Julho 2025
Julho de 2025
O planeta que tem o seu próprio plano
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O planeta 2M1510(AB)b tem uma órbita num plano perpendicular à das duas estrelas anãs castanhas do sistema 2M1510. |
Um planeta a orbitar duas estrelas? Poderá ser este o cenário de mais um filme Star Wars? Tais sistemas já não são um exclusivo da ficção científica e estão agora em 16º lugar nos catálogos dos astrofísicos caçadores de exoplanetas. Mas este sistema, denominado 2M1510, apresenta uma configuração única: um planeta, denominado 2M1510(AB)b, orbita perpendicularmente ao plano formado por um par de estrelas anãs castanhas que, por sua vez, se orbitam uma em relação à outra. A equipa de Thomas Baycroft, da Universidade de Birmingham, Reino Unido, revelou a existência deste planeta com uma trajetória polar circumbinária, ao observar o sistema 2M1510 com o Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul, no Chile. Os astrofísicos observaram que o sistema binário exibia precessão retrógrada: o eixo comum das duas elipses, desenhadas pelas duas estrelas, estava atrasado em 343 ± 126 segundos de arco por ano. Esta alteração indicava a presença de um terceiro corpo a orbitar o sistema, e o facto de ser negativa intrigou-os. De um modo geral, um planeta circumbinário orbita no mesmo plano que os seus dois hospedeiros, induzindo, normalmente, uma mudança positiva. Depois de explorarem várias formas de explicar a mudança negativa, os investigadores concluíram que, para a explicar, precisavam de incluir a presença de um planeta numa órbita polar — perpendicular à das duas estrelas! A génese de uma configuração tão exótica, que também é difícil de detetar, ainda tem de ser compreendida. Para os astrofísicos, esta descoberta sugere que outros sistemas semelhantes podem ter passado despercebidos. A procura por exoplanetas circumbinários polares está aberta!
Fonte: Pour la Science, n.º 573, julho de 2025, p. 9
Louise Le Ridant (adaptado)
Ciclo de Krebs: terá uma origem espacial?
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A nebulosa NGC 1333 contem gelos estelares. Estes possuem moléculas propícias à formação de moléculas orgânicas, como as que estão implicadas no ciclo de Krebs. |
Os investigadores fornecem evidências da formação, no espaço, de moléculas orgânicas ligadas a este ciclo metabólico.
Como surgiu a vida na Terra? Os especialistas ainda não têm uma resposta para esta questão fundamental e difícil. Em particular, as moléculas envolvidas na síntese de ADN, ARN ou metabolismo foram formadas a partir de processos químicos abióticos na Terra ou, acima de nós, no meio interestelar, antes de serem trazidas para o nosso planeta por impactos de meteoritos? No caso da formação de moléculas metabólicas chave, os cenários teóricos estudados até agora, exigiam condições bastante específicas, como temperaturas elevadas ou um ambiente altamente oxidante. Mas, contra todas as expectativas, as análises de amostras, nomeadamente do meteorito Murchison, revelaram a presença de compostos orgânicos envolvidos no ciclo de Krebs.
Este processo metabólico, também chamado de "ciclo do ácido cítrico", é essencial para a respiração aeróbia celular. A partir da decomposição da glicose, produz a maior parte da energia necessária às células. Esta via metabólica é decomposta em oito reações enzimáticas que produzem nove moléculas orgânicas intermédias. A ubiquidade deste ciclo nos organismos vivos sugere que este processo surgiu muito cedo na evolução. Mas, embora estas moléculas se pudessem ter formado no espaço, os mecanismos pelos quais isso ocorreu ainda têm de ser compreendidos. Para as identificar, Cornelia Meinert, do Instituto de Química de Nice, e os seus colegas reproduziram experimentalmente as condições espaciais numa câmara artificial e observaram a síntese das moléculas envolvidas no ciclo de Krebs.
A análise da composição do meteorito Murchison fornece pistas sobre as condições de formação destas moléculas: este corpo contém nanopartículas cobertas por gelo irradiado por raios cósmicos galácticos. Este gelo é rico em moléculas que, quando expostas aos raios cósmicos, poderão dar origem aos compostos orgânicos intermédios do ciclo de Krebs. Este é o cenário que Cornelia Meinert e os seus colegas testaram, reproduzindo no seu laboratório as condições físico-químicas de uma nuvem molecular (constituída por gás e poeira) com mais de 10 milhões de anos. A uma temperatura de -263°C (10 graus acima do zero absoluto) e em alto vácuo, expuseram o gelo, que contém os mesmos compostos moleculares que o gelo interestelar, a um fluxo de eletrões que imita os raios cósmicos. De seguida, para reproduzir as condições de formação de objetos interestelares como o meteorito Murchison, aumentaram gradualmente a temperatura até aos 27°C. Os resíduos extraídos e analisados revelaram a síntese de todos os complexos orgânicos que compõem o ciclo de Krebs. Os investigadores detalharam todas as reações que ocorrem neste ambiente para produzir esta diversidade de moléculas.
Este resultado marca um avanço na compreensão da síntese abiótica de moléculas complexas no meio interestelar, mas também levanta algumas questões, pois mesmo se todas estas moléculas estiverem presentes, como e quando o ciclo metabólico começou na Terra?
Fonte: Pour la Science, n.º 573, julho 2025 - p. 10
Louise Le Ridant (adaptado)
Breves de julho
Uma história digna de um filme de terror... A maioria das lagartas de borboletas é herbívora, mas 0,13% delas são carnívoras. Na ilha de Oahu, no Havai, uma lagarta do género Hyposmocoma vive em teias de aranha, onde se alimenta dos restos mortais das vítimas do seu hospedeiro. E para escapar à vigilância deste último, a lagarta adorna o seu corpo com certas partes não comestíveis das suas refeições (ver imagem). Daniel Rubinoff, da Universidade do Havai, e os seus colegas apenas registaram 62 indivíduos desta espécie, em mais de 22 anos.
Titã é o único outro mundo do Sistema Solar onde existem rios ativos. Chloé Daudon, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, e os seus colegas, quiseram mostrar que certas relações geométricas, nomeadamente as dependentes da largura e da inclinação, que se aplicam a todos os rios da Terra, também descrevem os rios de metano na lua de Saturno. Utilizando estas fórmulas com os dados da sonda Cassini-Huygens, os cientistas planetários estimaram os caudais dos rios em Titã e a precipitação que os alimenta, e confirmaram a boa concordância com os modelos climáticos. Estas leis geométricas seriam, portanto, universais!
No LHC, a experiência Alice é especializada no estudo de plasmas de quarks e gluões produzidos durante a colisão de núcleos de chumbo. Mas, na maioria das vezes, os núcleos escapam a uma colisão frontal e apenas roçam uns nos outros. No entanto, o campo eletromagnético de cada projétil é tão intenso que pode induzir reações de "transmutação nuclear" no outro núcleo. Os físicos detectaram, assim, a assinatura, durante colisões falhadas, da produção de diferentes isótopos de chumbo, tálio, mercúrio e ouro!
Fonte: Pour la Science, n.º 573 - julho 2025
O que posso observar no céu de julho?
2 - Lua a 1,3ºS de Spica - 23:23
5 - Lua no apogeu a 406 481 Km da Terra - 03:28
10 - Auge da chuva de meteoros Pegasídeos de julho
20 - Lua no perigeu a 365 335 Km da Terra - 14:52
23 - Lua a 1,8ºN de Júpiter - 06:10
28- Auge da chuva de meteoros gama-Dracónidas de julho
28 - Lua a 1,9ºS de Marte - 20:45
31- Auge da chuva de meteoros delta-Aquáridas do Sul
31 - Auge da chuva de meteoros alfa-Capricornídeos
Fases da Lua em julho
24 - às 20h 11min - nova
02 - às 20h 30min - crescente
02 - às 20h 30min - crescente
10 - às 21h 37min - cheia
18 - às 01h 38min - minguante
Planetas visíveis a olho nu em julho
MERCÚRIO - Neste mês é de difícil observação. Aparece brevemente no céu a noroeste, próximo ao horizonte durante o crepúsculo. Encontra-se na constelação de Caranguejo.
VÉNUS - Pode ser visto no céu matinal a leste, nas constelações de Touro e Gémeos.
MARTE - Pode ser visto a oeste ao entardecer. Ao longo do mês vai gradualmente pôr-se mais cedo. Encontra-se nas constelações de Leão e Virgem.
JÚPITER - Pode ser avistado a nordeste ao amanhecer, cerca de uma hora antes do nascer do Sol, entre o meio e o fim de julho. Encontra-se na constelação de Peixes.
SATURNO - Pode ser avistado para sudeste antes do amanhecer.
Fonte: APP Sky Tonight
(para localizações aproximadas de 41.1756ºN, 8.5493ºW)
Data | Magnitude | Início | Ponto mais alto | Fim | Tipo da passagem | ||||||
(mag) | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | Hora | Alt. | Az. | ||
1-7 | -2,1 | 02:41:22 | 32° | NNO | 02:41:22 | 32° | NNO | 02:44:21 | 10° | NE | visível |
1-7 | -0,8 | 04:16:52 | 10° | NO | 04:18:48 | 14° | N | 04:20:45 | 10° | NNE | visível |
2-7 | -1,7 | 01:54:03 | 26° | NNE | 01:54:03 | 26° | NNE | 01:55:47 | 10° | NE | visível |
2-7 | -0,9 | 03:27:41 | 10° | NO | 03:29:52 | 16° | NNO | 03:32:03 | 10° | NNE | visível |
2-7 | -0,8 | 05:05:32 | 10° | NNO | 05:07:37 | 15° | N | 05:09:41 | 10° | NE | visível |
3-7 | -1,0 | 01:06:38 | 14° | NE | 01:06:38 | 14° | NE | 01:07:09 | 10° | NE | visível |
3-7 | -1,2 | 02:39:29 | 15° | NO | 02:40:57 | 19° | NNO | 02:43:27 | 10° | NNE | visível |
3-7 | -0,7 | 04:16:47 | 10° | NNO | 04:18:39 | 14° | N | 04:20:31 | 10° | NE | visível |
4-7 | -1,5 | 01:51:53 | 24° | NNO | 01:52:03 | 24° | NNO | 01:54:53 | 10° | NE | visível |
4-7 | -0,6 | 03:27:50 | 10° | NO | 03:29:41 | 14° | N | 03:31:31 | 10° | NNE | visível |
4-7 | -1,0 | 05:04:42 | 10° | NNO | 05:07:20 | 21° | NNE | 05:09:59 | 10° | ENE | visível |
5-7 | -1,8 | 01:04:02 | 29° | N | 01:04:02 | 29° | N | 01:06:18 | 10° | NE | visível |
5-7 | -0,6 | 02:38:43 | 10° | NO | 02:40:41 | 15° | N | 02:42:40 | 10° | NNE | visível |
5-7 | -0,7 | 04:16:06 | 10° | NNO | 04:18:25 | 17° | NNE | 04:20:44 | 10° | ENE | visível |
6-7 | -2,4 | 00:15:26 | 35° | NNE | 00:15:26 | 35° | NNE | 00:17:41 | 10° | NE | visível |
6-7 | -0,7 | 01:49:28 | 10° | NO | 01:51:42 | 16° | NNO | 01:53:57 | 10° | NNE | visível |
6-7 | -0,5 | 03:27:25 | 10° | NNO | 03:29:27 | 15° | N | 03:31:28 | 10° | NE | visível |
6-7 | -2,0 | 05:03:44 | 10° | NO | 05:06:53 | 36° | NNE | 05:10:02 | 10° | E | visível |
6-7 | -1,7 | 21:48:45 | 10° | SE | 21:49:25 | 10° | SE | 21:50:04 | 10° | ESE | visível |
6-7 | -3,9 | 23:22:18 | 10° | SO | 23:25:38 | 88° | NO | 23:28:59 | 10° | NE | visível |
7-7 | -1,0 | 01:00:11 | 10° | ONO | 01:02:45 | 20° | NNO | 01:05:18 | 10° | NNE | visível |
7-7 | -0,4 | 02:38:35 | 10° | NNO | 02:40:26 | 14° | N | 02:42:16 | 10° | NE | visível |
7-7 | -1,4 | 04:15:08 | 10° | NO | 04:18:01 | 26° | NNE | 04:20:54 | 10° | E | visível |
7-7 | -3,7 | 22:33:41 | 10° | SO | 22:36:56 | 52° | SE | 22:40:12 | 10° | ENE | visível |
8-7 | -1,4 | 00:10:57 | 10° | O | 00:13:49 | 26° | NNO | 00:16:42 | 10° | NE | visível |
8-7 | -0,4 | 01:49:34 | 10° | NO | 01:51:24 | 14° | N | 01:53:15 | 10° | NNE | visível |
8-7 | -0,9 | 03:26:31 | 10° | NNO | 03:29:06 | 20° | NNE | 03:31:40 | 10° | ENE | visível |
8-7 | -3,8 | 05:02:50 | 10° | NO | 05:06:12 | 89° | NE | 05:09:32 | 10° | SE | visível |
8-7 | -2,9 | 21:45:21 | 10° | SSO | 21:48:17 | 29° | SE | 21:51:13 | 10° | ENE | visível |
8-7 | -2,1 | 23:21:48 | 10° | O | 23:24:55 | 36° | NNO | 23:28:04 | 10° | NE | visível |
9-7 | -0,5 | 01:00:22 | 10° | NO | 01:02:22 | 15° | N | 01:04:24 | 10° | NNE | visível |
9-7 | -0,6 | 02:37:52 | 10° | NNO | 02:40:07 | 17° | NNE | 02:42:21 | 10° | NE | visível |
9-7 | -2,9 | 04:14:07 | 10° | NO | 04:17:24 | 52° | NNE | 04:20:42 | 10° | ESE | visível |
9-7 | -3,1 | 22:32:48 | 10° | OSO | 22:36:05 | 57° | NNO | 22:39:24 | 10° | NE | visível |
10-7 | -0,7 | 00:11:03 | 10° | ONO | 00:13:21 | 17° | NNO | 00:15:39 | 10° | NNE | visível |
10-7 | -0,5 | 01:49:06 | 10° | NNO | 01:51:05 | 15° | N | 01:53:04 | 10° | NE | visível |
10-7 | -2,0 | 03:25:27 | 10° | NO | 03:28:33 | 34° | NNE | 03:31:39 | 10° | E | visível |
10-7 | -3,1 | 05:02:13 | 10° | ONO | 05:05:15 | 31° | SO | 05:08:15 | 10° | SSE | visível |
10-7 | -3,8 | 21:43:58 | 10° | SO | 21:47:18 | 84° | SE | 21:50:39 | 10° | NE | visível |
10-7 | -1,0 | 23:21:44 | 10° | ONO | 23:24:22 | 21° | NNO | 23:26:59 | 10° | NNE | visível |
Como usar esta grelha:
Coluna Data - data da passagem da Estação;
Coluna Brilho/Luminosidade (magnitude) - Luminosidade da Estação (quanto mais negativo for o número maior é o brilho);
Coluna Hora - hora de início, do ponto mais alto e do fim da passagem;
Coluna Altitude - altitude medida em graus tendo o horizonte como ponto de partida 0º;
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Coluna Azimute - a direção da Estação tendo o Norte geográfico como ponto de partida.
Fonte: http://www.heavens-above.com/
Fonte: www.nasa.gov
Vídeo do Mês
A Terra bola de neve
(Quando necessário, para ativar as legendas automáticas proceder do seguinte modo: no canto inferior direito clicar no símbolo "roda dentada"; abrem-se as Definições; clicar aí e escolher Legendas; depois clicar em Traduzir Automaticamente; finalmente escolher Português na lista.)
Imagem do Mês
O outro lado da Lua
Bloqueada por efeito de maré em rotação síncrona, a Lua apresenta sempre o mesmo lado próximo e familiar aos habitantes do planeta Terra. No entanto, a partir da órbita lunar, o lado oculto da Lua pode tornar-se familiar. Na verdade, esta nítida imagem, obtida pela câmara grande angular do Lunar Reconnaissance Orbiter, está centrada no lado oculto lunar. Parte de um mosaico global de mais de 15.000 imagens obtidas entre novembro de 2009 e fevereiro de 2011. Esta versão, com a maior resolução, mostra as características da Lua numa escala de 100 metros por pixel. Surpreendentemente, a superfície áspera e maltratada do lado oculto parece muito diferente do lado visível coberto com poeira lunar escura e lisa. Uma explicação para esta diferença é, provavelmente, que a crosta do outro lado é mais espessa, tornando mais difícil para o material fundido do interior fluir para a superfície, formando a conhecida base escura e lisa.
Livro do Mês
Sinopse
Fernando Venâncio conta-nos a história da língua portuguesa com paixão, elegância e um fino humor. Com rigor e precisão de paleontólogo, Fernando Venâncio começa no primeiro gemido da nossa língua, que remonta há séculos, tão distantes que Portugal ainda nem existia, passando pelos primeiros escritos, até à fala contemporânea que ainda hoje conserva registos, em estado fóssil, dessa movimentação primordial. Máquina do tempo que nos permite recuar à época em que o idioma se formou, "Assim Nasceu Uma Língua" faz-nos peregrinos numa caminhada que toca a língua galega ou o português brasileiro, evidenciando as profundas derivas que deram forma ao nosso idioma, a que Fernando Venâncio chama «um idioma em circuito aberto».
Sobre o autor:
Fernando Venâncio ((18 de novembro de 1944, Mértola – 30 de maio de 2025, Mértola) inaugurou a sua carreira linguística aos dois anos, quando passou do aconchego alentejano para a capital, extasiando-se com os modos de exprimir-se dos lisboetas. Aos dez anos, novo êxtase o esperava, agora em Braga, essa herdeira do território criador do idioma, e orgulhosa disso até à intolerância. Em 1970, quando Portugal se tinha tornado num fascinante mapa de falares, sotaques e soluções gramaticais, vai instalar-se num mundo inteiramente outro, o de língua neerlandesa. Aí se forma, em Amesterdão, em Linguística Geral, iniciando também a docência universitária em língua e cultura portuguesas: primeiro em Nimega, depois em Utreque, finalmente, e de novo, na capital holandesa. Nunca deixaram de inquietá-lo as formas e as estruturas da sua língua materna, e também os processos históricos na origem delas.
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