junho 2020








Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Junho de 2020




O vírus ainda anda por aí. 
Não descuidem a distanciamento social, a lavagem das mãos e o uso de máscara em locais públicos fechados. 


Covid-19: confusão entre política e ciência


e

     A comunicação à volta da Covid-19 tem revelado uma parceria estreita entre os decisores públicos e os especialistas das doenças infeciosas. Esta visível aliança do político e do especialista dará maior confiança às pessoas? Nada é menos seguro. Uma clara demarcação entre estas duas ordens de racionalidade acaba por ser essencial para que os governados consintam dar poder aos governantes. 
     Os estudos das ciências sociais têm-nos mostrado que a decisão política não tem uma natureza científica. Assim, o conhecimento dos parâmetros da epidemia informam-nos sobre a sua evolução e as técnicas da biologia molecular asseguram o desenvolvimento de testes sorológicos ou outros. Por agora, estes utensílios não determinam as medidas de confinamento e de despistagem: estas recaem nas arbitragens socioeconómicas. Evidentemente, que o ter em conta dos dados da ciência é um imperativo moral, até mesmo constitucional, já que esta é a garantia do interesse geral sanitário, mas a construção das políticas públicas não se reduz a esses dados.
     O corolário deste distanciamento é duplo. Se os cientistas não podem decidir a forma de controlar o pico da pandemia, a comunicação governamental não pode, por si, representar a ciência, nem falar em nome dela.
     Muitas vezes negligenciada, esta última dimensão é todavia o centro da confiança. O mau estar dos cidadãos acentuou-se quando os nossos governantes começaram a exprimir-se cientificamente sobre a possível chegada da Covid-19 à Europa, sobre o uso das máscaras, sobre o contágio das crianças e a fragilidade dos mais velhos. Assim, a urgência mundial desta crise sanitária incitou os poderes públicos a mobilizar os especialistas, por vezes confundindo mesmo os dois registos.
     Para além disso, o início da pandemia levou a discussões interpretativas marcadas pelas diferenças cognitivas e que a afastaram do registo científico. Assim, por exemplo, um quarto dos franceses consideram que o vírus foi criado em laboratório e 17% da população acredita numa fabricação intencional deste agente. Aqui, entra em cena a distorção da «agentividade» que consiste em dar às entidades coletivas, quer se tratem de cientistas, patologistas, estrangeiros, etc. uma faculdade de ação intencional sobre o mundo, que alimenta as teorias da conspiração.
     Por exemplo, algumas destas teorias atribuem ao vírus da Covid-19 uma origem humana, nomeadamente chinesa, enquanto vimos ecologistas associar a pandemia a uma revolta da «Natureza». Comparável à punição divina do passado, esta linguagem metafórica transforma-a numa força animada com uma intenção.
     Na história das epidemias, a investigação das suas causas têm muitas vezes que ver com a desregulação dos costumes ou do clima. Desde o perdão dos pecados dos crentes atingidos pelo coronavirus pela Igreja, até à personificação de uma natureza assassina, a busca do fenómeno epidémico, como objeto científico, é travada. Tudo isto se agrava quando a distinção entre a produção de dados e a sua representação política se diluem. Fornecidas diariamente, as estatísticas da infeção e da mortalidade são ao mesmo tempo epidemológicas e de ação governamental. A pandemia enquanto objeto científico não é contudo a pandemia percebida como objeto político que afeta toda a sociedade. Para além disso, a comunicação política dos perigos continua a ser um desafio. Daí, ser mais fácil arranjar um bode expiatório ou um castigo da Natureza.... 

Fonte: Pour la Science - junho 2020, n.º 512, p. 20  
Virginie Tournay, 
bióloga de formação, 
é politóloga e diretora de investigação do CNRS no Cevipot, 
na Sciences Po, em Paris (adaptado)


     

A primeira molécula do Universo




       Desde há muito tempo que os investigadores consideram o ião de hidreto de hélio, HeH+, como sendo a primeira molécula a formar-se no cosmos. Mas este ião continuava a ser impossível de detetar no espaço. Até agora...
     Com condições de temperatura e pressão muito diferentes das da Terra, formam-se no espaço moléculas desconhecidas dos químicos ou que apenas foram sintetizadas em laboratório. O estudo dos primeiros momentos do Universo sugerem aos astroquímicos que o ião de hidreto de hélio, HeH+, foi provavelmente a primeira molécula a formar-se no cosmos. Só muito recentemente, graças a numerosos progressos na análise  da radiação emitida por objetos astrofísicos, é que os investigadores descobriram o HeH+ no meio interestelar. Os cientistas também esclareceram o enigma das «bandas interestelares difusas» ao descobrirem outras moléculas presentes nesse meio.
     Quando se formou o Universo, o Big Bang libertou uma quantidade considerável de energia que se transformou numa sopa extremamente quente de partículas fundamentais, nomeadamente os eletrões, os fotões e os constituintes elementares dos núcleos atómicos, os quarks. Este meio evoluiu rapidamente, mas o aparecimento de átomos e de moléculas foi mais tardio. Se a história da formação dos átomos é bem conhecida e confirmada atualmente por diversas observações, a das primeiras moléculas é mais incerta. Qual a molécula que se formou primeiro? Para os astroquímicos foi provavelmente o hidreto de hélio, composto por um átomo de hidrogénio e um de hélio. Mas para confirmar esta hipótese, era necessário encontrar esta molécula no meio interestelar. Esta busca terminou recentemente.
     O observatório estratosférico para a astronomia de infravermelhos (Sofia, para Startospheric observatory for infrared astronomy) foi usado para tentar descobrir esta molécula, como resultado de uma colaboração entre a NASA e o Centro Alemão para a Aeronáutica e Astronáutica (DLR) - a agência espacial alemã. Trata-se de um telescópio de infravermelhos aerotransportado: é colocado no flanco de um avião, um Boeing 747 reconvertido, e feita uma abertura para permitir ao telescópio realizar observações de alta altitude.
     Em maio de 2016, uma equipa internacional utilizou o Sofia durante três noites para observar o espaço. O telescópio de Sofia tem uma resolução espetral suficiente para discernir o marcador espetroscópico único da HeH+, com uma frequência de 2010,184 gigahertz. Após uma análise meticulosa dos dados recolhidos, o resultado foi publicado em 2019: foi nos restos de uma estrela, no fim da sua vida, na nebulosa planetária NGC 7027, na constelação do Cisne, que a equipa de Rolf Güsten desenterrou a assinatura química procurada desde há muito tempo.
     Na verdade, os iões de HeH+ detetados não são os do Universo primordial: os compostos que Rolf Güsten e os seus colegas descobriram foram produzidos muito mais recentemente. Mas esta descoberta contribui para melhorar o nosso conhecimento deste tipo de química. Ela fornece indícios sobre as condições que reinavam no Universo primordial quando a HeH+ era o único composto presente no espaço. Esta descoberta também é suscetível de fornecer informações sobre quais os locais onde se pode encontrar HeH+ no espaço, nos nossos dias: os cientistas irão procuram noutras nebulosas planetárias, ou noutras regiões do Universo visível tão distantes que a sua observação  constituirá um imenso salto no passado..


Fonte: Pour la Science - junho 2020, n.º 511, pp. 22-30  
Ryan Fortenberry
mestre de conferências de química física na
Universidade de Mississipi, EUA (adaptado)




O que posso observar no céu de junho?


3 - Lua no perigeu a 364 365 Km da Terra - 05:00
5 - Eclipse penumbral da Lua - 20:00
9 - Lua a 3ºS de Saturno - 03:00
14 - Lua a 3ºS de Marte - 01:00 
15 - Saturno a 3ºN da Lua - 15:00
15 - Lua no apogeu a 404 596 Km da Terra - 02:57
20 - Solstício: início do verão - 03:00
30 - Lua no perigeu a 368 958 Km da Terra - 03:13





Céu visível às 22:00 horas do dia 1 de junho em Lisboa mostrando as estrelas mais brilhantes Arctura, Vega e Capela.




Céu visível às 05:00 horas do dia 1 de junho em Lisboa mostrando os planetas Marte, Júpiter e Saturno.




Fases da Lua em junho


21 - às 07h 41min - nova

28 - às 09h 16min - crescente

05 - 20h 12min - cheia 

  13 - às 07h 24min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em junho 


MERCÚRIO - Poderá ser visto somente próximo do horizonte, a leste, antes do nascimento do Sol ou a oeste, depois do ocaso do Sol. Será visível, de tarde, por volta do instante do crepúsculo civil, até 22 de junho, na constelação de Gémeos, olhando para Noroeste. A sua magnitude varia entre 0,0 a 3,0. 

VÉNUS - Pode ser visto como a estrela da manhã na constelação de Touro. No início deste mês a sua magnitude varia entre -3,6 a -4,4.

MARTE - Pode ser visto na constelação de Aquário, movendo-se depois para a constelação de Peixes. Encontra-se na direção de Sudeste. A sua magnitude ao longo do mês varia entre 0,0 a -0,5. 

JÚPITER - Pode ser visto durante toda a noite na constelação de Sagitário. Encontra-se na direção Sudeste. A sua magnitude ao longo do mês varia de -2,6 a -2,7.

SATURNO - Pode ser visto na constelação de Capricórnio durante toda a noite. No dia 9, Saturno estará a 3ºN da Lua pelas 3h. Encontra-se na direção Sudeste. A sua magnitude ao longo do mês varia de 0,4 a 0,2.


Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)

Entre 11 e 21 de junho não há passagens visíveis da EEI nesta localização

Como usar esta grelha:

Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês



Como os cientistas descobriram a primeira molécula do Universo


(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)



Imagem do Mês



A Terra e a Lua vistas através dos anéis de Saturno

         O que são aqueles dois pontos ao lado dos anéis de Saturno? A nossa Terra e nossa Lua. Há três anos atrás, quando o Sol esteve temporariamente bloqueado pelo corpo de Saturno, a nave robótica Cassini pode virar-se para o Sistema Solar interior. Ao fazê-lo detetou a nossa Terra e a nossa Lua como pequenos pontos de luz a cerca de 1, 4 mil milhões de quilómetros de distância. No lado direito desta imagem vemos o anel A de Saturno, com a grande Falha Encke mais à direita e a mais estreita Falha Keeler, na zona central da foto. O anel mais à esquerda é o Anel F que está em constante mudança. A partir desta perspetiva, a luz dos anéis de Saturno estava a ser lançada para a frente e, por isso, parece que foram iluminados por trás. Depois de mais de uma década de exploração e descobertas, a nave Cassini ficou sem combustível em 2017 e entrou diretamente na atmosfera de Saturno, onde acabou por se derreter.                  
Fonte: www.nasa.gov

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