março 2017











Ciência Na Frente

Do Infinitamente Pequeno ao Infinitamente Grande


Uma mutação genética que beneficiou o cérebro do Homo sapiens


Uma mutação de uma base num gene do Homo erectus terá estado na origem de um forte desenvolvimento do cérebro humano


     Por vezes os maiores progressos resultam de um erro, de um acidente ocasional, mas tendo consequências incalculáveis. Tomemos o cérebro humano: este órgão de uma complexidade incrível poderá ser o resultado de um golpe de sorte. Foi o que descobriu o paleogeneteticista sueco Svante Pääbo e a sua equipa, especializados em ADN pré-histórico.
     O acontecimento chave que levou à evolução do nosso encéfalo ter-se-á produzido por volta dos 500 000 anos, nos nossos antepassados Homo erectus, hominídeos em que o cérebro era, nesse tempo, notoriamente menos volumoso e provavelmente menos potente e menos dotado de abstração. Mas nessa época, uma mutação totalmente aleatória terá substituído, na dupla hélice do ADN, num dos seus longínquos avós, uma base azotada de tipo C por uma base G. Um micro acontecimento que provocou uma reação em cadeia. Isto porque, devido a esta alteração, um trio de bases C, T, A terá sido substituído pela sequência G, T, A. Ora este tripleto é interpretado pela maquinaria de transcrição do ADN das células como um sinal de corte. Por outras palavras, o ARN mensageiro transcrito do gene em causa (ARHGAP11A) foi amputado em 55 nucleótidos em relação à sua versão original. Daí a produção de uma proteína com funções profundamente modificadas.
     Julgue por si: enquanto a proteína dos nossos antepassados Homo erectus regulava o crescimento de filamentos de actina nos neurónios - os constituintes do esqueleto interno das células -, a versão sapiens estimulou a divisão dos neurónios a partir das células mães, ditas progenitoras, em certas zonas cruciais do cérebro, os ventríloquos. Isto teve como consequência uma produção muito maior de neurónios. Resultado: nos nossos cérebros modernos, as células progenitoras dividem-se a um ritmo acrescido, dando nascimento a jovens neurónios que em seguida migram dos ventríloquos para a periferia do cérebro, contribuindo para o crescimento do cortex, o qual, à força de se estender, é obrigado a dobrar-se em pregas para se manter de forma compacta no interior da caixa craniana, adotando o seu aspeto pregueado característico do cérebro humano.
    Verificou-se que, ao transferir esta versão mutante do gene em ratos, a equipa de Svante Pääbo constatou que o cérebro destes roedores produzia neurónios a um ritmo superior da sua taxa habitual.
     Assim, talvez tenha sido suficiente uma mudança pontual numa única ligação do ADN para transformar o cérebro do Homo sapiens. Esta mudança foi provavelmente um erro, uma falha nos mecanismos de replicação do ADN num Homo erectus anónimo e do qual nunca saberemos se viveu na África Ocidental, na Ásia ou na Europa e que é o pai dos seres humanos dotados de cérebros modernos. Mas este erro impôs-se e revelou-se uma vantagem evolutiva real.  
                   
Fonte: Pour la Science - março 2017 - n.º 473, p. 8 - Sébastian Bohler (adaptado)  



Alterar as unidades de medição


     O Sistema Internacional (SI) é adotado oficialmente pela maior parte dos países (as três exceções são a Birmânia, a Libéria e os E.U.A.). Este sistema está baseado em sete unidades de medição, a partir das quais se definem 22 outras unidades (tais como o newton, o joule, o tesla, o volt, o pascal, etc.). Em 2018 o Comité Internacional dos Pesos e Medidas irá redefinir quatro destas unidades base. Os valores de quatro constantes da natureza ( a constante de Planck h, o campo elétrico elementar e, a constante de Boltzmann Kb e o número de Avogadro NA) serão fixadas com maior precisão com o objetivo de dar uma nova definição do quilograma, do ampere, do kelvin e da mole. O metro, o segundo e a candela não irão mudar de definição, pelo menos num futuro próximo.
     Estas são as unidades que não mudarão de definição:
Metro (m) - medida de comprimento. Definição atual 1983. Na Conferência geral dos pesos e medidas foi definida a velocidade da luz como sendo igual a 299 792 458 metros por segundo. O metro é assim a distância percorrida pela luz no vazio em 1/299 792 458 do segundo. No passado, quando a Academia das Ciências Francesa propôs o sistema métrico em 1791, o metro foi definido como 1/10 000 000 da metade do meridiano que liga o pólo Norte ao pólo Sul, passando por Paris.
Segundo (s) - medida de tempo. Definição atual 1967. O segundo é a duração de 9 192 631 770 períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis hiper-finos do estado fundamental do átomo de césio 133. A definição original do segundo era 1/86 400 do dia solar terrestre médio.
Candela (cd) - medida da intensidade luminosa. Definição atual 1979. A candela é a intensidade luminosa, numa direção dada, de uma fonte que emite uma radiação monocromática com um comprimento de onda de 555 nanómetros e em que a intensidade energética, nessa direção, é de 1/683 do watt por estarradiano. Na prática, no caso de uma fonte emitindo em várias frequências, utiliza-se funções de ponderação descrevendo a sensibilidade espetral relativa do olho humano. No início do século XX, a candela era definida a partir da intensidade luminosa de uma lâmpada com filamento de carbono. Em 1933, a definição foi melhorada, ao referir-se à radiação de um corpo negro.
     Estas são as unidades que vão ser redefinidas:
Quilograma (Kg) - medida de massa. Definição atual 1889. O quilograma é definido a partir do Grande K, um cilindro de platina iridizada, conservado no BIPM, em Sèvres. A redefinição está programada para 2018 e estará ligada à constante de Planck, que surgiu da teoria quântica e que precisa, por exemplo, a quantidade de energia que transporta um fotão, a partícula da luz. Ao fixar o valor numérico da constante de Planck, os metrólogos definirão o quilograma.
Ampere (A) - medida da corrente elétrica. Definição atual 1946. Um ampere é a intensidade de uma corrente constante que, se se mantiver em dois condutores lineares e paralelos, de comprimentos infinitos, de secções negligenciáveis e distanciados de um metro no vazio, produz entre esses dois condutores uma força linear igual a 2x10-7 newtons por metro. Na prática, esta definição não é reprodutível de forma exata em laboratório. Ao fixar o valor numérico da carga elementar e (à volta de 1,6x10-19 ampere-segundo ou coulomb), o ampere será redefinido como um fluxo de cargas elementares por segundo. Poder-se-á também redefinir as unidades de tensão e de resistência via as constantes de Josephson e de von Klitzing, que depende de e e da constante de Planck.
Kelvin (K) - medida de temperatura. Definição atual 1967. O Kelvin é igual a 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água (onde coexistem as fases sólida, líquida e gasosa). Na prática, esta definição cria incertezas importantes para temperaturas baixas (inferiores a 20 kelvins) ou elevadas (superiores a 1300 kelvins). O kelvin será definido fixando o valor da constante de Boltzmann, igual a cerca de 1,38065x10-23 joules por kelvin. A constante de Boltzmann liga a energia cinética média das moléculas de um gás à temperatura do gás.
Mole (mol) - medida da quantidade de uma substância dada. Definição atual 1971. A mole é a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares (átomos, moléculas, etc.) quanto os átomos em 0,012 quilogramas de carbono 12. Este número, igual a cerca 6,02214x1023, define o número de Avogadro, que depende da definição do quilograma. A mole será definida fixando o número de Avogadro.  
        
Fonte: Pour la Science - março 2017 - n.º 473, pp. 66-67 - Tim Folger (adaptado) 

O que posso observar no céu de março?



3 - Lua no perigeu - 08:00
14 - Júpiter a 2ºS da Lua - 20:00
18 - Lua no apogeu - 17:00
20 - Equinócio: início da Primavera - 10:00
30 - Lua no perigeu - 14:00
20 - Lua a 4ºN de Saturno - 23:00
28 - Lua a 10ºS de Vénus - 20:00









Fases da Lua em março


28 - às 03h 57min - nova

5 - às 11h 32min - crescente

12 - às 14h 54min - cheia

  20 - às 15h 58min - minguante









Planetas visíveis a olho nu em março

MERCÚRIO - Poderá ser visto somente próximo do horizonte, a leste, antes do nascimento do Sol ou a oeste, depois do ocaso do Sol. Será visível, de tarde, por volta do instante do fim do crepúsculo civil, a partir de 16 de março. O planeta apresentar-se-á mais brilhante no fim deste período.

VÉNUS - Poderá ser facilmente identificado pelo seu grande brilho. Aparecerá como estrela da tarde até à segunda metade de março. Depois, reaparecerá em finais de março como estrela da tarde.

MARTE - Só pode ser visto no céu à noite até início de junho, encontrado-se na constelação de Carneiro. A tonalidade avermelhada de Marte auxiliará a sua identificação.

JÚPITER - Pode ser visto na constelação de Virgem durante grande parte da noite.

SATURNO Encontra-se na constelação de Sagitário e só pode ser visto ao amanhecer até meados de março


Fonte: Observatório Astronómico de Lisboa 




(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
DataMagnitudeInícioPonto mais altoFimTipo da passagem
(mag)HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.HoraAlt.Az.
1-3-1,406:27:0710°SSO06:30:0331°SE06:33:0110°ENEvisível
2-3-0,505:35:3010°S05:37:3916°SE05:39:4910°Evisível
3-3-3,206:17:5710°SO06:21:1377°SE06:24:3110°ENEvisível
4-3-2,105:27:3528°S05:28:4138°SE05:31:4710°ENEvisível
5-3-0,504:37:2717°ESE04:37:2717°ESE04:38:4310°Evisível
5-3-2,906:10:0616°OSO06:12:2847°NNO06:15:4110°NEvisível
6-3-3,505:19:4986°NNO05:19:4986°NNO05:23:0710°NEvisível
7-3-0,404:29:2618°ENE04:29:2618°ENE04:30:2410°ENEvisível
7-3-1,906:02:0417°ONO06:03:4926°NNO06:06:4010°NEvisível
8-3-2,305:11:3436°N05:11:3436°N05:14:1010°NEvisível
9-3-0,104:21:0014°NE04:21:0014°NE04:21:3610°NEvisível
9-3-1,305:53:3814°NO05:55:1218°NNO05:57:3510°NNEvisível

     
Como usar esta grelha:


Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.

Fonte: http://www.heavens-above.com/




Vídeo do Mês













Humanos - Vol. 3 - versão original 


Imagem do Mês



NGC 3621: Muito além do Grupo Local


    Muito para além do grupo local de galáxias fica a NGC 3621, a cerca de 22 milhões de anos-luz de distância. Encontra-se na constelação Hidra, localizada no céu do sul, e os braços enrolados deste fantástico universo ilha estão rodeados de luminosos enxames de estrelas azuis, regiões rosadas de formação de estrelas e linhas escuras de poeira. Apesar disso, para os astrónomos, a NGC 3621 não é apenas uma outra cara bonita de uma galáxia espiral. Algumas destas estrelas brilhantes têm sido usadas como faróis para estabelecerem importantes estimativas de distâncias extra-galáticas e da escala do Universo. Esta bela imagem da NGC 3621 é uma foto compósita de dados de telescópios espaciais e terrestres. Ela mostra os braços soltos, muito afastados, da brilhante região central da galáxia, com um comprimento de mais de 100 000 anos-luz. Pode-se ver em primeiro plano estrelas da nossa galáxia, a Via Láctea, e ainda galáxias mais distantes, encontram-se espalhadas ao longo desta imagem colorida do céu.  

Fonte: www.nasa.gov

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