos próximos três a quatro milhões de anos, esta estrela maciça provavelmente terminará a sua vida numa supernova. Abrangendo cerca de 4 anos-luz, esta nebulosa tem uma simetria bipolar, tornando-a semelhante, em aparência, às nebulosas planetárias mais comuns - as chamadas mortalhas de gás que envolvem as estrelas moribundas semelhantes ao sol. Também, como acontece com muitas nebulosas planetárias, descobriu-se que a NGC 6164 tem um halo extenso e diáfano, revelado em azul nesta imagem obtida por um telescópio. Expandindo-se para o meio interestelar circundante, provavelmente, o material do halo azul foi expelido uma fase ativa anterior da estrela O. A NGC 6164 fica a 4.200 anos-luz de distância da Terra, na constelação austral da Praça do Carpinteiro (Norma).
Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês


Sinopse

    Neste seu livro, Byung-Chul Han analisa o universo digital verificando como se desvanece o nosso apego às coisas tangíveis que conferiam ao mundo uma sensação de estabilidade.
     «Hoje encontramo-nos na transição da era das coisas para a era das não-coisas. Não são as coisas, mas a informação que determinam o mundo em que vivemos.»
     Para o filósofo germano-coreano, o mundo esvazia-se de coisas e enche-se de informação tão inquietante como vozes que não podemos atribuir a um corpo. Os meios digitais substituem a memória, sem violência, como se isso fosse natural ou até inevitável.
     A informação simplifica os acontecimentos e alimenta-se da surpresa, para logo se desatualizar.
     Como caçadores de informação, vamo-nos alheando das coisas discretas, habituais, que nos ligam ao ser.
     Byung-Chul Han desenvolve assim uma filosofia do smartphone e uma crítica à inteligência artificial, a partir de uma perspetiva inovadora. 

Sobre o autor:




     Byung-Chul Han nasceu em Seul, em 1959, onde estudou Metalurgia. No final dos anos 80, deslocou-se para a Alemanha, apesar de desconhecer a língua do país. Estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se naquela universidade com uma tese sobre Martin Heidegger. Atualmente ensina Filosofia na Universidade das Artes de Berlim, depois de ter ensinado Filosofia e Teoria dos Meios de Comunicação na Escola Superior de Desenho de Karlsruhe, onde teve como colega Peter Sloterdijk, com quem manteve algumas polémicas.

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