Abril 2022
Ciência Na Frente
Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande
Abril de 2022
Simbiose: pequena história de um conceito biológico
Definida no século XIX, após a observação de diversos organismos tais como o líquen, a simbiose ilustra a complexidade das interações no mundo do vivo e a renovação de um pensamento das ligações.
A história oficial do aparecimento deste conceito remonta à emergência da noção do pensamento sobre a interatividade da vida, no Ocidente, no século XIX, ligada com a descoberta da natureza composta (alga e cogumelo) do líquen. Esta noção está ligada a revoluções técnicas (a microscopia), mas também a concetuais (a ecologia, o mutualismo), tal como ao estudo de um organismo, até aí muito pouco tido em consideração, o líquen.
Em 1825, o botânico alemão Karl F. W. Wallroth observou entidades presentes nos líquens a que ele chamou de «gonídias» (as «futuras» algas dos líquens). Em 1866, outro botânico alemão, Anton de Bary, e depois, em 1867, o botânico suíço Simon Schwendener, observaram ao microscópio o crescimento do líquen e descobriram que se desenvolvia concomitantemente filamentos de cogumelos e núcleos de algas. Foi a descoberta da natureza dupla do líquen. Esta relação era entendida como uma relação de parasitismo: o cogumelo parasitava a alga.
Contudo, para estes investigadores acima mencionados, a noção de parasitismo parecia-lhes inadequada. Em 1875, o zoólogo belga Pierre-Joseph Van Beneden propôs os conceitos de «comensalismo» e de «mutualismo», este último para modelizar a nova e revolucionária ideia, de que um organismo se poderia formar a partir da união de dois organismos diferentes e que o organismo hospedeiro (a alga no interior de um cogumelo) pode tirar benefícios desta relação. Em 1877, Albert Bernhard Frank, da universidade de Leipzig, propõe a palavra «symbiotismus», e depois, em 1878, Anton de Bary, provavelmente a partir dos trabalho realizados por Frank, a palavra «simbiose». Em ambos os casos, trata-se de definir a vida comum de espécies diferentes, de forma durável no decurso das suas vidas e no seio de um habitat comum.
A partir daí, os líquens foram entendidos como uma associação «simbiótica» entre uma alga unicelular fotossintética e um cogumelo (fungo): a alga beneficia de uma contribuição em água e sais minerais, mas também de um abrigo; o fungo, heterotrófico, beneficia nomeadamente da glucose que a alga produz por fotossíntese e que é necessária para o seu crescimento. Por outro lado, a simbiose, mais do que ser uma justaposição das propriedades dos parceiros, permite à estrutura adquirir novas propriedades. Assim, a associação alga-cogumelo produz novas substâncias que dão ao líquen essa incrível resistência aos UV e às variações de temperatura.
Fonte: La Recherche - abril/junho 2022, n.º 569, pp. 18-20
Vincent Zonca, diplomado da Escola Normal Superior de Lyon
e professor agregado das Letras Modernas
(adaptado)
Começa a revelar-se o maior cometa alguma vez observado
A medição deste gigante foi efetuada a partir do seu albedo, isto é, a quantidade de luz que ele reflete no momento da sua observação. |
Este gigante foi descoberto em 2021 pelo brasileiro Pedro Bernardinelli, na altura doutorando na universidade da Pensilvânia (EUA), sob a direção do americano Gary Bernstein, membro do Dark Energy Survey. Este programa internacional cartografa oticamente e no infravermelho centenas de milhões de galáxias com o objetivo de compreender a energia negra. O jovem investigador analisava as bases de dados dos arquivos do programa - ou seja, cerca de 700 milhões de imagens de estrelas e galáxias - afim de recensear os objetos do sistema solar externo. Conseguiu identificar mais de 800 objetos transneptunianos... e este colossal cometa!
As simulações orbitais indicam que ele provem da nuvem de Oort, que é um reservatório de corpos gelados que se estende até uma distância de um ou dois anos-luz do Sol. Em 2014, quando foi obtida a imagem, o cometa cruzava a região de Neptuno a 4,3 mil milhões de quilómetros do Sol. Bernardinelli-Bernstein vai ter a maior aproximação à nossa estrela em 21 de janeiro de 2031, a umas 11 unidades astronómicas, uma distância a que nunca este cometa se tinha aventurado, o que faz dele o cometa mais primitivo jamais observado, suscetível de fornecer informações da infância do sistema solar. Infelizmente não será visível a olho nu, devido à distância a que vai passar do Sol.
Fonte: Sciences et Avenir/La Recherche - abril 2022, n.º 902, p. 18
Sylvie. Rouat.
(adaptado)
O que posso observar no céu de abril?
4 - Marte a 0,3ºS de Saturno - 22:00
7 - Lua no apogeu a 404 438 km da Terra - 19:00
19 - Lua no perigeu a 365 144 Km - 15:00
22 - Pico da chuva de meteoros das Lirídeas
24 - Saturno a 5ºN da Lua - 21:00
25 - Marte a 4ºN da Lua - 22:00
27 - Vénus a 4ºN da Lua - 02:00
27- Júpiter a 4ºN da Lua - 08:00
30 - Vénus a 0,2ºS de Júpiter - 19:00
Céu visível às 22:00 horas do dia 1 de abril em Lisboa mostrando as estrelas mais brilhantes: Sírio, Rígel, Betelgeuse, Prócion, Arcturo, Aldebarã e Capela. |
Céu visível às 06:00 horas do dia 15 de abril em Lisboa mostrando os planetas Júpiter, Vénus, Marte e Saturno. |
Fases da Lua em abril
01 - às 07h 24min - nova
09 - às 07h 48min - crescente
09 - às 07h 48min - crescente
16 - às 19h 55min - cheia
23 - às 12h 56min - minguante
30 - às 21h 28min - nova
Planetas visíveis a olho nu em abril
MERCÚRIO - Será visível, de tarde, por volta do instante do fim do crepúsculo civil, a partir do dia 11 de abril.
VÉNUS - Pode ser visto como estrela da manhã, durante o mês de abril.
MARTE - Pode ser visto ao anoitecer na constelação de Sagitário.
VÉNUS - Pode ser visto como estrela da manhã, durante o mês de abril.
MARTE - Pode ser visto ao anoitecer na constelação de Sagitário.
JÚPITER - Em meados de abril pode ser visto na constelação de Peixes.
Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Data | Magnitude | Início | Ponto mais alto | Fim | Tipo da passagem | ||||||
(mag) | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | ||
28-4 | -3,7 | 04:44:10 | 60° | SSE | 04:44:22 | 62° | SE | 04:47:40 | 10° | ENE | visível |
29-4 | -1,6 | 03:57:48 | 22° | E | 03:57:48 | 22° | E | 03:59:21 | 10° | ENE | visível |
29-4 | -2,5 | 05:30:42 | 15° | O | 05:33:03 | 32° | NNO | 05:36:06 | 10° | NE | visível |
30-4 | -3,2 | 04:44:15 | 43° | ONO | 04:44:45 | 48° | NNO | 04:48:00 | 10° | NE | visível |
1-5 | -2,2 | 03:57:43 | 36° | NE | 03:57:43 | 36° | NE | 03:59:51 | 10° | NE | visível |
1-5 | -1,6 | 05:31:11 | 10° | ONO | 05:33:40 | 19° | NNO | 05:36:09 | 10° | NNE | visível |
2-5 | -0,6 | 03:11:08 | 13° | ENE | 03:11:08 | 13° | ENE | 03:11:34 | 10° | ENE | visível |
2-5 | -1,9 | 04:44:01 | 20° | NO | 04:45:14 | 24° | NNO | 04:48:02 | 10° | NE | visível |
3-5 | -2,1 | 03:57:22 | 31° | N | 03:57:22 | 31° | N | 03:59:53 | 10° | NE | visível |
3-5 | -1,1 | 05:32:23 | 10° | NO | 05:34:19 | 14° | N | 05:36:15 | 10° | NNE | visível |
4-5 | -0,9 | 03:10:41 | 18° | NE | 03:10:41 | 18° | NE | 03:11:41 | 10° | NE | visível |
4-5 | -1,2 | 04:43:33 | 10° | NO | 04:45:45 | 16° | NNO | 04:47:57 | 10° | NNE | visível |
5-5 | -1,5 | 03:56:47 | 19° | NNO | 03:57:11 | 19° | NNO | 03:59:43 | 10° | NNE | visível |
5-5 | -0,9 | 05:33:05 | 10° | NNO | 05:34:55 | 14° | N | 05:36:44 | 10° | NE | visível |
6-5 | -1,0 | 03:09:58 | 19° | NNE | 03:09:58 | 19° | NNE | 03:11:29 | 10° | NE | visível |
6-5 | -0,9 | 04:44:28 | 10° | NO | 04:46:16 | 14° | N | 04:48:04 | 10° | NNE | visível |
7-5 | -0,3 | 02:23:07 | 11° | NE | 02:23:07 | 11° | NE | 02:23:13 | 10° | NE | visível |
7-5 | -1,0 | 03:55:59 | 11° | NO | 03:57:36 | 15° | N | 03:59:34 | 10° | NNE | visível |
7-5 | -0,9 | 05:33:06 | 10° | NNO | 05:35:21 | 17° | NNE | 05:37:36 | 10° | NE | visível |
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
Vídeo do Mês
Exemplos de simbioses
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Imagem do Mês
Por que será que a superfície de Titã se iluminaria com um flash ofuscante? O motivo: a luz do sol a ser refletida nos mares líquidos. A lua de Saturno Titã tem numerosos e calmos lagos de metano que, quando o ângulo é adequado, refletem a luz solar como se fossem espelhos. Esta imagem em cores falsas, obtida pela nave robótica Cassini, que orbitou Saturno de 2004 a 2017, fotografou Titã coberto de nuvens, em 2014, em diferentes faixas de luz infravermelha atravessando as nuvens. Este reflexo especular era tão brilhante, que saturou uma das câmeras infravermelhas da Cassini. Embora a luz solar refletida fosse incómoda, ela também foi útil. As regiões refletidas confirmam que o norte de Titã abriga uma ampla e complexa variedade de mares, com uma geometria que indica períodos de evaporação significativa. Durante as suas numerosas passagens sobre a lua mais misteriosa do nosso Sistema Solar, a Cassini revelou que Titã é um mundo com um clima ativo , incluindo momentos em que chove uma versão líquida de gás natural.
Fonte: www.nasa.govLivro do Mês
Sinopse
O Cristianismo é o legado mais influente e duradouro da Antiguidade, e o seu surgimento constitui a revolução mais radical da história do Ocidente. O impacto da religião cristã deixou a sua marca em todos os campos do desenvolvimento humano. Consequentemente, apesar do número crescente de pessoas que abandonam esta fé na atualidade, viver num país moderno é viver numa sociedade cujos instintos e tradições têm profundas raízes cristãs.
Neste livro, o historiador Tom Holland relata como chegámos ao presente e como a mente ocidental foi moldada num contexto histórico mais amplo. Numa análise reveladora que se estende desde a invasão persa da Grécia em 480 a. C. até às atuais crises migratórias na Europa, o autor explica por que motivo o Cristianismo foi e é uma força revolucionária e de que modo transformou radicalmente o que significa ser humano.
Sobre o autor:
Entre os seus livros, contam-se Dinastia: Ascensão e Queda da Casa de César (ed. Vogais, 2017), Rubicão: O Triunfo e a Tragédia da República Romana (ed. Alétheia, 2008) e O Fogo Persa (ed. Alétheia, 2006). Domínio, a sua mais recente obra, é um verdadeiro êxito internacional, sendo aclamado pelos mais prestigiados meios de comunicação social.
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