Dezembro 2022

 

                                                                         
                                                                              



Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Dezembro de 2022














A Lua formou-se apenas em algumas horas


Cerca de 60% dos detritos pulverizados para o espaço, quando se deu a colisão entre um protoplaneta e a Terra, e que veio a dar origem ao nosso satélite, são de origem terrestre. 


     Novas simulações informáticas refinaram os processos de agregação dos detritos saídos da colisão entre um corpo celeste e a Terra.

    Há 4,5 mil milhões de anos, um protoplaneta do tamanho de Marte terá entrado em rota de colisão com a Terra primitiva. Lançados para o espaço, os detritos desta colisão agregaram-se até formarem o nosso satélite natural. Este é o cenário privilegiado pelos cientistas desde os anos oitenta do século XX, para explicar a origem da Lua. Mas os investigadores querem saber mais sobre as circunstâncias precisas deste fenómeno. «Os modelos tentam reproduzir o conjunto das características desse astro, tal como a sua órbita precisa ou as grandes semelhanças químicas entre as rochas terrestres e lunares», sublinha Frédéric Moynier, cosmoquímico no Instituto de Física do Globo, de Paris. Simulações informáticas realizadas por planetólogos da NASA e da Universidade de Durham (Reino Unido), indicam que o nosso companheiro celeste ter-se-á formado não em alguns meses ou mesmo anos, como se pensava até agora, mas apenas em algumas horas!
     A equipa usou o supercomputador Cosma, cuja potência equivale a 40 000 computadores pessoais. Foram tidas em conta 100 milhões de partículas do sistema Terra-Lua, em vez das 100 000 a um milhão de partículas dos trabalhos anteriores. Foram simuladas 400 colisões com uma resolução inédita, fazendo variar certos parâmetros como a massa, a composição e a trajetória do objeto que colidiu com a Terra. Ao fazê-lo, os investigadores puderam identificar os vários modelos que melhor reproduzem as características da Lua. O astro Selene ter-se-ia assim agregado e estabilizado em menos de dez horas, numa órbita suficientemente longínqua a partir de feixes de matéria ejetados para o espaço. Estes devem ter sido constituídos até cerca de 60% de materiais saídos da Terra primitiva e o resto do protoplaneta. Uma proporção muito maior do que aquilo que se imaginava, nomeadamente nas camadas superficiais da Lua, onde os materiais se fundiram antes de arrefecerem, formando uma fina crosta. Este novo cenário explica assim as enormes semelhanças entre as rochas terrestres e lunares, como ainda a órbita e a estrutura do nosso satélite. «É uma teoria sedutora, ajuíza Frédéric Moynier. Contudo, deverá ser reforçada pela recolha de novas amostras do solo lunar, nomeadamente no polo Sul e na face oculta, como está previsto para as missões americanas e chinesas dos próximos anos.»     

Fonte: Sciences et Avenir - La Recherche  - dezembro 2022, n.º 910, p. 12

Franck Daninos 
(adaptado)


Cartão vermelho para os traumatismos cerebrais


Os traumatismos acontecem mais quando os jogadores chocam com os crânios do que quando recebem a bola com a cabeça.  

     O campeonato do mundo de futebol que está a decorrer no Qatar não deveria esconder o facto de que os contactos físicos e os espetaculares jogos de cabeça podem ser perigosos para os jogadores. Uma certeza científica cuja consciência continua demorada.

      Cabeçadas, desarmes difíceis, chutos... Não nos devemos esquecer que o futebol é um desporto que pode ser perigoso, nomeadamente para o cérebro. Mas, ao contrário de outros desportos de contacto como o râguebi ou o futebol americano, ainda não se ousou abordar este assunto de frente. ««No râguebi, o K-O de Christophe Dominici em 2005 foi a ocasião para um verdadeiro pontapé no formigueiro, relembra Jean-François Chermann, neurólogo e especialista de traumatismos no desporto. A partir daí foi criado um protocolo: atualmente um jogador de râguebi profissional com traumatismo apenas permanece no campo em 15% dos casos. Antes, mais de 50% deles continuavam a jogar.» Certamente que na prática do futebol os choques são menos violentos e menos frequentes do que no râguebi, mas este assunto deveria ser tido em conta seriamente pelas autoridades desportivas e sanitárias, já que os estudos mostram que o futebol é longe de estar ao abrigo dos traumatismos cranianos e estes têm vindo a aumentar.
     O primeiro grande alerta data de 2019. Um meta-estudo americano reportou então que se os jogadores profissionais do futebol inglês viviam mais tempo que a população em geral e são globalmente mais saudáveis, morrem três vezes mais de doenças neurodegenerativas. Isto porque, por trás dos traumatismos sofridos pelos jogadores, esconde-se uma doença terrível: a encefalopatia traumática crónica ou ETC, uma doença neurodegenerativa identificada em 2002 pelo anatomopatologista americano Bennet Omalu, em vários jogadores mortos da NFL (National Football League). O problema é que não existe atualmente nenhum meio de diagnosticar uma ETC num indivíduo vivo. Em 2020, uma equipa americana publicou, na revista médica Jama, uma pista de estudo dos biomarcadores que se seguem a um traumatismo craniano, mas este trabalho é ainda muito preliminar.
     O que fazer então para prevenir ou reduzir os riscos? Aparelhos ortopédicos para fixarem a cabeça de alta tecnologia ou capacetes especiais...? «Isso de nada serviria, prevê Jean-François Chermann. Para mim, as medidas mais eficazes estão na prevenção e na saída do campo logo que haja uma suspeita.» No seguimento do meta-estudo de 2019, as federações britânicas decidiram a interdição do jogo de cabeça, no futebol, nos treinos dos menores de 12 anos. É um primeiro passo, mas é muito tímido e condenado a poucos progressos. Com efeito, um estudo americano de 2020, publicado no Orthopaedic Journal of Sports Medicine, mostra que os jovens jogadores têm poucos traumatismos cranianos e, quando eles acontecem, é menos quando batem a bola com a cabeça do que quando acertam na cabeça de outro jogador. O que faz sentido: bater a bola com a cabeça é um movimento controlado, intencional, onde os músculos estão a alerta, ao contrário de uma colisão, repentina e inesperada. Entre os jogadores profissionais, apenas um terço dos traumatismos cranianos são consequência de uma cabeçada na bola. «A maioria dos ETC não são devidos aos grandes traumatismos cranianos, que no fundo são acontecimentos pouco frequentes na vida de um futebolista, mas a pequenas concussões repetidas, consequência de impactos menores sem sintomas visíveis», resume Jean-François Chermann.
     Outra questão inquietante tem que ver com o entusiasmo à volta do futebol ter galvanizado, nestes últimos anos, muitas jovens mulheres.  A Federação Francesa de Futebol (FFF) calcula ter atualmente cerca de 200 000 jogadoras federadas. Infelizmente, os trabalhos feitos acerca delas ainda são mais raros, apesar de parecer que elas são mais propensas a fazerem traumatismos cranianos do que os seus homólogos masculinos, devido, principalmente, a um pescoço menos musculado. Para compensar esta falta de conhecimento, a universidade de Boston (EUA) lançou o estudo SHINE (acrónimo inglês para «estudo dos efeitos neurológicos dos impactos sobre a cabeça no futebol») que pretende recrutar 20 jogadoras profissionais e segui-las durante a sua vida profissional, submetendo-as a uma bateria de testes sanguíneos, cognitivos e scanners cerebrais. Já há duas jogadoras profissionais de futebol que foram incluídas neste estudo: Brandi Chastain e Michelle Akers decidiram doar os seus cérebros após a sua morte, com o objetivo de fazer progredir estes (magros) conhecimentos.            

Fonte: Sciences et Avenir - La Recherche - dezembro 2022, n.º 910, pp. 72-73

Hervé Ratel
(adaptado)



O que posso observar no céu de dezembro?


 
1 - Marte na sua posição mais próxima da Terra a 81,4 milhões de Km - 02:00
2 - Lua a 3ºS de Júpiter - 01:00
8 - Lua a 0,5ºN de Marte - 04:00
12 - Lua no apogeu a 405 869 Km da Terra - 00:28
14 - Pico de chuva de meteoros das Geminídeas
21 -Solstício de inverno - 21:48
22 - Marte a 8ºN de Aldebarã - 04:00
24 - Lua no perigeu a 358 271 Km da Terra - 08:27
24 - La a 4ºS de Mercúrio - 19:00
 





Fases da Lua em dezembro


           

                23 - às 10h 17 min - nova

                30 - às 01h 20min - crescente

                08 - às 04h 08min - cheia

                16 - às 08h 56min - minguante
                
                









Planetas visíveis a olho nu em dezembro


MERCÚRIO - Será visível de tarde, por volta do instante do fim do crepúsculo civil, até ao fim do ano.

VÉNUS - Durante este mês será visto como estrela da tarde até ao final do ano.

MARTE - Pode ser visto durante toda a noite na constelação de Touro e é facilmente reconhecível pela sua cor avermelhada.

JÚPITER - Pode ser visto durante toda a noite na constelação de Peixes e em finais de dezembro pode ser visto ao anoitecer.

SATURNO Pode ser visto no céu noturno na constelação de Capricórnio ao anoitecer.
 
Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
    
DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-12-2,218:26:2010°NNO18:28:5721°NNE18:29:0421°NNEvisível
2-12-1,917:38:1610°NNO17:40:3417°NNE17:42:5210°ENEvisível
2-12-1,819:14:3310°NO19:16:0123°NO19:16:0123°NOvisível
3-12-3,118:26:2310°NO18:29:3237°NNE18:30:0534°NEvisível
4-12-2,617:38:1010°NO17:41:0326°NNE17:43:5710°Evisível
4-12-2,419:14:4210°ONO19:17:1240°O19:17:1240°Ovisível
5-12-3,818:26:1210°NO18:29:3388°SO18:31:3422°SEvisível
6-12-3,617:37:4310°NO17:41:0055°NNE17:44:1710°ESEvisível
6-12-1,019:15:0910°O19:17:2617°SO19:19:1412°SSOvisível
7-12-1,818:26:0010°ONO18:28:5930°SO18:31:5610°SSEvisível
8-12-2,917:37:0610°ONO17:40:2354°SO17:43:3710°SEvisível
9-12-0,218:26:5510°OSO18:27:5111°SO18:28:4710°SOvisível
10-12-0,617:36:4210°O17:39:1019°SO17:41:3810°Svisível
    
 
    

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês





Conheça a Estação Espacial Chinesa

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)


Imagem do Mês





Saturno à noite

      Saturno é um astro brilhante nos céus noturnos do nosso planeta. As observações telescópicas do distante gigante gasoso e dos seus belos anéis, são muitas vezes a estrela das observações noturnas. Mas esta vista deslumbrante dos anéis de Saturno e do seu lado noturno, não é possível a partir de telescópios estacionados na Terra. Eles só podem mostrar o dia de Saturno. De facto, esta imagem do esguio crescente de Saturno, iluminado pelo Sol e com a sombra da noite projetada no seu amplo e complexo sistema de anéis, foi capturada pela sonda Cassini. Esta foi uma nave espacial robô enviada a partir da Terra, onde permaneceu durante 13 anos na órbita de Saturno, antes de ser direcionada para mergulhar na atmosfera do gigante gasoso, em 15 de setembro de 2017. Este magnífico mosaico é composto por imagens gravadas pela grande angular da câmara de Cassini, apenas dois dias antes do seu grande mergulho final. A noite de Saturno não será vista novamente até que outra nave espacial da Terra lá chegue.
Fonte: www.nasa.gov



Livro do Mês




Sinopse

    Aplicando a filosofia dos antigos pensadores à vida no nosso século XXI, iPlatão é uma obra que mostra que, quer esteja entalhada na pedra ou gravada em formato MP3, a grande sabedoria é sempre intemporal.
     Recordando as vidas extraordinárias dos antigos filósofos - desde um que dormia numa barrica até outro que nunca parava de rir - o conceituado escritor Mark Vernon mostra que, se quisermos resolver os problemas do presente, não existe melhor recurso do que o passado. 

Sobre o autor:




    Mark Vernon é jornalista e autor de livros sobre várias temáticas, nomeadamente a amizade, o bem-estar e a ciência e a filosofia do dia-a-dia.
     Vernon tem várias licenciaturas, que vão da Física à Teologia, passando pela Filosofia e, além das contribuições regulares com vários órgãos de comunicação, leciona num novo projeto social, The Schoolof Life, empenhado em apresentar boas ideias para a vida quotidiana, em Londres.
     O blogue do autor sobre filosofia e vida foi considerado um dos cem melhores pelo jornal britânico Sunday Times.

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