junho 2019










Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande

Junho de 2019



Finalmente detetada no espaço a primeira molécula do Universo





     Entre 14 e 26 de maio de 2016, um estranho avião efetuou três voos sobre a Califórnia, na baixa estratosfera, aproximadamente nos 13 000 m de altitude. Estranho porque este avião transportava um telescópio de infravermelhos, batizado Sofia, destinado a observar a NGC 7027, uma jovem nebulosa planetária (apenas com 600 anos), situada a 2 700 anos-luz da Terra. Graças a ele, uma equipa de astroquímicos conseguiu detetar pela primeira vez no espaço, traços de hidreto de hélio (HeH+).
     É uma grande descoberta. O HeH+ representa com efeito a primeira ligação molecular a ser criada no Universo, por volta dos 1000 000 anos após o Big Bang. A destruição destes iões moleculares estabeleceu uma das primeiras vias de formação do hidrogénio molecular, o elemento mais abundante e mais importante do Universo.
     Todavia, por muito vital que seja, o HeH+ escapou durante muito tempo a qualquer deteção. A culpa é da sua «assinatura» luminosa, aquilo a que se chama os seus raios espetrais: o HeH+ emite em infravermelho, uma gama de comprimento de onda muito difícil de identificar, em particular na Terra (a atmosfera interceta as emissões luminosas neste domínio). Foi preciso esperar que uma tecnologia adaptada - a espetroscopia terahertz - fosse criada e atingisse um nível de sensibilidade suficiente. «No domínio das frequências que nos interessam, o nosso instrumento permite uma resolução espetral de quatro ordens de grandeza superior em relação ao seu predecessor, ISO: 244 kilohertz, contra 8 gigahertz, diz-nos Helmut Wiesemeyer, do Instituto Max Planck para a radioastronomia, em Bona. Isto faz todas a diferença, quando sabemos que outro hidreto, o metilideno, emite em frequências muito próximas, por vezes apenas a 0,06 GHz de distância.» Assim, a linha identificada pela equipa foi medida numa frequência de 2010,183873 GHz. Esta não é uma linha qualquer: é aquela que é emitida pelo ião quando da transição para o estado fundamental de energia mínima.
     O anúncio suscitou o entusiasmo da comunidade científica, que esperava este resultado há décadas. «É uma performance instrumental impressionante», diz por exemplo, Evelyne Roueff, astrónoma emérita no Observatório de Paris, e que fez parte dos primeiros investigadores, no final dos anos 1970, a ter predito a existência do HeH+ no espaço. Helmut Wiesemeyer e os seus colegas já se concentram na continuação da sua descoberta. Para retirar as - poucas - dúvidas em relação à sua descoberta, ambicionam agora detetar outras linhas de HeH+. Um objetivo que passa pelo desenvolvimento de novos instrumentos.    

Fonte: La Recherche - junho 2019, n.º 548, p. 21  
Vincent Glavieux (adaptado)


        

Um testemunho geológico dos últimos instantes dos dinossauros


No local de Tanis, na América do Norte, uma camada com 1,3 metros de espessura e com a idade de 66 milhões de anos, contem os restos de numerosos peixes e plantas emaranhados, associados a vestígios geológicos do impacto de um meteorito 

        O desaparecimento dos dinossauros no final do Cretáceo é atribuída à queda de um asteróide no México. Mas o que é que se passou exatamente nesse dia? Essencialmente não sabemos. Entretanto, Robert DePalma, da universidade do Kansas, estudou uma extraordinária cápsula temporal contendo o testemunho preciso de uma morte em massa, aparentemente associada a um impacto e que trás algumas precisões sobre os locais imediatos da catástrofe.
     O fim do Cretáceo aconteceu há 66 milhões de anos, quando um asteróide com aproximadamente 10 quilómetros de diâmetro atingiu a Terra, próximo da atual aldeia de Chicxulub. A energia libertada pelo choque foi o equivalente à de 100 mil milhões de bombas atómicas, tendo grandes consequências ecológicas, nomeadamente a extinção dos dinossauros.
     Denominada Tanis, a jazida paleontológica estudada por Robert DePalma situa-se no Dakota do Norte, a 3000 quilómetros do ponto do impacto. Trata-se de uma camada com 1,3 metros de espessura, misturando sedimentos num enxame de fósseis de plantas e animais muito bem conservados. As bocas abertas dos peixes de água doce fossilizados (peixes-espátula e esturjões) e os sinais de tetania devido à asfixia dos animais, provam que é o conteúdo de um rio que foi bruscamente lançado na totalidade para a margem vegetal de um meandro do paleo-rio Tanis. Correndo para Este, este último lançava-se no mar interior norte-americano existente nessa época. O depósito é semelhante ao género de caos sedimentar deixado pelos tsunamis. Por agora, o seu perfil granulométrico obriga a subdividi-lo em dois estratos sobrepostos. Houve portanto dois surtos sucessivos.
    A idade do depósito sugere, fortemente, uma fossilização rápida ligada ao impacto em Chicxulub: desde o início do estudo de Tanis que se acumularam cerca de 40 datações com argo (baseadas na relação 40Ar/39Ar), atribuindo aos sedimentos uma idade média de 65,76±0,15 milhões de anos, o que corresponde ao fim do Cretáceo. Por outro lado - e como deveria ser se Tanis for verdadeiramente do final do Cretáceo - estes estratos foram imediatamente cobertos pela mesma camada fina de argila rica em iridium (elemento muito presente nos meteoritos) que, como se encontra por todo o planeta, é identificado como a assinatura química do meteorito.
     Logicamente, em primeiro lugar Robert DePalma pensou no depósito como tendo-se formado pela ação, no vale, do enorme tsunami provocado pelo meteorito. Contudo, o cálculo mostra que isso não é possível: o tsunami teria demorado mais de 18 horas a chegar a Tanis, enquanto que as duas observações provam que a inundação violenta de Tanis aconteceu na hora seguinte que se seguiu ao impacto. A primeira observação é que as guelras dos peixes e a lama de Tanis estão saturadas com pequenas bolas de quartzo chocado, jatos típicos de um impacto de meteorito  e que, segundo os cálculos, caíram em Tanis entre 13 minutos a duas horas após o impacto. Segunda observação: impactos de tectitos, que são projéteis de vidro com formas arredondadas produzidas pela ejeção e pela solidificação em voo das rochas fundidas pelo impacto, estando espalhadas pelos estratos de Tanis.
    Assim, donde vieram as duas vagas que atingiram Tanis? Segundo os investigadores, a situação mais plausível é que elas tenham sido induzidas pelas oscilações de uma bacia contígua ao rio Tanis, provocado pelas enormes ondas sísmicas associadas ao impacto. Os cálculos mostram que essas ondas atingiram Tanis nalguns minutos.
     Assim, Tanis é uma boa testemunha do que se produziu na hora seguinte do impacto em Chicxulub. Robert DePalma descobriu aí um osso ilíaco de um dinossauro herbívoro e confidenciou a Douglas Preston, da revista The New Yorker, ter encontrado uma presumível pena de dinossauro e «os dentes, ossos partidos e os restos da eclosão de quase todos os grupos de dinossauros conhecidos na região, assim como restos de pterossáurio». Estas descobertas, ainda não publicadas, levam a pensar que os dinossauros estavam lá no dia em que o meteorito de Chicxulub caiu.



Fonte: Pour La Science- junho 2019, n.º 500, pp. 6-7
François Savatier  (adaptado)




O que posso observar no céu de junho?


8 - Lua no perigeu a 368 504 Km da Terra - 00:15
16 - Lua a 2ºN de Júpiter - 20:00
17 - Lua a 5ºN de Aldebarã - 22:00
19 - Lua a 0,4ºS de Saturno - 05:00
21 - Mercúrio a 6ºS de Pollux - 06:00
21 - Solstício de verão - 16:54
23 - Lua no apogeu a 404 549 Km da Terra - 08:50


Fig. 1 - Céu visível às 22:00 horas do dia 1 de junho, mostrando o planeta Júpiter.

Fig. 2 - Céu visível às 05:20 horas do dia 15 de junho, mostrando os planetas Vénus, Saturno e Júpiter.





Fases da Lua em junho


03 - às 11h 02min - nova

10 - às 06h 59min - crescente

17 - 09h 31min - cheia 

  25 - às 10h 46min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em junho

MERCÚRIO - Poderá ser visto somente próximo do horizonte, a leste, antes do nascimento do Sol ou a oeste, depois do ocaso do Sol. Será visível de tarde, por volta do instante do começo do crepúsculo civil, até 13 de julho. 

VÉNUS - Pode ser visto como estrela da manhã.

MARTE - Pode ser visto na constelação de Gémeos e no final de junho em Caranguejo. 

JÚPITER - Neste mês estará visível durante toda a noite.

SATURNO - É visível toda a noite, na constelação de Sagitário. 


Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)

Entre 15 e 25 de junho não há passagens visíveis para esta localização


  
Como usar esta grelha:


Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/



Vídeo do Mês









Como os cientistas encontraram o 1º tipo de molécula

(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)



Imagem do Mês






Estrelas, pó e gás perto da NGC 3572

         A formação de estrelas pode ser colorida. Esta imagem cósmica cromática mostra-nos o brilhante gás e pó escuro junto de algumas estrelas recentemente formadas, da NGC 3572 e um pequeno enxame perto da Nebulosa Carina. As estrelas da NGC 3572 são visíveis junto da parte de baixo da imagem, enquanto a expansiva nuvem de gás localizada por cima é o que resta da formação da nebulosa. Esta nebulosa, próxima da NGC 3572 tem um comprimento de aproximadamente 100 anos-luz e fica a cerca de 9000 anos-luz na direção da constelação Carina, no hemisfério Sul. Dentro de alguns milhões de anos, este gás visível na imagem, estará disperso, enquanto os encontros gravitacionais irão, da mesma forma, dispersar o enxame de estrelas, nos próximos mil milhões de anos.             
Fonte: www.nasa.gov

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Janeiro 2024

Julho 2024

Setembro 2024