junho 2018
Ciência Na Frente
Do Infinitamente Pequeno ao Infminitamente Grande
Destruir um robô será um crime?
Quase todos estamos de acordo, com raras exceções, com a ideia de que a vida humana é «sagrada». Isto traduz-se, por exemplo, no facto de que é muito mais grave matar um ser humano do que partir uma máquina. Mas as razões que nos levam a pensar assim, não são tão simples de definir.
Uma razão por vezes invocada é que somos «melhores» do que as máquinas: sabemos exprimir-nos numa língua, transmitir uma cultura, reconhecermo-nos num espelho, pintar frescos nas paredes das grutas de Lascaux, etc. Mas este argumento é escasso: as máquinas são «melhores» do que nós a jogar xadrez, a fazerem multiplicações, a fabricarem peças ou a levantar cargas pesadas, sem que consideremos, até agora, um crime o facto de destruirmos um computador, uma calculadora, uma ferramenta mecânica ou uma grua.
Uma outra razão é o facto destas máquinas serem facilmente reproduzíveis de forma idêntica. O caráter sagrado da vida humana, como o de uma obra de arte, provem da sua não-duplicabilidade: a morte de um ser humano é uma perda irreparável. É sem dúvida a partir daqui que surgem as nossas reticências éticas em clonar seres humanos. Se nos aproximarmos da possibilidade de duplicar os seres humanos de uma forma idêntica, o assassinato corria o risco de se tornar um ato quase sem consequências, já que bastaria, para o reparar, fabricar uma pessoa idêntica - ou, melhor, refabricar a mesma pessoa.
Esta possibilidade de reproduzir máquinas idênticas é uma consequência do facto de sabermos como elas funcionam, enquanto que os seres humanos possuem mistérios insondáveis. O que nos leva a uma terceira razão: a vida humana é sagrada porque os seres humanos são insondáveis. É verdade que os computadores nos ganham no xadrez, mas nós sabemos os que eles fazem para nos ganhar: eles não fazem mais do que «estupidamente» explorar, memorizar, analisar, etc. um grande número de configurações.
Esta sacralização do mistério explica porque é que frequentemente valorizamos mais o previsão do vidente do que o teorema do matemático: o vidente não diz porque é que aquilo que afirma é verdadeiro, mantendo assim um halo misterioso à volta da sua previsão, enquanto o matemático desencanta o seu teorema ao demonstrá-lo, isto é, explicando porque é que ele é verdadeiro.
Contudo, este postulado ético: «O que é insondável é sagrado» é cada vez menos eficaz, já que cada vez mais sabemos como funciona o nosso corpo, o nosso cérebro e o nosso psiquismo. Talvez um dia, a maneira como Bizet compôs a sua Carmen ou a razão pela qual Carmen deseja o Don José parecernos-á tão claras como a maneira como um computador nos ganha no xadrez. Assim, a diferença entre os humanos e as máquinas corre o risco de nos parecer mais ténue.
A ética vê assim abrir-se à sua frente uma área de trabalho imensa: como justificaremos o caráter sagrado da vida humana se o nosso corpo, o nosso cérebro e o nosso psiquismo deixarem de nos aparecer como mistérios insondáveis?
Talvez tenhamos de substituir o raciocínio de que a vida humana é sagrada devido aos seres humanos serem insondáveis, por um outro, segundo o qual a vida humana é sagrada por que decidimos que ela o é - ou talvez, de uma forma mais simples, por que ela é uma das formas de vida.
Uma razão por vezes invocada é que somos «melhores» do que as máquinas: sabemos exprimir-nos numa língua, transmitir uma cultura, reconhecermo-nos num espelho, pintar frescos nas paredes das grutas de Lascaux, etc. Mas este argumento é escasso: as máquinas são «melhores» do que nós a jogar xadrez, a fazerem multiplicações, a fabricarem peças ou a levantar cargas pesadas, sem que consideremos, até agora, um crime o facto de destruirmos um computador, uma calculadora, uma ferramenta mecânica ou uma grua.
Uma outra razão é o facto destas máquinas serem facilmente reproduzíveis de forma idêntica. O caráter sagrado da vida humana, como o de uma obra de arte, provem da sua não-duplicabilidade: a morte de um ser humano é uma perda irreparável. É sem dúvida a partir daqui que surgem as nossas reticências éticas em clonar seres humanos. Se nos aproximarmos da possibilidade de duplicar os seres humanos de uma forma idêntica, o assassinato corria o risco de se tornar um ato quase sem consequências, já que bastaria, para o reparar, fabricar uma pessoa idêntica - ou, melhor, refabricar a mesma pessoa.
Esta possibilidade de reproduzir máquinas idênticas é uma consequência do facto de sabermos como elas funcionam, enquanto que os seres humanos possuem mistérios insondáveis. O que nos leva a uma terceira razão: a vida humana é sagrada porque os seres humanos são insondáveis. É verdade que os computadores nos ganham no xadrez, mas nós sabemos os que eles fazem para nos ganhar: eles não fazem mais do que «estupidamente» explorar, memorizar, analisar, etc. um grande número de configurações.
Esta sacralização do mistério explica porque é que frequentemente valorizamos mais o previsão do vidente do que o teorema do matemático: o vidente não diz porque é que aquilo que afirma é verdadeiro, mantendo assim um halo misterioso à volta da sua previsão, enquanto o matemático desencanta o seu teorema ao demonstrá-lo, isto é, explicando porque é que ele é verdadeiro.
Contudo, este postulado ético: «O que é insondável é sagrado» é cada vez menos eficaz, já que cada vez mais sabemos como funciona o nosso corpo, o nosso cérebro e o nosso psiquismo. Talvez um dia, a maneira como Bizet compôs a sua Carmen ou a razão pela qual Carmen deseja o Don José parecernos-á tão claras como a maneira como um computador nos ganha no xadrez. Assim, a diferença entre os humanos e as máquinas corre o risco de nos parecer mais ténue.
A ética vê assim abrir-se à sua frente uma área de trabalho imensa: como justificaremos o caráter sagrado da vida humana se o nosso corpo, o nosso cérebro e o nosso psiquismo deixarem de nos aparecer como mistérios insondáveis?
Talvez tenhamos de substituir o raciocínio de que a vida humana é sagrada devido aos seres humanos serem insondáveis, por um outro, segundo o qual a vida humana é sagrada por que decidimos que ela o é - ou talvez, de uma forma mais simples, por que ela é uma das formas de vida.
Fonte: Pour la Science - junho 2018, n.º 488, p. 26 (adaptado)
Gilles Dowek
(investigador no Inria
e membro do conselho
científico da Sociedade Informática de França)
Gilles Dowek
(investigador no Inria
e membro do conselho
científico da Sociedade Informática de França)
Um Maser contínuo à temperatura ambiente
Um diamante contendo certas imperfeições emite micro-ondas quando é iluminado com um laser verde. A luz vermelha que também é emitida é uma fluorescência parasita. |
Os masers (Microwave Amplification by Stimulated Emission of Radiation), fontes muito puras de micro-ondas, serão em breve explorados em grande escala? Finalmente, um protótipo funciona à temperatura ambiente.
O maser, semelhante ao laser, mas que emite micro-ondas, data de 1954. Contudo, este dispositivo foi muito pouco utilizado, já que aqueles que foram criados só funcionavam a temperaturas criogénicas, isto é, próximas do zero absoluto (-273,15ºC). Daí o interesse do trabalho da equipa de Jonathan Breeze, do Imperial College de Londres, que acaba de criar um maser que funciona continuamente e à temperatura ambiente!
Em 2012, estes mesmos investigadores já tinham demonstrado que um maser a pentaceno (um hidrocarboneto aromático de fórmula bruta C22H14) funcionava à temperatura ambiente, mas o dispositivo apenas produzia pequenos clarões com cerca de um milésimo de segundo; para além disso, se este maser funcionasse continuamente, o cristal de pentaceno teria provavelmente fundido.
Para obter o seu novo emissor maser, a equipa de Jonathan Breeze utilizou um diamante sintético que foi criado numa atmosfera rica em azoto. Posteriormente, os investigadores eliminaram alguns átomos de carbono do diamante com a ajuda de um feixe de eletrões de alta energia, com o objetivo de lhe criar falhas; o aquecimento do diamante provocou em seguida o aparecimento destas lacunas com os átomos de azoto, o que criou o tipo de falhas que eram pretendidas pelos investigadores: as falhas azoto-lacuna, contendo dois eletrões não combinados (livres na falha). Os níveis de energia destas falhas são explorados para produzirem uma emissão no espetro das micro-ondas: através de um ajuste destes níveis é possível produzir uma emissão maser por bombagem ótica, uma técnica commumente utilizada para produzir uma emissão laser ou maser.
A bombagem ótica consiste em fornecer aos eletrões uma energia luminosa suficiente para os excitar do seu estado fundamental (o estado de menos energia) para um nível de energia superior adequado. Continuamente recebida, a energia luminosa leva a que os eletrões passem para um nível de energia intermédia (neste caso de forma a emitirem um fotão micro-onda) - um mecanismo nomeado emissão estimulada.
Para obter o sistema adequado de níveis de energia, os investigadores manipularam o estado fundamental das falhas azoto-lacuna com a ajuda de um campo magnético aplicado ao longo de um dos seus quatro eixos. Isto permitiu-lhes utilizar como energia luminosa um laser, com um comprimento de onda de aproximadamente 532 nanométros (daí a cor verde) e obter a radiação maser procurada. Com o objetivo de concentrar a energia das micro-ondas assim emitidas, os investigadores colocaram o diamante no centro de um anel de safira. Transmitida para o exterior por uma antena, a emissão, obtida à temperatura ambiente, é contínua e com uma frequência de 9,2 gigahertz. É possível modificar esta frequência fazendo variar o campo magnético.
Atualmente, os masers criogénicos são utilizados nas comunicações espaciais e na radioastronomia, onde a qualidade do seu sinal é indispensável. Todavia, como são difíceis de implementar, os investigadores esperam que os seus masers sejam substituídos em breve. Segundo estes, o novo maser poderia ser utilizado em toda uma gama de aplicações desde a imagiologia médica aos scaners corporais dos aeroportos; podem ainda desempenhar um papel central na melhoria dos captadores que servem para detetar explosivos à distância, ou mesmo para os computadores quânticos...
O maser, semelhante ao laser, mas que emite micro-ondas, data de 1954. Contudo, este dispositivo foi muito pouco utilizado, já que aqueles que foram criados só funcionavam a temperaturas criogénicas, isto é, próximas do zero absoluto (-273,15ºC). Daí o interesse do trabalho da equipa de Jonathan Breeze, do Imperial College de Londres, que acaba de criar um maser que funciona continuamente e à temperatura ambiente!
Em 2012, estes mesmos investigadores já tinham demonstrado que um maser a pentaceno (um hidrocarboneto aromático de fórmula bruta C22H14) funcionava à temperatura ambiente, mas o dispositivo apenas produzia pequenos clarões com cerca de um milésimo de segundo; para além disso, se este maser funcionasse continuamente, o cristal de pentaceno teria provavelmente fundido.
Para obter o seu novo emissor maser, a equipa de Jonathan Breeze utilizou um diamante sintético que foi criado numa atmosfera rica em azoto. Posteriormente, os investigadores eliminaram alguns átomos de carbono do diamante com a ajuda de um feixe de eletrões de alta energia, com o objetivo de lhe criar falhas; o aquecimento do diamante provocou em seguida o aparecimento destas lacunas com os átomos de azoto, o que criou o tipo de falhas que eram pretendidas pelos investigadores: as falhas azoto-lacuna, contendo dois eletrões não combinados (livres na falha). Os níveis de energia destas falhas são explorados para produzirem uma emissão no espetro das micro-ondas: através de um ajuste destes níveis é possível produzir uma emissão maser por bombagem ótica, uma técnica commumente utilizada para produzir uma emissão laser ou maser.
A bombagem ótica consiste em fornecer aos eletrões uma energia luminosa suficiente para os excitar do seu estado fundamental (o estado de menos energia) para um nível de energia superior adequado. Continuamente recebida, a energia luminosa leva a que os eletrões passem para um nível de energia intermédia (neste caso de forma a emitirem um fotão micro-onda) - um mecanismo nomeado emissão estimulada.
Para obter o sistema adequado de níveis de energia, os investigadores manipularam o estado fundamental das falhas azoto-lacuna com a ajuda de um campo magnético aplicado ao longo de um dos seus quatro eixos. Isto permitiu-lhes utilizar como energia luminosa um laser, com um comprimento de onda de aproximadamente 532 nanométros (daí a cor verde) e obter a radiação maser procurada. Com o objetivo de concentrar a energia das micro-ondas assim emitidas, os investigadores colocaram o diamante no centro de um anel de safira. Transmitida para o exterior por uma antena, a emissão, obtida à temperatura ambiente, é contínua e com uma frequência de 9,2 gigahertz. É possível modificar esta frequência fazendo variar o campo magnético.
Atualmente, os masers criogénicos são utilizados nas comunicações espaciais e na radioastronomia, onde a qualidade do seu sinal é indispensável. Todavia, como são difíceis de implementar, os investigadores esperam que os seus masers sejam substituídos em breve. Segundo estes, o novo maser poderia ser utilizado em toda uma gama de aplicações desde a imagiologia médica aos scaners corporais dos aeroportos; podem ainda desempenhar um papel central na melhoria dos captadores que servem para detetar explosivos à distância, ou mesmo para os computadores quânticos...
O que posso observar no céu de junho?
1 - Lua a 1,6ºN de Saturno - 02:00
2 - Lua no apogeu a 405 317 Km da Terra - 13:00
9 - Vénus a 5ºS de Pollux - 02:00
15 - Lua no perigeu a 359 503 Km da Terra - 00:53
21 - Solstício de verão - 11:07
23 - Lua a 4ºN de Júpiter - 20:00
28 - Lua a 1,8ºN de Saturno - 05:00
2 - Lua no apogeu a 405 317 Km da Terra - 13:00
9 - Vénus a 5ºS de Pollux - 02:00
15 - Lua no perigeu a 359 503 Km da Terra - 00:53
21 - Solstício de verão - 11:07
23 - Lua a 4ºN de Júpiter - 20:00
28 - Lua a 1,8ºN de Saturno - 05:00
Fases da Lua em junho
13 - às 20h 43min - nova
20 - às 11h 51min - crescente
28 - 05h 53min - cheia
20 - às 11h 51min - crescente
28 - 05h 53min - cheia
06 - às 19h 32min - minguante
Planetas visíveis a olho nu em junho
MERCÚRIO - Poderá ser visto somente próximo do horizonte, a leste, antes do nascimento do Sol ou a oeste, depois do ocaso do Sol. Será visível, de tarde, por volta do instante do fim do crepúsculo civil, a partir do dia 14 de junho.
VÉNUS - Poderá ser visto como estrela da tarde, mantendo-se visível até ao final de outubro.
MARTE - Pode ser visto no céu matutino no início do ano, encontrando-se, na constelação de Capricórnio.
JÚPITER - Pode ser visto durante toda a noite.
SATURNO - Pode ser visto durante toda a noite.
VÉNUS - Poderá ser visto como estrela da tarde, mantendo-se visível até ao final de outubro.
MARTE - Pode ser visto no céu matutino no início do ano, encontrando-se, na constelação de Capricórnio.
JÚPITER - Pode ser visto durante toda a noite.
SATURNO - Pode ser visto durante toda a noite.
Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa
Visibilidade da Estação Espacial Internacional
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Não há passagens visíveis nesta localização até ao fim do mês
Não há passagens visíveis nesta localização até ao fim do mês
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
Vídeo do Mês
Masers: os diamantes de micro-ondas laser
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Imagem do Mês
Chuva coronal no Sol
Será que chove no Sol? Chove, só que não é água, mas plasma extremamente quente. Um exemplo deste facto aconteceu em meados de julho de 2012, depois de um erupção ocorrida no Sol e que produziu quer uma ejeção coronal maciça quer um clarão solar moderado. Contudo, o que foi mais fora do comum, foi aquilo que aconteceu depois. O plasma nas proximidades da corona solar foi visto a arrefecer e a cair na superfície solar, um fenómeno conhecido como chuva coronal. Por se encontrarem carregados eletricamente, os eletrões, os protões e os iões dessa chuva estão graciosamente canalizados em arcos magnéticos, perto da superfície solar, fazendo com que se pareça uma queda de água surreal em três dimensões. O resultado deste sereno e surpreendente espetáculo é aqui mostrado em luz ultravioleta, onde a matéria brilha a uma temperatura de cerca 50 000 Kelvin. Cada segundo deste vídeo em "time-lapse" demora cerca de 6 minutos em tempo real. Assim, a sequência da chuva coronal durou cerca de 10 horas. Observações recentes confirmaram que a chuva coronal pode também ocorrer em pequenos arcos, com durações que podem chegar às 30 horas.
Fonte: www.nasa.gov
Fonte: www.nasa.gov
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