Maio 2021
Ciência Na Frente
Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande
Maio de 2021
O mais antigo ADN fóssil revela a história dos mamutes
Os mamutes das estepes terão chegado a partir da Sibéria à América, seguindo por uma faixa de terra que está atualmente sob o mar do Estreito de Béring. |
O record do mais antigo ADN foi pulverizado: situa-se entre 1,2 e 1,6 milhões de anos. Este ADN pertence a mamutes preservados no "permafrost" do nordeste da Sibéria. Até agora, o mais antigo material genético alguma vez conservado era atribuído a um cavalo de Przewalski, com uma idade de 700 000 anos, descoberto no Canadá em 2013. Mas uma equipa do Centro de Paleogenética de Estocolmo (Suécia) baixou os limites da conservação do ADN ao analisar três molares provenientes de espécimes diferentes. O mais antigo pertence a uma linhagem genética até agora desconhecida, chamada «mamute de Krestovka», que terá divergido de uma outra espécie siberiana há mais de 2 milhões de anos. O ADN é uma molécula frágil que resiste mal ao desgaste do tempo. Para além disso, do dente mais velho, os cientistas só puderam recolher pedaços muito degradados do código genético que mesmo assim representa 49 milhões de bases (contra os 3, 1 mil milhões do seu genoma). Para o reconstituir, foi necessário preencher os «buracos» com os genomas das espécies atuais próximas, tal como o elefante. Um trabalho difícil que permitiu estabelecer que o mamute de Krestovka colonizou a América do Norte, por volta dos 1,5 milhões de anos. A sua linhagem ter-se-á hibridado com a do mamute lanoso (Mammuthus primigenius) há cerca de 420 000 anos, originando uma outra espécie: o mamute de colombo (Mammuthus columbi), presente na América do Norte durante a última glaciação há cerca de 25 000 anos.
Se esta análise não permitiu remontar tanto, a análise de outros dentes não foi menos rica em ensinamentos. Assim, o segundo espécimen, Adycha, teria uma idade um pouco superior a um milhão de anos. Tratava-se de um mamute das estepes (Mammuthus trogontherii), o tradicional ocupante da Sibéria. Este seria o antepassado direto do mamute lanoso e o terceiro espécimen, Tchoukotchia, com uma idade de 70 000 anos seria o mais antigo representante desta espécie alguma vez encontrado. Quase 80% do ADN deste último pôde ser recuperado, contra os 25% do Adycha. Isto foi suficiente para compreender «como estes mamíferos se adaptaram a uma vida de ambientes frios e em que medida essas adaptações evoluíram no decurso do processo de especiação», explica Love Dalén. professor de genética da evolução em Estocolmo.
Figura emblemática da última era glaciar, o mamute lanoso desenvolveu inúmeras adaptações ao frio: espessa pelagem, orelhas mais curtas, gordura subcutânea ou ainda uma otimização dos ritmos circadianos (ciclo acordado/repouso). Ora as análises indicam que a maior parte das variações genéticas associadas a estas mudanças já estavam presentes no seu antepassado Adycha. Estes resultados poderão ainda anunciar outros: os investigadores esperam obter um código genético tão velho como o "permafrost", isto é, com 2,6 milhões de anos!.
Fonte: Sciences et Avenir/La Recherche - abril 2021, n.º 890, p. 81
Jöel Ignasse
(adaptado)
Investigadores comunicaram com pessoas a sonhar
Algumas pessoas a dormir, conscientes do seu sonho, conseguem integrar no conteúdo do seu sonho instruções que recebem de uma outra pessoa e respondem-lhe. |
É possível comunicar com pessoas que estão a sonhar! É o que anunciam quatro laboratórios na revista Current Biology. «Até agora, o sonho permanecia um estado inacessível, e toda a informação acerca dele recaía numa recordação fugaz, mais ou menos fiável e subjetiva, recolhida a posteriori, mas a partir de agora temos um meio mais direto para o apreender», detalha Delphine Oudiette que chefiou a parte francesa do estudo no Instituto do cérebro(ICM), em Paris.
As equipas americana, alemã, neerlandesa e francesa recrutaram um total de 36 sonhadores lúcidos, ou seja, pessoas capazes, espontaneamente ou por aprendizagem, de estarem conscientes do seu sonho quando estão a sonhar e, por vezes, controlando mesmo o seu desenvolvimento. «Elas eram como agentes infiltrados num território desconhecido que mantinham a capacidade de falar connosco», realça a investigadora. A partir do momento em que estes sonhadores se tornavam lúcidos durante o seu sono, assinalando o facto com movimentos horizontais dos olhos, uma questão era-lhes colocada: «Gostas de chocolate?», «Quanto é oito menos seis?», «Sabes falar espanhol?». A resposta fazia-se frequentemente com um movimento dos olhos, segundo um código previamente acordado com os investigadores.
«Este protocolo foi desenvolvido no início dos anos 1980 pelo pioneiro da exploração do sonho lúcido, o americano Stephen LaBerge, o primeiro a abalar o estudo dos sonhos no domínio científico», acrescenta a neuróloga. No decurso destas experiências, as respostas apenas foram claramente detetáveis em 21% dos acontecimentos. As mesmas estavam corretas em 18% dos casos e falsas apenas em 3% dos sonhos. Apesar dos 79% de respostas erradas ou não compreensíveis, esta experiência mostrou que o diálogo pode ser estabelecido durante o sono.
Os sonhadores lembram-se geralmente de um pedido exterior feito inesperadamente no decorrer do seu sonho. Até agora, eles podiam fazer sinais (movimento dos olhos, parar de respirar), mas no quadro de um cenário pré-estabelecido. «Aqui, pela primeira vez, sublinha Delphine Oudiette, conseguimos provocar uma resposta em tempo real a uma questão que não conheciam previamente.» Nesta aproximação, que os investigadores batizaram «sonho interativo», alguns adormecidos lúcidos são não só conscientes do seu sonho, mas podem também agir oniricamente em função de instruções externas. «Este tipo de experiência oferece-nos um novo meio para explorar como se manifesta a consciência no estado particular do sonho», disse a investigadora.
A interpretação dos sonhos era, segundo o fundador da psicanálise Sigmund Freud, a real via que levava ao conhecimento do inconsciente. Mais de um século depois, o estudo científico dos sonhos, graças aos sonhadores lúcidos, poderá fornecer outros preciosos ensinamentos sobre o próprio processo da consciência.
Fonte: Science et Avenir/La Recherche - abril 2021, n.º 890, p. 65
Pierre Kaldy,
(adaptado)
O que posso observar no céu de maio?
4 - Lua a 5ºS de Júpiter - 20:00
11 - Lua no apogeu a 363 060 Km da Terra - 21:53
13 - Mercúrio a 2ºN da Lua - 19:00
16 - Lua a 1,5ºN de Marte - 05:00
17 - Vénus a 6ºN de Aldebarã - 23:00
19 a 28 - Atividade máxima das Aquáridas
26 - Lua no perigeu a 357 311 Km da Terra - 01:50
31 - Saturno a 4ºN da Lua - 02:00
Céu visível às 05:30 horas do dia 1 de maio mostrando os planetas Júpiter e Saturno. |
Céu visível às 21:30 horas do dia 15 de maio mostrando o planeta Marte e as estrelas mais brilhantes: Sírio, Arturo, Capela, Aldebarã, Prócion e Vega |
Fases da Lua em maio
11 - às 19h 00min - nova
19 - às 19h 13min - crescente
19 - às 19h 13min - crescente
26 - às 11h 14min - cheia
03 - às 19h 50min - minguante
Planetas visíveis a olho nu em maio
MERCÚRIO - Será visível, de tarde, por volta do instante do fim do crepúsculo civil, durante todo o mês de maio.
VÉNUS - A partir do início de maio até ao final do ano reaparecerá como estrela da tarde.
MARTE - Pode ser visto na constelação de Gémeos, durante todo este mês.
JÚPITER - Pode ser visto na constelação de Gémeos, durante todo este mês.
VÉNUS - A partir do início de maio até ao final do ano reaparecerá como estrela da tarde.
MARTE - Pode ser visto na constelação de Gémeos, durante todo este mês.
JÚPITER - Pode ser visto na constelação de Gémeos, durante todo este mês.
SATURNO - Pode ser visto ao amanhecer durante todo este mês.
Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Data | Magnitude | Início | Ponto mais alto | Fim | Tipo da passagem | ||||||
(mag) | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | ||
1-5 | -2,6 | 04:04:29 | 41° | ENE | 04:04:29 | 41° | ENE | 04:06:51 | 10° | ENE | visível |
1-5 | -1,8 | 05:37:51 | 10° | ONO | 05:40:35 | 22° | NNO | 05:43:19 | 10° | NE | visível |
2-5 | -0,8 | 03:18:44 | 14° | ENE | 03:18:44 | 14° | ENE | 03:19:20 | 10° | ENE | visível |
2-5 | -2,2 | 04:51:41 | 22° | ONO | 04:53:01 | 29° | NNO | 04:56:02 | 10° | NE | visível |
3-5 | -2,6 | 04:05:54 | 39° | N | 04:05:54 | 39° | N | 04:08:44 | 10° | NE | visível |
3-5 | -1,2 | 05:40:51 | 10° | NO | 05:42:59 | 16° | N | 05:45:07 | 10° | NNE | visível |
4-5 | -1,2 | 03:20:04 | 22° | NE | 03:20:04 | 22° | NE | 03:21:24 | 10° | NE | visível |
4-5 | -1,3 | 04:53:01 | 10° | ONO | 04:55:20 | 18° | NNO | 04:57:46 | 10° | NNE | visível |
5-5 | -1,7 | 04:07:09 | 21° | NO | 04:07:43 | 22° | NNO | 04:10:27 | 10° | NE | visível |
5-5 | -1,0 | 05:43:36 | 10° | NNO | 05:45:28 | 14° | N | 05:47:20 | 10° | NE | visível |
6-5 | -1,4 | 03:21:16 | 23° | N | 03:21:16 | 23° | N | 03:23:09 | 10° | NE | visível |
6-5 | -0,9 | 04:55:51 | 10° | NO | 04:57:47 | 14° | N | 04:59:42 | 10° | NNE | visível |
7-5 | -0,5 | 02:35:20 | 13° | NE | 02:35:20 | 13° | NE | 02:35:50 | 10° | NE | visível |
7-5 | -1,0 | 04:08:17 | 11° | NO | 04:10:05 | 16° | N | 04:12:13 | 10° | NNE | visível |
7-5 | -0,9 | 05:45:43 | 10° | NNO | 05:47:56 | 16° | N | 05:50:08 | 10° | NE | visível |
8-5 | -1,2 | 03:22:19 | 18° | NNO | 03:22:25 | 18° | NNO | 03:24:50 | 10° | NNE | visível |
8-5 | -0,8 | 04:58:17 | 10° | NNO | 05:00:15 | 14° | N | 05:02:13 | 10° | NE | visível |
9-5 | -0,7 | 02:36:21 | 16° | NNE | 02:36:21 | 16° | NNE | 02:37:30 | 10° | NE | visível |
9-5 | -0,8 | 04:10:41 | 10° | NNO | 04:12:32 | 14° | N | 04:14:25 | 10° | NE | visível |
9-5 | -1,3 | 05:47:28 | 10° | NO | 05:50:16 | 24° | NNE | 05:53:04 | 10° | ENE | visível |
10-5 | -0,8 | 03:23:16 | 11° | NO | 03:24:50 | 14° | N | 03:26:45 | 10° | NNE | visível |
10-5 | -0,9 | 05:00:09 | 10° | NNO | 05:02:38 | 19° | NNE | 05:05:08 | 10° | ENE | visível |
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
Vídeo do Mês
O mamute lanoso
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Imagem do Mês
Quando as galáxias colidem, o que acontece com os seus campos magnéticos? Para ajudar a descobrir, a NASA apontou o SOFIA, no seu voo 747, para o vizinho galático Centaurus A para observar a emissão de poeira polarizada - que desenha campos magnéticos. A forma incomum do Centaurus A é o resulta do choque de duas galáxias com jatos alimentados pelo gás de um buraco negro supermassivo central. Daí resultou esta imagem, onde as aerodinâmicas magnéticas de SOFIA são sobrepostas às imagens ESO (visível: branco), APEX (submilimetro: laranja), Chandra (raios-X: azul) e Spitzer (infravermelho: vermelho). Os campos magnéticos aparecem paralelos à faixa de poeira nos arredores da galáxia, mas distorcidos perto do centro. As forças gravitacionais perto do buraco negro aceleram os iões e aumentam o campo magnético. Em suma, a colisão não só combinou as massas das galáxias, como ampliou os seus campos magnéticos. Esses resultados fornecem novas perceções sobre como os campos magnéticos evoluíram no universo primitivo, quando estas fusões eram mais comuns.
Fonte: www.nasa.govLivro do Mês
A partir deste ano vamos iniciar uma nova secção, a do livro do mês. Aqui serão apresentados livros, preferencialmente, de ensaios científicos, sociais, filosóficos, esperando que motivem os nossos "bloggers" a descobri-los.
Sinopse
Nas últimas
décadas, numerosos filósofos e cientistas cognitivos têm debatido a consciência como
se fosse uma questão à parte, dando-lhe um
estatuto especial, o de problema único, não
só difícil de investigar mas insolúvel. Porém, António Damásio está convencido de que as mais recentes descobertas da
Neurobiologia, da Psicologia e da Inteligência Artificial nos facultam as ferramentas
necessárias para
solucionar este mistério.
Em 48 breves
capítulos, o autor ajuda-nos a compreender
a relação entre a consciência e a mente;
o porquê de estar consciente não ser o mesmo que estar acordado e não
precisar de mente; o papel fundamental dos sentimentos; e a
relação entre o cérebro biológico e o desenvolvimento da consciência.
António Damásio não realiza apenas uma síntese entre
as descobertas recentes de vários ramos científicos e as perspetivas da filosofia: apresenta a sua própria e original
investigação, que tem transformado o entendimento do cérebro e do comportamento
humanos.
Este é um guia indispensável
para a compreensão da consciência, essa
capacidade humana fundamental que informa — e transforma — o modo como
experienciamos o mundo que nos rodeia e a nossa perceção
do lugar que nele ocupamos.
Um livro brilhante que António Damásio escreveu para todos — não apenas
os seus leitores fiéis mas também os muitos
que ficarão a conhecê-lo e a admirá-lo a partir de agora.
Sobre a autor:
António
Damásio é professor da cátedra David Dornsife de Neurociência, Psicologia e
Filosofia, e diretor do Brain and Creativity Institute na University of
Southern California, em Los Angeles. Neurologista e neurocientista, Damásio tem
dado contributos fundamentais para a compreensão dos processos cerebrais
subjacentes às emoções, aos sentimentos e à consciência. O seu trabalho sobre o
papel do afeto na tomada de decisões teve um impacte profundo na neurociência,
psicologia e filosofia. Autor de numerosos artigos científicos, foi nomeado
«Highly Cited Researcher» pelo Institute for Scientific Information, e é
considerado um dos mais eminentes psicólogos dos nossos tempos.
É membro da National Academy of Medicine, da American Academy of Arts and Sciences e da Bavarian Academy of Sciences. Foi distinguido com a Medalha Freud [2017] e com numerosos prémios, entre os quais o Prémio Grawemeyer [2014], o Prémio Honda [2010], o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica [2005] e os prémios Nonino [2003], Signoret [2004] e Pessoa [1992].
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