Outubro 2021


                                                                                                                                                       



Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Outubro de 2021











A Via Láctea tem um braço «partido»

Sendo uma galáxia espiral, a Via Láctea é composta por quatro braços principais e talvez possua um quinto, segundo as mais recentes observações efetuados por astrónomos chineses.

     O braço de sagitário, um dos braços espirais que compõem a nossa galáxia estará... partido. Utilizando os telescópios espaciais Gaia e Spitzer, uma equipa internacional de astrónomos descobriu uma rutura de continuidade, semelhante a uma fratura óssea. Nessa zona que se estende por cerca de 3000 anos-luz, as estrelas deslocam-se todas à mesma velocidade e na mesma direção. Mas enquanto o braço de Sagitário se afasta do centro  galático num ângulo de 12º, a região em questão apresenta um ângulo de quase 60º. É a primeira vez  que se observa uma tal descontinuidade num dos braços da Via Láctea. «Perturbações gravitacionais, forças  de corte, devidas à rotação da galáxia sobre ela mesma... A origem deste quebra é ainda incerta, comenta Paola Di Matteo, astrónoma do observatório  de Paris. Mas é uma nova peça do puzzle que poder-nos-á dizer alguma coisa de importante sobre a nossa galáxia no seu conjunto
     Mas esta não foi a única surpresa que nos reservou a Via Láctea. Astrónomos da universidade de Nankin (China), paralelamente, mostraram uma nova estrutura que poderá ser um quinto braço espiralado, que até agora tinha passado despercebido. Graças ao radio telescópio FAST, os cientistas rastrearam um filamento de poeiras e gás com dimensões colossais, com 16 000 anos-luz de comprimento e 675 anos-luz de largura... a mais de 70 000 anos-luz do centro galático. Batizado «cauda de gato» devido à sua forma muito alongada, este filamento será o maior e o mais comprido alguma vez observado. A maneira como este apêndice se terá formado permanece desconhecida. Isto é o suficiente para abalar as atuais representações da Via Láctea. Um disco que mede no mínimo 120 000 anos-luz de diâmetro e abriga mais de 100 mil milhões de estrelas. No seu núcleo, uma larga banda central rodeada por uma luz que se prolonga numa espiral - gigantescas estruturas onde a densidade das estrelas, das poeiras e do gás é mais importante do que em qualquer outro lugar. «A arquitetura da Via Láctea é muito difícil de caracterizar, já que estamos mergulhados nela, a meio caminho entre o centro do disco galático e a sua fronteira externa, explica Paola Di Matteo. É como se procurássemos reconstituir a fisionomia de uma floresta observando-a, unicamente, a partir do seu anterior.»  
                    
Fonte: Sciences et Avenir - La Recherche - outubro 2021, n.º 896, p. 8
Franck Daninos 
(adaptado)



Quando a água se torna metálica

A gota alcalina é coberta por uma fina película de água. Esta última, dopada pelos eletrões cedidos pelos elementos alcalinos, torna-se condutora e ganha uma cor metálica.

    A água pura é um péssimo condutor de eletricidade. Na vida quotidiana, é graças à presença frequente de iões neste líquido que uma corrente pode fluir por ela. A maioria dos materiais isolantes podem-se tornar condutores sob alta pressão. Mas para transformar água pura em metal, seria necessário uma pressão de 15 milhões de bares (1 bar é aproximadamente igual à pressão da atmosfera terrestre)! Philip Mason da Academia de Ciências da República Checa, em Praga, e os seus colegas, encontraram outra solução para alcançar esta transformação.
     A ideia é enriquecer a água com eletrões colocando o líquido em contacto com metais alcalinos, tais como o sódio ou o potássio, cujos átomos cedem facilmente um eletrão. No entanto, esses elementos reagem violentamente com a água, pela libertação rápida de hidrogénio, que pode inflamar ou explodir na presença do oxigénio. Assim, os químicos procuraram as condições em que os eletrões se difundiriam na água mais rápido do que reagiriam. Para o fazer, colocaram gotas de uma liga líquida de sódio-potássio numa câmara de vácuo contendo um pouco de vapor de água. Enquanto que as moléculas de água adsorvem à superfície da gota, os eletrões livres da liga migram rapidamente através do filme de água. Assim dopada, esta camada torna-se condutora e adquire uma cor dourada por alguns segundos. Graças a análises espetroscópicas complementares (por espetrometria de fotoeletrões induzidos por raios-X), Philip Mason e os seus colegas confirmaram que a água realmente se tornou metálica durante essa fase. Ao fim de cinco segundos, o filme de água muda de cor e fica branco, com a formação de hidróxidos alcalinos. 

Fonte:  Pour La Science - outubro 2021, n.º 528, p. 9
Sean Bailly 
(adaptado)



O que posso observar no céu de outubro?


8 - Atividade máxima das Dracónidas,  10/hora até10 de outubro - 18:30 
8 - Lua no perigeu - 17:00
9 - Lua a 3ºS de Vénus - 19:00
21 - Atividade máxima das Oriónidas, 20/hora, até 7 de novembro - 
22 - Início  do Outono - Equinócio - 20:21
24 - Lua no apogeu - 15:00
31 - Início da hora de inverno (diminuir uma hora) - 02:00

Céu visível às 21:00 horas do dia 1 de outubro em Lisboa mostrando os planetas Vénus, Júpiter e Saturno.

Céu visível às 07:00 horas do dia 15 de outubro em Lisboa mostrando o planeta Mercúrio e as estrelas mais brilhantes: Sírio, Capela, Rígel, Prócion, Betelgeuse, e Aldebarã.





Fases da Lua em outubro


06 - às 11h 05min - nova

13 - às 03h 25min - crescente

20 - às 14h 57min - cheia

28 - às 20h 05min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em setembro


MERCÚRIO - Será visível, de tarde, por volta do instante do fim do crepúsculo civil, na constelação de Caranguejo até  3 de outubro. Depois desta data, será visível, de manhã, por volta do instante do crepúsculo civil, a partir de 13 de outubro na constelação de Virgem. 

VÉNUS - Durante este mês surge como estrela da tarde, entre a constelação de Balança, Escorpião e Ofiúco.

MARTE - Não poderá ser observado por se encontrar demasiado próximo do Sol. Poderá ser observado a partir do dia 27 na constelação de Virgem.

JÚPITER - Pode ser visto na constelação de Capricórnio, durante toda a noite.

SATURNO Pode ser visto durante a primeira metade da noite, na constelação de Capricórnio.


Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)


DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
21-10-1,806:54:4410°SSO06:57:4530°SE07:00:4710°ENEvisível
 
Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês



Conhecendo a nossa galáxia

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)



Imagem do Mês




A nebulosa da Praça Vermelha

       Como é que uma estrela redonda criou esta nebulosa quadrada? Ninguém tem bem a certeza. A estrela redonda, conhecida como MWC 922 e possivelmente parte de um sistema de estrelas múltiplas, aparece no centro da Nebulosa da Praça Vermelha. A imagem em destaque combina exposições infravermelhas do Telescópio Hale no Monte Palomar, na Califórnia, e do Telescópio Keck-2 em Mauna Kea, no Havai. Uma hipótese  para a origem da nebulosa quadrada é que a estrela central ou estrelas, de alguma forma, expeliram cones de gás durante um estádio de desenvolvimento tardio. Para a MWC 922, esses cones incorporam ângulos quase retos e são visíveis pelo lado. Evidências que suportam a hipótese do cone incluem raios radiais nesta imagem que podem ocorrer ao longo das paredes do cone. Os investigadores especulam que os cones vistos de outro ângulo pareceriam semelhantes aos gigantescos anéis da supernova 1987A, possivelmente indicando que uma estrela tipo a MWC 922 poderia um dia explodir numa supernova semelhante.
Fonte: www.nasa.gov


Livro do Mês



Sinopse

     A série de artigos de «Le rire» [1900], foi reunida por Henri Bergson em livro, abrangendo um ensaio sobre o significado do cómico. Edição revista e ampliada, com tradução de Guilherme de Castilho Henri Bergson [1859 - 1941] representa um dos filósofos franceses cujo pensamento e obra permanecem de entre os mais importantes da atualidade. Deixou-nos textos fundamentais como o «Ensaio sobre os dados imediatos da consciência», 1889, «Matéria e memória», 1896, «A Evolução criadora», 1907, ou «As Duas fontes da moral e da religião», 1932. De entre elas, «O Riso, ou Ensaio sobre o significado do cómico», surge como reunião de uma série de três artigos publicados em 1900 e no mesmo ano editados em livro: Do cómico em geral - O cómico das formas e o cómico dos movimentos - Força e expansão do cómico; O cómico de situação e o cómico da palavra; O cómico de carácter. A primeira edição portuguesa data de 1960, publicada nesta coleção de Filosofia & Ensaios, iniciativa que, desde a década de 50, tem vindo a proporcionar à sua leitura e reflexão, verdadeiros valores do pensamento filosófico de todos os tempos.

Sobre o autor:




Filósofo francês nascido a 18 de outubro de 1859, em Paris, e falecido a 3 de janeiro de 1941, na mesma cidade. Entre 1877 e 1881 estudou na École Normale Supérieure e tirou o doutoramento em 1889, tornando-se professor no Collège de France. A sua tese de doutoramento foi escrita em latim e intitulava-se Quid Aristoteles de loco senserit. No mesmo ano, publicou a sua primeira obra: Essai sur les Données Immédiates de Conscience. Após a publicação da sua segunda obra, Matière et Mémoire, e de Le Rire: Essai sur la Significance du Comique, ambas em 1900, obteve a categoria de professor catedrático no estabelecimento onde já lecionava. Em 1914 torna-se membro da Academia Francesa e em 1927 foi galardoado com o prémio Nobel da Literatura.
     Foi o primeiro a elaborar aquilo que viria a ser chamado o "processo filosófico", que rejeita os valores estáticos em favor dos valores do movimento, da mudança e evolução. Acreditou que o tempo muda e que o desenvolvimento era a essência da realidade. Foi um mestre do estilo literário, pela forma como utilizava a metáfora, a imagem e a analogia nas suas exposições sobre a vida.
     Foi autor de outras obras importantes, como Introdution à la Métaphysique (1903), L'Evolution Créatrice (1907), L'Énergie Spirituelle (1919), Durée et Simultanéité à Propôs de la Théorie D'Einstein (1921), entre outras.    



 





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